domingo, 15 de novembro de 2020

Crônicas crônicas eleitorais: O voto inútil

É a segunda eleição consecutiva que vou para votar com a alma já derrotada. Sei – infelizmente sei e considero que seria mais infelizmente não saber (é a única forma de conforto para me manter menos doente e ainda consciente) – quais são os jogos tenebrosos recentes de poder (se já não eram, em minhas fases de maior inocência num cenário em que crises não flertavam tanto com o animalesco instinto homicida-suicida humano) e sinto úlceras ancestrais só de ver os jogadores que podem ser escalados na perpetuação da kamikaze partida.
Esqueça seus sonhos, encare a realidade e escolha entre o pior que tá, o pior que tá não fica e o pior que pode piorar – eis suas principais opções. Outras alternativas? Talvez um novo tão velho quanto aquele aristocrata que alimenta as traças da tradicional história confundida com a História maiúscula, das grandes minorias, do verdadeiro povo, que não têm noção que foram, são e sempre deveriam ser os protagonistas de sua História, mas que, por instinto primitivo de sobrevivência devido à quase total miséria média-classicamente e milionária-predatoriamente imposta, preferem se aliar aos seus usurpadores num contrato de migalhas temporárias e perdas permanentes. Ou talvez um novo com velhos sonhos, quase sem chances, que busca representar as grandes minorias, o verdadeiro povo, sem conhecê-los, sem perceber que elas não se veem tão representadas quanto ele as conclama estarem. Ah, e o pior: o novo e o velho abraçados ao mesmo monstro, que prega dogmas e fascismos antiquíssimos, tão antigos e peçonhentos que as grandes minorias, o verdadeiro povo, com a memória empobrecida pela desilusão das inglórias imediatas fortificada pelos venenos esquecidos, os confundem com elixires divinos e se iludem com remédios que são, na verdade, placebos, como se doenças erradicadas no passado fossem curas para doenças modernas, quando doenças comprovadas, parasitas seculares e venenos mortais continuam sendo, em qualquer tempo, doenças comprovadas, parasitas seculares e venenos mortais. 
Sim, confesso, ando há algum tempo cético e cada vez mais perturbado com as partidas políticas. Antes, ao menos, se parecia mentir por um projeto político; hoje, apenas se mente – não há mais nenhuma necessidade de aparentar ter um projeto. Há carreiras políticas como carreiras de cocaína – todos querem enfiar o nariz na droga do poder. Tem-se planos sem planejamentos; tem-se intenção sem objetivos; tem-se propostas sem contrapropostas. Ninguém projeta e os desperdícios, despreparos e a falta de empatia e respeito às normas básicas mínimas de cuidados consigo e com o próximo durante esse período de pandemia são uma evidência dos descaminhos da involução humana. Minha utópica anarquia chora, pois não se pode sonhar mais sonhar que cada um pode cuida de si em prol do coletivo, porque este é um sonho humano e somos cada vez menos humanos. E, em tempos de eleição, somos menos humanos votando em busca do menos desumano – o que não muda o fato de estarmos escolhendo jogadores que trazem a desumanidade em algum lugar para uma partida destrutiva que durará mais quatro anos de proliferação da desumanização que, de tanto sagrar-se vitoriosa, seja qual for o time desumano que ganhar, enraíza-se e perpetua a nossa gradativa e cada vez mais íntima assimilação da desumanização – sim, tenho me elegido menos gente a cada eleição. 
Saio da seção eleitoral com a alma derrotada. No caminho, vejo bocas escancaradas, com ou sem máscaras. O Homo Sapiens se tornou o homem que finge que não sabe a involuir ao homem que não sabe até chegar ao Des Homo, Des Gente, todos Obrigados e Des Nadas. “Quem será o desumano da vez?”, algum eleitor fantasma, que já sabe a resposta, me pergunta só para me aterrorizar. “Será um desumano, como eu ou você, ou mais desumano, como futuramente vamos ser.”, ameaço responder, mas calo-me outra vez; às vezes omitir é uma humilhação mais confortável, dói menos que a insuportável revelação. Mas ainda assim é derrota, ainda assim é mais uma humilhação. Ainda assim dói demais. 
Retorno para casa e minha alma derrotada descansa sem descanso em mais um domingo morno meio morto.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Vamos viralizar coisas boas: A Pandemia da Leitura em Homenagem ao Dia Nacional do Livro

Hoje, dia 29 de outubro, é o Dia Nacional da Leitura e o blogueiro-professor-escritor-poeta-pateta que vos escreve e os magníficos super alunos leitores das escolas onde leciono não poderiam ficar de fora da comemoração desta data super especial!
Abaixo seguem dois vídeos com a campanha da Pandemia da Leitura: Coordenados por mim, com apoio das equipes diretivas e demais profissionais da educação das escolas, os alunos leitores da turma 602 da Escola Municipal Nadir Veiga Castanheira, onde leciono Língua Portuguesa, e os alunos leitores do turno da manhã da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva (ambas as escolas da região rural de Teresópolis/RJ) trazem, cada grupo, um vídeo para viralizar com uma campanha de muito amor ao livro, nosso grande herói e companheiro nessa prolongada quarentena: a “Pandemia da Leitura da Escola Municipal Nadir Veiga Castanheira”, com magníficas dicas de leitura para todos que nos assistem e acreditam no poder da literatura e na nossa educação pública de qualidade.
Curta, compartilhe, viralize coisas boas, viralize literatura! E contribua na pandemia: deixe nos comentários, uma dica de leitura sua.
Educação, Literatura e Pandemias de Coisas Boas Sempre!

Vídeo 1: Pandemia da Leitura da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, de Teresópolis/RJ, em Homenagem ao Dia Nacional do Livro

Vídeo 2: Pandemia da Leitura da Escola Municipal Nadir Veiga Castanheira, de Teresópolis/RJ, em Homenagem ao Dia Nacional do Livro


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O exílio sem título e a vida em família da mais que fodástica poetamiga Gisele Pacheco

Ontem foi o Dia do Poeta (é, eu queria ter postado antes da meia-noite para a homenagem ser plena, mas a terça-feira foi frenética; ainda não parei nem me desliguei um minuto sequer, porém, contudo, todavia, apesar de todo corre-corre, não descansaria sem deixar uma postagem nova aqui para vocês). E nada melhor para homenagear a data dos navegantes que cursam seus barcos para além do infinito que relembrar poemas antigos, que até hoje me enchem de fascínio, da mais que fodástica poetamiga teresopolitana (outrora, minha poetaluna dos meus primórdios em sala de aula, na Escola Municipal Nadir Veiga Castanheira, entre 2006 e 2008) Gisele Pacheco. 
Sim, hoje (ela deve estar com aquele sorriso de orgulho, mas disfarçando a alegria, com marra: “Finalmente, né, professor...”), depois de milênios de atraso, sim, finalmente, compartilho minhas solidões poéticas com a magnífica poetamiga Gisele Pacheco! Gisele sempre teve um talento fenomenal, um lirismo maduro muito além das limitações que encontramos, quase sempre, quando iniciamos nas veredas poéticas; era a rainha do paradoxo (domava esta ardilosa figura de linguagem a seu bel talento como poucos, tanto que sua arte, em alguns certames literários escolares, era compreendida por poucos), sempre teve um senso crítico enorme, como poderão ver na paródia da Canção do Exílio que ela construiu em parceria com a colega Pâmela, no 7.º Ano (!), e sempre foi positivamente marrenta (quem é genial pode desfilar marra; poucas artistas, como ela, podem ostentar um título internacional [3.º lugar no 1.º Concurso Internacional de Poesias Gioconda Labecca, em Campanha/MG] quando ainda cursava o oitavo ano do ensino fundamental [nessa época, eu, por exemplo, engatinhava na redação comum, pois meu despertar poético só aconteceu quando eu cursava o 1.º ano do hoje chamado Ensino Médio]). Em seu facebook, Gisele já manda o recado na descrição: “O que dizem sobre mim é apenas a perspectiva deles...” É meio que uma drummondiana seguindo o verso do mestre: "Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou". 
Sim, os deuses da poesia gostam muito de mim, afinal, eu comecei minha carreira no magistério premiado com hipertalentosas artistalunas com personalidades líricas autênticas e iluminadas como a Gisele Pacheco. E lembrança boa é para ser compartilhada, poemas mais que fodásticos que flertam com o tempo infinito então nem se fala: ela tem toda razão, estes poemas deveriam estar aqui no blog há tempos. 
Sim, finalmente, amigos leitores, vamos curtir o lirismo magnífico e enamorado com o tempo infinito da mais que fodástica poetamiga teresopolitana Gisele Pacheco! 


Exílio sem título 

Minha terra tem políticos
Onde canta o mensalão. 
As guerras que aqui têm
Nunca lá terão.

Nossos céus são mais cinzas, 
Nossas estrelas mais amarelas, 
Nossas Várzeas têm mais prédios, 
Nossos bosques têm mais favelas.

Minha terra tem ladrões
Que cantam como sabiás.
Os ladrões que aqui roubam
Não roubam como lá.

Aqui encontro crimes
Que não encontro lá. 
Minha terra tem ladrões
Que cantam como sabiás.

(Poema escrito por Gisele e Pámela, quando estas cursavam o 7.º ano [na época, ainda chamado de 6.ª série]. Percebam desde a super originalidade irônica do título até os versos críticos ferozes. Gregório de Matos, o Boca do Inferno, está louvando o nome destas duas jovens poetas até os dias atuais!)


Vida em família

Com o doce som da voz da minha mãe a me chamar,
com a voz serena e meiga a chamar
minha irmã no meio dos manguezais a namorar
e, pobre de mim, tenho que ocultar.
Meu pai a trabalhar, trabalhar sem descansar
até que o dia chega ao fim
e todos vão se deitar
pois amanhã é um novo dia
e tudo continuará.

(Poema de Gisele Pacheco, quando ela cursava o 8.º Ano, premiado com o 3.º lugar no 1.º Concurso Internacional de Poesias Gioconda Labecca, em Campanha/MG na Categoria Juvenil [de 13 a 17 anos]. O texto foi publicado em uma coletânea. Podemos perceber no poema a influência de poema como “Infância”, de Carlos Drummond de Andrade, mas com um método completamente personalizado, que me lembra mais os poemas de Conceição Evaristo sobre suas memórias de infância. Reparem o uso incomum da gradação, tornando o poema inicialmente suave e divertido para uma criticidade mordaz ao dia a dia laborioso e inexorável do pai que trabalha sem parar e da continuidade infalível da rotina do ciclo familiar).



sexta-feira, 16 de outubro de 2020

As ilusões dos anzóis, as noites e os caminhos, às vezes, sem rumos, mas só possível com amor: Pelas musas e por vocês, amigos leitores, as solidões líricas compartilhadas de Renato Galvão

Esta semana que vai chegando ao fim é um período que traz datas importantíssimas; foi nela, por exemplo, que, em 12 de outubro, comemoramos, além do Dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, e do Dia das crianças, também saudamos o Dia do Mar e o Dia Nacional da Leitura (sim, precisamos, com milhares de datas, lembrar muito desta prática pouco exercida – ou exercida preguiçosa e descuidadamente - pela maioria da população brasileira). Além de muitas outras datas comemorativas desta semana, o blog, na seção Solidões Compartilhadas, institui o Dia do Mais Que Fodástico Multiartistamigo Renato Galvão, Artista Plástico, Escritor e Poeta na empresa Ateliê Ren-Artes, além de idealizador do Jornal Alecrim (segue o link deste formidável site: https://www.jornalalecrim.com/ ) e nosso artistamigo aniversariante do dia 15 de outubro (sim, ele teve a proeza lírica de nascer no comemorativo e super louvável Dia dos Professores). Como podem já perceber, hoje, compartilho minhas solidões coletivas neste espaço lírico-virtual com o grande mestre multiartistamigo Renato Galvão, autor de quatro de livros de poesia e de milhões contribuições poéticas nas artes plásticas (ele próprio confessa que a arte plástica lhe veio quando começou “a escrever um livro sobre ficção e realidade...”).
O próprio Renato Galvão humildemente se define: “Sou o que se pode chamar de escritor amador. Um homem que gosta de juntar letras, formar palavras e construir textos que tentam traduzir gestos, olhares, sorrisos. Simplesmente traduzo sentimentos”. Sobre seus temas, o autor comenta: “Escrevo para pessoas, sobre pessoas, suas palavras e frases, suas lágrimas, seus sorrisos, suas alegrias, suas paixões, seus sofreres, suas felicidades, suas nostalgias. Enfim, seus sentimentos. Também escrevo sobre situações e ações do nosso dia a dia, protestos e desigualdades sociais, contos e outros gêneros. A grande maioria dos textos que escrevo são frutos da observação da vida humana. Costumo também retratar e até homenagear pessoas que sequer me conhecem, que não fazem a menor ideia de minha existência e que figuram ou são a razão de minhas palavras. Naturalmente aos amigos(as), parentes e tantos outros se incluem nesta procura por palavras observando o ser humano. Escrevo também sobre os meus sentimentos e os externos através de poesias...”
Foi o mais que fodástico multiartistamigo Renato Galvão quem comemorou, ontem, mais um aniversário de infinidade lírica (como ele próprio diz, “Continuo fazendo arte e não devo parar nunca mais...”), mas quem ganha as oferendas líricas são vocês, amigos leitores! Naveguemos nos universos líricos que a arte do mais que fodástico multiartistamigo Renato Galvão nos traz! 

Série Lua Drágna - Tela n.º 13


Ilusão do anzol 


Quem irá se perder,
Praticando o medo de uma nova relação
Ou distanciando-se de um nobre coração?

Quem irá se perder,
Pela própria culpa ou
Por trocar a coragem pela dúvida?

Quem irá se perder,
Por não se permitir uma nova chance
Ou por encarar tudo como revanche?

Você está me perdendo, 
Não para uma nova relação
Ou para outro coração.

Você está me perdendo
Para suas cansadas desculpas
Ou por não admirar a lua.

O tempo escurecerá,
Quando a ilusão do anzol passar,
Quando o fim chegar.

Aqui também escurecerá,
Mas sem ilusão ou anzol.
Encontrarei o caminho de volta ao sol...



Não há caminhos que se possa trilhar 

Não há caminhos que não se possa trilhar.
Não há rainhas ou reis de gelo, de ouro ou prata
Que o amor possa enclausurar.

Nem sábios ou ignorantes,
Nem poderosos ou humilhantes
Que possa o amor descartar.

Foi por amor que viemos,
Foi por amor que Michael de Nebadon
Surpreendeu os universos com seu dom.

Foi por amor que recebemos
A dádiva do Criador.
Foi por amor que o Criador Michael nos enviou.

Foi por amor que o mais
Humilde dos humanos
Ousou despertar o amor nos estranhos.

Foi por amor que tudo se fez luz.
Foi por amor que nos perdoou.
Foi por amor que, nossas vidas, transformou.

Não há caminhos que não se possa trilhar.
Não há amor que se possa desprezar.
Não há amor que se possa ignorar.

Sem amor só haverá escuridão.
Sem amor não se praticará o perdão.
Sem amor somos servos da solidão.

Sem amor não haverá luz,
Sem amor não se pode brilhar.
Sem amor não haverá caminhos que se possa trilhar...



Série Lua Drágna - Tela n.º 14


Noites

Pelas noites a procuro em espaços errados.
É nas noites que descubro que estou abandonado.
São em noites escuras que sonho sonhos desesperados.
Pelas ruas não a encontro nem mesmo para um abraço.

Deito-me na cama do acaso,
Do direito de perder,
Mesmo que o desejo venha me dizer
Que você não quer fazer parte do meu viver.

As estrelas me visitam
E recolhem o brilho das lágrimas
Que iluminam o delírio de um
Coração apaixonado.

As lembranças se transformam em
Abismos de saudades.
E assim sigo esperando por milagres,
Castigado pela sua falta de coragem...


Por você... 

Por você
Dedicar-me-ia.
Perseguiria o impossível. 
Controlaria o impassível.

Por você
Desenharia seu infinito.
Seria um soldado lutando por sua paz.
Mudaria sua vida fugaz.

Por você
Transformar-me-ia num escudo.
Tiraria você desse poço fundo.
Defender-lhe-ia de suas dores,
Curaria suas feridas. 
Dizimaria seus horrores.

Por você.
Eu seria você.
Mas... Se, somente se,
Você fizesse por me merecer...

Sem rumos

Quando vieste
Era puro encanto.
Quando partiste
Veio solidão ao meu encontro.

Quando eu disse: amo-te.
Meu mundo eu esqueci em instantes.
Quando saíste, trancaste as portas,
Esquecendo-me num canto.

Quando sorrias
Via-se a magia.
Quando vinhas
Era pura alegria.

Tua voz enchia de alegria a casa.
Hoje, não há mais nada.
Ficamos para trás na tua estrada.
Só restou o silêncio das frias madrugadas.

Agora não tenho teu sol.
Só me deixaste a chuva.
Os dias são escuros.
Vivo sem destino, sem rumos.

Esquecer-te meu coração não quer.
A saudade me deixa triste.
Amar-te é o que me mantem de pé
Sem ti, nem eu e nem a nossa casa existe.

Sonhar? Sim...
Foi o que me restou.
Com teu sorriso,
Tua alma
E teu amor...

Alguns livros de Renato Galvão

CurtaPoesia: 
Renato Galvão ao vivo
no Sarau em Cores,
organizado por Thay Lucas





domingo, 11 de outubro de 2020

Solidões Compartilhadas: A premiada poeta Andresa Ferreira da Silva nos conta como foi depois que tudo começou

Hoje o blog traz uma notícia cultural chique demais: Andresa Ferreira da Silva, aluna do 9.º Ano A na Escola Municipal Alcino Francisco da Silva (e da Sociedade dos Poetas Vivos do Alcino), unidade de ensino onde leciono Redação, em Teresópolis/RJ, foi a representante de Teresópolis na 8.ª Edição do Festival Intermunicipal de Poesias nas Escolas, evento organizado pelo artistativistamigo Alex Sandro Oliveira (quem quiser assistir ao maravilhoso evento é só clicar neste link da live do Festival: 
https://www.facebook.com/100003913187579/videos/1851958098277945/ ) e, na última sexta-feira, dia 09/10, conquistou, com louvor merecido, o 3.º lugar neste tradicional e formidável certame literário estudantil!
Por esse motivo, retomo as Solidões Compartilhadas do blog com o premiado poema “Depois que tudo começou”, de autoria da magnífica e hipertalentosa poetaluna Andresa Ferreira da Silva, por escrito e declamado pela própria autora, em vídeo dirigido pela também magnífica e hipertalentosa (e também premiadíssima) poetaluna do 8.º Ano A e cinegrafista Jamile Ferreira Silva, irmã de Andresa, membro também da Sociedade dos Poetas Vivos do Alcino e artistaluna efetiva-faz-tudo do Grupo Teatral Escolar Luz, Câmera...Alcino! 
Em tempo: Além de ser uma obra prima, rica em recursos (ritmo, figuras de linguagem, etc), o belíssimo poema “Depois que tudo começou” também merece destaque especial pela visão lírica diante do problema contemporâneo – a pandemia de Covid-19 -, retratado de maneira tocante, singela e com uma mensagem final de esperança que todo nosso universo em crise merece ler. 
Agradeço a todos os amigos leitores que sempre deixam sua torcida lírica e vibração positiva pelo blog, pelas conquistas de nosso ensino público, cheio de poesia e luz, mesmo em tempos de crises e insanidades. Meus aplausos a todos os envolvidos direta e indiretamente nesta nossa maravilhosa conquista; todos vocês tornam a íngreme trajetória em defesa da boa educação e da poesia mais linda e mais aprazível para ser seguida e continuada! Ao infinito e avante! Educação, Amor e Arte Sempre! 

Depois que tudo começou 

A vida mudou bastante 
Depois que tudo começou 
E parece que, em um instante, 
A porta se fechou. 

Sair não posso mais; 
Muita gente se isolou, 
Pois esses vírus são mortais 
E a nossa rotina ele mudou. 

Logo tudo vai voltar ao normal, 
Acredite que tudo vai passar, 
Mas, enquanto esse dia não chega, 
Você precisa se cuidar. 

Tenha esperança, 
Juntos vamos além, 
Porque, depois da tempestade, 
O arco-íris sempre vem. 
Poema de Andresa Ferreira da Silva, aluna do 9.º A da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, de Teresópolis/RJ



sábado, 3 de outubro de 2020

Um poema meu relembrado no momento de espanto: O sentido do amor na falência de sentidos

Olá, caros amigos leitores deste contemporaneamente empoeirado blog (minhas visitas e ânimos têm sido cada vez mais raros para uma plena continuidade), como super-herói de grandes HQs americanas, tenho morrido e ressuscitado constantemente como escritor e atualizador das postagens deste meu espaço lírico-virtual de confissões, nerdices, geekices, literatices e outras chat-ices (sim, no fundo, no fundo, é assim que muitos veem a arte – quando não estão em campanhas políticas ou posando de pimbas [pseudointelectuais metidos a bestas]; poucos trazem o germe kamikaze-masoquista-rimbaud-maníaco-bipolar-melancólico-agressivo-ensandecido de curtirem como eu um verdadeiro amor pela desassossegante arte, que nos salva a partir da perdição sublime, inquietação, estranheza, espanto e gosto pela beleza do bizarro associado ao não bizarro, e isso não é um ato de vaidade, arrogância e superioridade - é mais um sacrifício voluntário apaixonado, até porque nós, artistas, somos vistos como autênticos ETs [perceba que a palavra poetas traz as 3 letras que formam a sigla ETs] para a maioria da sociedade que tão inusitadamente representamos, ironizamos, cuspimos e abraçamos).
O Mestre Poeta-Maior Ferreira Gullar dizia que a poesia vem do espanto (ele citava isso, associando ao episódio em que sentiu dor na coluna e, assustado, percebeu a importância desta, tornando-a matéria prima lírica de um poema seu). E meu retorno está associado a este sentimento ferreira gullarniano de inspiração: o espanto. Recentemente, passei por uma possível virose muito próxima da Covid-19: tive dores no corpo todo, falta de olfato e de paladar (descartei a doença da mais recente pandemia pela ausência de febres e problemas respiratório). As dores no corpo, após alguns dias, passaram, mas ainda sofro com os resquícios da falta de olfato e de paladar. E aí veio o lírico espanto: a percepção da falta dos dois sentidos, o susto do novo normal sem sabores e cheiros.
Isso trouxe-me à memória o apocalíptico, dramático e sublimamente romântico filme, com o irônico título de “Perfect Sense” (no Brasil, foi traduzido com a figura de linguagem mais implícita, mas com título ainda icônico e maliciosamente apelativo de “Sentidos do amor”). A história é marcante, emocionante e bem desenvolvida: Um casal vive um romance enquanto uma estranha doença assola a sociedade. Aos poucos, as pessoas começam a perder os sentidos humanos. Sem olfato ou audição, eles insistem na sua história de amor e experimentam sensações desconhecidas. A grande ironia paradoxal do filme é que o protagonista Michael, interpretado pelo mais que fodástico Ewan McGregor, outrora constante escapista de relações amorosas duradouras, finalmente encontra o amor por alguém (a também protagonista Susan, interpretada pela mais que fodástica – fã da exposição de nudez de seus belos seios [ainda não vi um filme em que ela o oculte] Eva Green), logo quando os seus sentidos humanos estão sendo perdidos. É um daqueles filmes que estão no meu top 10 dos mais emocionantes e fodásticos a que já assisti. Marcou-me tanto que me inspirou um poema. Aproveito para deixar-lhes o link de um blog parceiro, o mais que fodástico Sonata Première, para que possam assistir ao filme aqui recomendado: 
https://sonatapremieres.blogspot.com/2012/04/sentidos-do-amor_1676.html
No meu poema, intitulado “O sentido do amor na falência de sentidos”, diferente do enredo do filme, a perda de sentidos humanos ocorre à medida que a relação amorosa humana vai sendo perdida (sim, dei toda essa tradicional volta alucinada como introdução para o poema que compartilharei hoje; se isso não lhe fez sentido, bem, acho que é meio novato[a] aqui nas postagens do blog, pois sempre faço assim, mas, nesse caso especial, sentir falta de sentido tem muito sentido para o poema e para tudo que escrevi até o momento). Em 15 de outubro de 2018, meu poema “O sentido do amor na falência de sentidos” foi selecionado no II Concurso Literário da Fundação Cultura Barra Mansa (FCBM) e da Biblioteca Municipal Adelaide Franco. Agora, em outubro de 2020, completando quase exatos 2 anos depois, o poema retoma destaque em minha memória lírico-afetiva diante desse momento de quase rigoroso isolamento social completo (com muita carência de relações amorosas concretas, confesso) e diante do espanto com a minha temporária falta de alguns sentidos humanos, como o olfato e o paladar. Por esse motivo, resolvi retornar ao blog, compartilhando esse marcante poema meu.
Espero que gostem, amigos leitores! Abraços saudosos na distância, muito amor mesmo sem todos os sentidos e Arte Sempre!
 
O sentido do amor na falência de sentidos
Carlos Brunno Silva Barbosa
 
Primeiro a dor sequestrou meu sorriso,
lembrando-me de todos os cheiros não sentidos
e outros tantos esquecidos
como o perfume de amor em nosso último jantar a dois...
Foi assim que perdi meu olfato
- todo aroma se tornou um passado sem fragrância...

Depois veio o desespero, a agonia da solidão, 
o desassossego despertando uma fome sem freio
e sem solução:
meus lábios famintos pelos teus seios fartos e macios...
Foi duro acordar sozinho e sem paladar
- o alimento mais saboroso passou a ser temperado com vazios...

Em seguida a fúria afagou minha fronte,
joguei em ti a culpa por todos os meus rompantes
e te vi ainda mais distante de mim;
o apartamento quebrado preservou apenas o teu retrato sem vida...
Em cacos, perdi minha audição
- a raiva externada passou a ecoar apenas em minha consciência culpada...

Agora só me resta a busca obstinada pelo perdão,
a corrida desenfreada pela reconciliação,
mesmo que isso me custe a visão;
por isso te abraço tão desesperado,
com o peito aberto e os olhos fechados:
preciso retomar o contato com teus lábios,
mesmo cego, surdo, sem paladar e sem olfato,
preciso reencontrar o amor, antes que eu perca o tato...






domingo, 19 de julho de 2020

Crônica de um seguidor do Mito Capitão Britânia: Meu vá se f... a quem profere a frase “Os tempos são outros e você TEM que se adaptar”


Uma frase que se tornou amplamente popular no século XXI e que me ressuscita gastrites milenares na alma pensante é a frase feita “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”. O modelito camaleão pra toda obra virou sucesso na moda de todas as estações, principalmente como meio de manobra para manutenções de históricos sistemas de exploração e, mais atualmente, para sustentação de métodos contraditórios como a “imunidade de rebanho” (atira-se os animais aos perigos e os sobreviventes, pelo próprio fato de sobreviverem no ambiente de provável massacre, trazem a solução vitoriosa para vencer os obstáculos impostos, fato que deveria justificar todo e qualquer sacrifício, mesmo que numeroso).
Usando-me da ironia (sim, hoje em dia, temos que explicar até o uso da figura de linguagem mais simples, antes que alguém copie e cole e diga que você disse o que não disse), a frase “Os tempos são outros e você tem que se adaptar” é ótima! Pensemos no marido, esposa, namorado, namorada, que, incompetente em sugerir uma relação mais aberta de forma sincera, é pego pelo outro/outra em flagrante relação íntima (não mais) secreta com outra pessoa. Basta declarar “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”, atira a palavra “traição” ao index do tabu contemporâneo e implanta a relação mais aberta (só para ele/ela) que, durante tempos, ele/ela não teve coragem e competência para sugerir – desmascarado(a), ele/ela mascara, com precisão, eficácia e conveniência, sua incompetência particular. Outro exemplo muito “legal” e mais comum: o patrão/patroa precisa que seus empregados trabalhem acima de uma carga horária humana para que a empresa/instituição sobreviva à voracidade autômata(dora) do mercado selvagem. Sem competência para criar meios alternativos mais humanistas e com muita impotência e bastante covardia para contradizer a agressividade robótica e imediatista do mercado, basta ao patrão/patroa declarar ao empregado/empregada “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”. Pronto: a histórica palavra “escravagismo” vai ao index do tabu contemporâneo e implanta-se a relação de trabalho moderna desassociada à exploração escancarada que ela impõe – despido(a) de soluções criativas humanistas, o patrão/patroa usa a veste dominatrix sem necessidade de que a relação de dominação/submissão no trabalho seja consensual, torna-se empreendedor/empreendedora supermoderno(a), negando suas incompetências, impotências e covardias diante das exigências maquiavélicas do mercado desumanizador. Ou seja, “Os tempos são outros e você tem que se adaptar” é ótimo... caso você precise disfarçar imediatamente uma impotência constrangedora e, claro, caso seja você o emissor (omissor) da frase, e não o receptor (receptáculo vazio, nos termos do outrora superado Skinner).
Vejamos algumas particularidades semânticas da estrutura morfossintática da frase feita “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”. Temos uma conjunção “e” que pode indicar adição, o que não ofereceria nenhuma possibilidade de reflexão; propõe uma soma de acontecimentos e ações que devem ser seguidos de modo autômato, como se fossem acontecimentos e ações naturais, que não exigem pensamentos profundos para serem realizados – vai, robô transformer, é hora de morfar sem pensar! O “e” também pode ser pensado como conjunção conclusiva, o que nos traz um paradoxo filosófico, afinal conclusões devem ser tomadas após reflexões e a conclusão trazida na sentença “Os tempos são outros e você tem que se adaptar” nos traz uma imposição, sem possibilidade de abstrações reflexivas. Agora observemos a oração “e você tem (...)”. Sintaticamente, você é o sujeito simples, ok, mas, praticamente, o “você” não é um agente ativo, precisa aceitar passivamente a ação de ter (que em nenhum momento propõe ser sinônimo de possuir, e sim de ser obrigado) em uma oração que aparenta ser ativa, mas é disfarçadamente passiva. Resumindo: “e você tem” em conjunto com “que se adaptar” não tem nada de ativo, o sujeito não age, mas recebe a ação, o que dá à sentença um caráter imperativo, é uma ordem, você é obrigado a fazer – vai, robô transformer, é hora de morfar, mesmo que você não seja robô, nem transformer, nem saiba ou queira morfar. Ou seja, até quando se analisa o período “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”, há máscara, polidez linguística, disfarce – quem profere a sentença quer mandar, se impor, e não tem nem coragem nem potência nem sinceridade de expor de forma transparente que está mandando, se impondo e exigindo a sua submissão incondicional, sem desejo de que você reflita sobre a questão.
Entendo a parte “Os tempos são outros”. Os tempos são realmente outros: discursos de ódio e de violência escancarada são amenizados com disfarces de liberdade de expressão, preconceitos enraizados deixaram de ser hipocrisias cordiais para serem considerados como ‘autênticos’ elementos do conservadorismo ‘restaurador’ ‘inerente’ em todo patriota para disfarçar a incapacidade de superarmos nossas mais nojentas misérias e mazelas íntimas que desfazem todo perfil mascarado civilizado que exibimos com extremo mau gosto, negacionismos autoritários são vistos como marcas positivas para afirmação de  identidade para disfarçar a nossa incapacidade de encarar a realidade e o quanto somos negativos e torpes para a vida consciente e pacificamente conflituosa humana, o imediatismo histérico por soluções passageiras substitui planos a longo prazo detentores de soluções mais permanentes, amparado no disfarce do mau uso do verso de Cazuza “O tempo não para” (e só uma digressão: o sumiço do acento diferencial do verbo parar na terceira pessoa tem um efeito interessante, né, pois iguala uma ação [para] que varia entre a intransitividade – independência de objetos – e a transitividade – ação direta sobre objetos - a uma preposição [para] que só serve de ponte passiva para ligar palavras e orações subordinadas, formando doces relações interdependentes). Sim, os tempos são outros e vamos de mal a pior, praticando a nova velha tendência do louvor ao retrocesso com nomes novos e amenizadores para esconder sua aberração retrógrada.
Agora “E você tem que se adaptar”? “Tem”? “Se adaptar” a isso? Ora, para todos que me atiram a sentença, vão à merda (estou usando a sua ‘liberdade de expressão’, gostou? “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”, vai ‘sifudê’ e leva o troco, viu, foi bom pra você?)! “Máquina arrogante! Adaptação não basta! Você precisa ter respeito à vida! E a coragem de ter esse respeito!” – são frases proferidas pelo personagem dos quadrinhos (referência nerd detectada) Capitão Britânia, na fase do genial roteirista Alan Moore, quando o super-herói enfrenta “O Lixo Que Andava Como Homem” em um “mundo distorcido” (história originalmente publicada em “ Marvel Super-Heroes 378”, de outubro de 1981). É originário de uma ficção, é só nerdice minha, ok, você venceu. Mas como explicar a estranha sensação de que as frases proferidas por ele não te incomodaram com aquele desconforto peculiar de que talvez um personagem fictício do início da década de 1980 pareça citar frases extremamente convenientes e de possível reflexão para a realidade atual? Como explicar que o “mundo distorcido” que um personagem fictício do início da década de 1980 estranha pode não ser tão distorcido assim, se refletirmos as situações atuais do nosso planeta ‘modernoso’? O quanto a ordem de adaptarmos a nossos tempos ‘outros’ omite a falta de respeito à vida e, principalmente, a coragem de ter esse respeito, implícita na frase feita “Os tempos são outros e você tem que se adaptar” (outra digressão: como essa frase é parceira da também idiotizante “É melhor já ir se acostumando”, né?)? Quantos Lixos que Andam como Homens nos lideram e/ou organizam os rumos de nossas vidas nos metralhando e proporcionando o compartilhamento submisso de frases feitas do tipo “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”?
Entendam, não tenho nada contra o ato de se adaptar. Mas, como bem disse o Capitão Britânia (que deve ser super-herói e fictício principalmente pelo fato de entender de distorções de realidade e por ser um capitão consciente e humanista – isto, nos dias de hoje, é raro e ainda não vi nenhum ‘novo conservador’ querendo restaurar essa consciência e humanismo), a adaptação não basta! E frases feitas nos obrigando a nos adaptar não bastam mais ainda! Adaptar é uma ação que pode servir como sobrevivência imediata para respiro de uma situação que precisa ser refletida futuramente, muitas vezes uma atitude primária necessária para superação emergente de um obstáculo imposto, mas jamais deve servir como um pressuposto permanente imbecilizante para subserviência, sub-vivência ou bajulação dos absurdos e autoritarismos aparentemente inflexíveis cotidianos.
Não necessitamos de frases pertinentes e impositórias. Necessitamos de reflexão, de respeito à vida e de coragem de ter esse respeito (sim, eu concordo com o Mito Capitão Britânia). Os tempos são outros, ok, e nós (não só você, eu ou outrem, todos nós) temos que refletir, como seres pensantes, que possuem capacidades e possibilidades de evolução, precisamos refletir, planejar, pensar, querer saber, buscar múltiplas soluções e possibilidades, e aí sim, decidir se vai se adaptar ou não – sim, é uma opção, provém do livre arbítrio (lembra disso, religioso cidadão?).
Os tempos são outros, precisamos pensar e planejar em maneiras para que esses tempos ‘outros’ não se tornem tão ou mais parasitas à vida que outros tempos outros que já vivenciamos, aí sim, com muito amor, respeito à vida e coragem para ter e lutar por esse respeito, talvez se adaptar, mas sem deixar de analisar outras posteriores saídas. Quanto aos que proferem “Os tempos são outros e você tem que se adaptar”, vocês têm que se olharem nos espelhos, observarem as fragilidades e impotências furtivas implícitas em suas posições e pensarem antes de soltarem frases feitas vazias e evasivas (como vocês podem e devem julgar e se defender, usei, como usam, uma frase feita pertinente à minha argumentação e impositória para disfarçar minha impotência de prego cansado de apanhar diante de quem sempre foi martelo que nunca cansou de bater; é minha maneira polida de encerrar meu texto mandando-os à merda mais uma vez).



quinta-feira, 7 de maio de 2020

Mimos líricos: Grandes artistamigos que foder@m comigo no melhor dos sentidos

Uma coisa que prometi que não passaria deste 7 de maio, data do meu aniversário, era voltar a escrever no blog, após tanto tempo (sim, o blog desfalece e ressuscita mais que fênix e super-herói da DC). Por isso, hoje trago alguns mais que fodásticos artistamigos que fodem há tempo comigo. Ops, não se assustem, não se escandalizem, amigos leitores! Trago aqui o verbo 'foder', primeiramente como autorreferência cretina ao meu oitavo e mais premiado e popular livro "Foda-se! E outras palavras poéticas...", e, 'segundamente' para utilizar o verbo tão marginalizado no sentido proposto pelo mestre artistamigo Wilson Fort (que também, em noites líricas e filosóficas de luas cheias, utiliza o heterônimo de James Zoar, um sagaz crítico literário, um porta-voz feroz e voraz do lirismo pungente valenciano): etimologicamente a ação vem de 'fodere' que significa, entre tantas coisas, unir-se, ligar-se. E, partindo desse sentido, trago nessa postagem alguns momentos especiais e atuais em que houve uma verdadeira foda lírica platônica sublime com artistamigos divinos, quando artes se ligaram, se uniram, se transformaram e se tornaram inseparáveis.


Primeira foda lírica platônica sublime virtual: O Sarau Virtual "As Solidões Coletivas dos Confinados"
Junto de duas queridas artistas, mesmo cada um em seu devido isolamento diante da quarentena de contenção da pandemia, fizemos, no final de março, a primeira versão em vídeo da 'quarentena sem contenção lírica' do Sarau Solidões Coletivas. "As Solidôes Coletivas dos Confinados: Voando livres e líricos, mesmo engaiolados" foi uma iniciativa do Sarau Solidôes Coletivas, inspirada na genial sugestão lírica da divartistativistamigamusaleonina niteroiense Jammy Said, e conteve vídeos em que Déia Sineiro, Dirce Assis e eu declamamos poemas de nossa autoria, cada um em seu espaço de isolamento, transbordando Solidôes Coletivas.
O vídeo está logo abaixo:


Outra foda lírica platônica sublime virtual em imagem: O Instinto e o Instante virou mensagem imagética virtual
A divartistativistamigamusaleonina niteroiense Jammy Said, além de lives em que magistralmente divulga grandes artistamigos brasileiros, entre eles o poetamigo que vos escreve, fez uma releitura em imagem/arte virtual do poema  "O instinto e o instante", do livro "Foda-se! E outras palavras poéticas....
Seguem abaixo as fotos lírico-artísticas elaboradas magnificamente pela divartistativistamiga Jammy Said:






Agora uma foda lírica platônica sublime musical: O Pianista saiu do papel e virou letra de música e canção
Esta foi uma foda lírica sublime musical com encontros de cadências italianas e brasileiras: meu poema "O pianista", premiado com Menção Especial na Categoria Adulto do XXV Concurso da Alap Paranapua, em 2014 virou sublime canção do álbum "Baobá", graças ao Mestre Artistamigo Andrea Porzio Vernino, de São José do Rio Preto/SP. Um dos meus mais antigos sonhos deixou o silêncio abstrato para conhecer o mágico lírico-musical concreto!
Segue abaixo o vídeo com a mais que fodástica versão musical do poema feita pelo Mestre Artistamigo Andrea Porzio Vernino:


E agora uma foda lírica platônica sublime em História em Quadrinhos: Fragmentos do meu conto Figuras de Linguagem viraram página de HQ
Há pouco tempo, um pouquinho antes do processo de quarentena, fui à lírica São José do Rio Preto/SP para participar do churrasco à italiana em comemoração festiva do lançamento do formato físico do álbum "Baobá", do Mestre Artistamigo Andrea Porzio Vernino. Durante minha breve estadia na cidade, reencontrei o queridíssimo artistamigo mestre desenhista, cartunista, ilustrador, professor, roteirista, músico, multiartistamigo Alex Sander (já havíamos nos encontrado em Piracicaba/SP, Curitiba/PR, mas foi a primeira vez que nos vimos na cidade onde ele reside). No reencontro, Alex Sander me falou de uma página de história de quadrinhos que ele fez inspirado em um conto meu. Algum tempo depois, já durante os primeiros tempos de isolamento, Alex Sander me enviou via whatsapp a versão em HQ que ele fizera de um fragmento do meu conto "Figuras de Linguagem", de meu sexto livro "Diários de Solidão" e - duplo êxtase! - uma releitura recente, uma nova versão em HQ do mesmo trecho.
Segue abaixo as fotos dessa mais que fodástica releitura lírico-quadrinística do fragmento de meu conto "Figuras de Linguagem":








quarta-feira, 1 de abril de 2020

Fábulas de Escárnio e Maldizer Solitários Coletivos: A mentira é o Grande Lobo


Dia Primeiro de Abril, Dia da Mentira em época de proliferação de vírus letais e de multiplicação de falsas notícias, nada melhor e mais inspirador para um blogueiro escritor maldito como eu que a possibilidade de produzir uma releitura subversiva e contemporânea da fábula de “Pedro e o Lobo”.
Espero que curtam (mentira - quero que se foda o gosto ou desgosto).



A mentira é o Grande Lobo

Era uma vez, numa região muito absurda e distante, um rebanho de ovelhas que só orava a Bíblia do Pastor Din Din e que não acreditava em nada que os cientistas diziam.
Doutor Pedrinho, um dos poucos estudiosos dos Hieróglifos das Migrações dos Grandes Males que Detonam a Caprinaedade, anunciou que era período do  Grande Lobo rondar as cercanias. Assustado com a periculosidade letal da aproximação da ameaça que os Hieróglifos lhe informavam,  Doutor Pedrinho aconselhou que as ovelhas se recolhessem naquele período de risco.
No início, mesmo não entendendo os riscos previstos pelos estranhos Hieróglifos, as ovelhas consideraram melhor ouvirem o desacreditado doutor. Após alguns dias de reclusão, começaram os boatos:
-  Doutor Pedrinho é um mentiroso, não sabe de nada. Dom Carneiro me disse que passeou por aí e até agora não viu nada.
- Doutor Pedrinho é um mentiroso, quer quebrar o comércio de lã. Pastor Din Din  falou que, se continuarmos paradas, a economia para, falta ração e a gente morre de fome.
- Doutor Pedrinho é um mentiroso, é incitador da covardia. Capitão Matadouro do Exército Atlético disse que a gente precisa demonstrar coragem.
Diante de tanto disse me disse, o rebanho foi repetindo a boatice: “A ciência quer nosso mal, doutor Pedrinho é covarde, anticomercial e mentiroso.”
E todo rebanho saiu e atirou-se unido nas garras do Grande Lobo.
Carlos Brunno Silva Barbosa



segunda-feira, 23 de março de 2020

19 microcontos doentios com até 140 caracteres (sem contar o título) em homenagem (?) à quarentena criativa provocada pela pandemia de coronavírus (COVID-19)


Em tempos de quarentena, pandemia, doença nova, isolamento forçado pelo bem coletivo, novos escritos doentios, novas solidões coletivas e desafios criativos me imponho. Eis os 19 microcontos doentios com até 140 caracteres (sem contar o título) em homenagem (?) à quarentena criativa provocada pela pandemia de coronavírus (COVID-19) que escrevi nesta manhã mortalmente ferida por um estranho sol paradoxalmente cheio de vida:


Misantropo

O pânico da pandemia não o atingia. Ao contrário: ele se divertia. Desde que ela chegara, não precisara mais procurar amigos que não tinha.

'Disolado'

Com o anúncio da pandemia, trancara todas as portas para proteger seus velhos queridos. Depois, chorou convulsivo: há tempos, vivia sozinho.

'Desconciliação'

Desde a pandemia, ousou reatar com o telejornal. Aceitou toda ordem e abuso verbal, mas pirou com a oferta de viagem no intervalo comercial.

Personificação

A pandemia se embriagava com a última gota de álcool gel na garrafa infectada, enquanto a pobreza espirrava sobre a carteira esfarrapada.

Desclassificado

Comemorou em vão a folga recebida durante o avanço da pandemia: desempregado não festeja tais mordomias.

'Desdesolada'

Confessou para as paredes que gostara da pandemia: com a quarentena coletiva, não se sentia mais sozinha.

Páthos

Abraçou o coronavírus com afinco: desde a viuvez, não tivera um relacionamento tão íntimo.

Profano

Profanou a quarentena para ir à igreja, pois era muito beata. Pediu a Deus uma terna palavra. Coronavírus, o novo filho, deu-lhe a graça.

Caridade

Diante da pandemia, superfaturou o preço de todos os produtos de primeira necessidade. De orfandade, não morre o capitalismo selvagem.

11.441/07

Sem beijos, nem abraços, se cumprimentaram. Graças à pandemia, com o divórcio consensual finalmente concordaram.

Abusivo

“Se não posso tocá-la, ninguém mais pode” -  a cada dia de quarentena que passava, o coronavírus mais parecia com o seu ex-marido.

Paramnésia

De pandemia de coronavírus, ele quis compará-la. Tantas vezes viu a musa desejada e jamais pôde tocá-la...

'Borgesnóstico'

Enquanto a pandemia de coronavírus despertava um escarcéu, o velho leitor adormecia seus olhos na biblioteca de babel em serena lua de mel.

Bufão

Infidelíssimo, usou a pandemia de coronavírus como justificativa safada para não beijar a esposa desconfiada depois que voltou para casa.

Irresistível

“Não sou tarado”, jurou o velho suicida, “mas, nesses dias de pandemia, não posso ver ninguém resfriado que já abraço, beijo e fico pelado!”

'Glennclosido'

Foi culpa da pandemia de coronavírus. Como é gostoso pensar no sexo esquecido quando o toque outrora banal lhe é proibido!

Epifania

Após o espirro – seria coronavírus? -, finalmente entendia: da realidade doentia, sempre fugira, mas do seu eu doentio jamais conseguiria.

Pós-moderno

Sem pátria ou passado, vagava fragmentado por corpos estranhos em busca de uma identidade que não possuía. Era literatura ou coronavírus?

COVID-19

Mesmo isolado e psicotropicamente anestesiado, o hipocondríaco insistia: de coronavírus ele morria dezenove vezes por dia.



Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...