segunda-feira, 12 de setembro de 2011

George Harrison e eu: Enquanto a chuva toca sua guitarra insensível

Hoje faz 8 meses desde o triste episódio das trágicas chuvas em Teresópolis/RJ.  Passava férias em Valença/RJ, mas metade de mim estava nos destroços deixados pelas chuvas na região serrana. Andando pela cidade, ainda se pode ver que as feridas deixadas pela catástrofe não foram cicatrizadas - a lama seca empoeira nossas lembranças de dor e medo. 
Vejo as notícias da atualidade e percebo que a chuva agora toca sua guitarra insensível mais uma vez no Estado de Santa Catarina - a natureza indiscriminadamente atinge nossas cidades com sua fúria celeste diante de nossos pecados ecológicos e de nossa política desumana de despreparo pra velhos problemas emergenciais (todo ano, as mesmas chuvas, as mesmas enchentes, a mesma inconsciência ecológica e a mesma falta de estrutura pra suportar os ataques naturais... até quando?). No dia 13 de janeiro de 2011, quando compus a (sub)versão abaixo, George Harrison não me sorriu da forma gentil como eu estava acostumado... Assim perdi alguns alunos e a E. M. Nadir Veiga, onde eu trabalhava, foi alagada e parcialmente destruída, George Harrison teve algumas de suas composições negadas no álbum branco dos Beatles (1968); meus eus líricos seguem na banda, mas insatisfeitos com seus rumos. Versão de "While My Guitar Gently Weeps", sem motivo pra sorrir:

Enquanto a chuva toca sua guitarra insensível

Eu ouço o trovão da morte sobre o corpo caído,
Enquanto a chuva toca sua guitarra insensível.
Eu ouço em cada pingo o som abafado de um grito,
E, contínua, a chuva toca sua guitarra insensível.

São tantos ais, ninguém te lembrou
De que a terra se move...
São tantos ais e alguém te encontrou
Muito além do solo frio...

Eu ouço aquele morro deslizar, ele está vindo, 
É assim que a chuva toca sua guitarra insensível.
Novamente, a tevê mostrou vidas partindo,
E, promíscua, a chuva ainda toca sua guitarra insensível.

E ninguém vai me dizer o que não entende
Por que Deus também te levou
E alguém vai morrer em mim sempre
Porque o que chove é dor

Eu ouço todo mal circulando, invencível,
Enquanto a chuva toca sua guitarra insensível.
Eu estou mal
E, assim, minha chuva chora outra guitarra, inaudível.




Versão exclusiva em vídeo do poema interpretado pelo ator Luan Barros (que, coincidentemente, faz aniversário hoje) na Noite de autógrafos do livro "Diários de solidão" em Rio das Flores/RJ.

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