Hoje o sol retorna aos nossos céus e seca o mar de leite
azedo de meu tradicional mau humor com nossa (des)humanidade. Assim como o astro rei
retoma seu trono no reino celeste, retomo os poemas georgeharrisonianos. A
canção vítima de minha (sub)versão poética é a admirável "Sour Milk
Sea", composição com a qual George Harrison presenteou seu amigo músico de
Liverpool Jackie Lomax. A letra original sugere aos seus ouvintes que eles
saiam da estagnação e abandonem esse “mar de leite azedo” no qual vivem. Na
minha releitura, esse mar é substituído por um grande amor fora de si, que, ao
contrário do mal citado na composição original, ele é um bem que deve ser
mantido para a insustentável sustentabilidade de um casal, ou seja, na minha
versão, a canção fala sobre as contradições comuns de dois diferentes se
fazerem um e o paraíso infernal do amor a dois.
Amor fora
de si
Eu lhe trago o mundo inteiro, mas não a satisfaço;
Ela prefere o Fluminense e eu torço pro Vasco;
Quando começo a jogar, descubro que ela já ganhou;
Se lhe mostro o azul, ela já trocou de cor!
Ela é o meu grande amor fora de si,
Se estou perto, me quer longe...
Ninguém sabe o quanto eu já sofri
Pra viver nesse lindo horizonte.
Se ela me mostra novas roupas, eu prefiro o nu;
Se ela fica à vontade, eu desconfio de tudo;
Se ela declara seu amor, eu finjo não crer;
O simples são coisas difíceis de se entender.
Eu sou seu grande amor fora de si,
Ela chega perto, estou longe...
Ninguém sabe o quanto ela me sorri
Pra eu não me sentir distante.
E, ainda assim, somos felizes na limitação;
Sofremos muito bem essa louca iluminação
E ninguém consegue apagar essa nossa luz,
Seguiríamos tristes sem essa nossa cruz.
Somos dois em um grande amor fora de si,
Não nos suportaríamos longe...
Ninguém sabe o quanto seria infeliz
Se ficássemos sempre distantes.
Mas esse tipo de amor tensionado é perfeito. Tão bom não ter chão sempre, não ter certeza de nada, nunca contar com o prosaico.
ResponderExcluirLendo a poesia me lembrei da amizade entre Goethe e Schiller, quando este morreu, Goethe afirma algo como rebentou-se o fio que movia e impelia minha obra ser melhor (Schiller era um crítico ferroz, adversário mais que presente)
Outra que lembro nesse limiar tenso é de Amy Winehouse com sua conturbada paixão por seu marido, não conseguia conviver com, menos ainda viver sem.
Afinal de contas, AMOR É FALTA, EROS é filho da penúria, sempre haverá falta.