A chuvinha melancólica de hoje me leva à estrada
retrospectiva deste ano. A revolta das águas
em janeiro feriu a região serrana do Estado do Rio de Janeiro e, há pouco,
atingiu mais uma vez o Sul do Brasil e diversas cidades de Minas Gerais. E a
chuva continua a tocar sua guitarra insensível (veja esse meu poema
georgeharrisoniano no link: http://diariosdesolidao.blogspot.com/2011/09/george-harrison-e-eu-enquanto-chuva.html), a chuva não traz mais alívio imediato... Em razão
do aniversário de Humberto Gessinger no dia 24 de dezembro, minha namorada,
fanática pelas composições desse artista gaúcho, ouviu incessantemente as
canções dele com a banda Engenheiros do Hawaí e, atualmente, com o Pouca Vogal.
As melodias de Gessinger e Leindecker foram seduzindo meus ouvidos e, somadas à
chuva que cai esporadicamente, me fizeram compor o “Verse essa canção” de hoje
inspirado na música “Depois da curva”, hit do duo Pouca
Vogal (por sinal, a agenda de shows do grupo neste ano privilegiou a região Sul
e cidades de Minas Gerais – ambas as regiões, alvos de chuvas ferozes e insistentes).
A canção original vale a pena ouvir, por isso
deixo-lhes um vídeo e o link do Pouca Vogal, pra quem não conhece esse ótimo projeto musical de Gessinger e Leindecker: http://www.poucavogal.com.br/. Na minha releitura da canção, um eu lírico
tenta aliviar o desespero de um desabrigado pela chuva (como Virgílio guiando Dante no Purgatório na "Divina Comédia"), levando-o pra além da
curva da fatalidade crua, pra mais perto da esperança e poesia, elementos
(quase sempre) mais sãos e menos cruéis que a ferocidade insanamente mortífera
da vida real. Espero que gostem, espero que a chuva, pelo menos, diminua os acordes
apocalípticos de sua guitarra insensível.
amanhã, talvez
esse vendaval faça algum sentido
dá pra se dizer
qualquer coisa sobre todo mundo
Ele pisa sobre as ruínas com um estranho sorriso. Enlouquecera?
Talvez, talvez a loucura dê sentido pra falta de sentido. O vendaval de outrora
é apenas uma brisa reflexiva que desliza em seu rosto de agora. Penso que sua
loucura é uma esperança insana e bonita; posso ver e dizer qualquer coisa sobre
ele, agora que seus olhos só olham pro novo horizonte, pra além do antigo
universo destruído.
por hoje é só
vou deixar passar a ventania
talvez amanhã
vento, vela e velocidade
Mais uma vez a brisa suaviza a tristeza em seu estranho
sorriso (a ventania levou suas alegrias sãs). Por qualquer motivo, seus olhos marejados
velejam nos relevos de uma velha praia invisível, acessível na certeza
esperança de um amanhã impossível de prever. Veloz, meus versos veleiros o visualizam
no vento vil do volátil talvez...
mar azul
céu azul sem nuvens
logo ali… depois da curva
ali, logo ali, ali… depois da curva
E, depois da destruição, tudo é azul, cruelmente blues, o
rosto dele se curva pra além da estrada, como se lá fosse ali, como se a
travessia do purgatório sempre levasse ao alívio impossível. Absorvido por sua
esperança azul, eu sigo seus olhos curvados e tento acompanhá-lo pra além do
precipício. Me aproximo...
amanhã talvez
esse temporal saia do caminho
dá pra escrever
o papel aceita toda qualquer coisa
E, nos meus versos, o papel resiste ao temporal que o
destrói. No meu papel, ele encontrará um novo caminho, um paraíso perdido que a
chuva não corrói.
por hoje é só
vou deixar passar a tempestade
talvez amanhã
água pura e toda verdade
Ao seu lado, sinto a solidão que chove em seus olhos feridos
pelo temporal. Ao seu lado, eu espero que a tempestade acabe e que o amanhã
traga uma água menos suja e menos irreal.
mar azul
céu azul sem nuvens
logo ali… depois da curva
ali, logo ali, ali… depois da curva
E, ao seu lado, agora eu também vejo um sorriso além da
estrada triste e nossa insanidade desobstrui as pedras cruas que machucam a
curva; sim, vamos atravessar!...
ali, logo ali, ali… depois da curva
ali, logo ali
eu vi, eu vim, venci a curva
Estamos passando, sobrevivente da chuva, e a insanidade é a
senha da sã salvação. Além das ruínas, depois das tristezas do temporal,
passamos as pedras, só mais um salto lírico, louco companheiro, e sua nova casa
está aqui, nós a encontramos, além da realidade turva, no azul sem blues da
poética loucura. Utópicos, vencemos a curva e ali está ele sentado no sofá de sonhos,
sem dor, salvo da total destruição. Ali está ele sorrindo feliz nos meus versos
de ilusão...
kkkkkkkkkkkkkk, não diga que o copiei, não será verdade, pois postei algo antes de ler o seu blog, não é poético como o seu, mas bem semelhante no conteúdo. Acho que não será somente nos dois que pensamos em algo assim, tem um monte de loucos como nós dois rsrsrsrs
ResponderExcluir