segunda-feira, 6 de maio de 2013

Poemas maquinofaturados: O amor nos tempos da Revolução Industrial


Recebi um dos desafios mais inusitados desde que o blog foi criado: uma garota chamada Lara Lima, observando que as postagens de meu blog às vezes citavam momentos históricos, me perguntou via facebook se eu teria algum poema que falasse sobre a Revolução Industrial para ela declamar num sarau que aconteceria na escola dela. Atolado com notas, médias e provas do fim do bimestre, confessei a ela que não possuía poema sobre o assunto. Este seria o ponto final se os parafusos que faltam e sobram em minha cabeça não começasse a maquinar um poema sobre a Revolução Industrial, que, fora a ficção científica de Julio Verne e cia, pouco foi explorada pelos movimentos e comunidades poéticas. Ah, tá, eu confesso: não aceito perder um desafio novo (ou, pelo menos, não aceito perder sem tentar), minha cabeça fica matutando, martelando os assuntos que me aparecem das formas mais loucas e/ou inusitadas e... bem, o que vocês verão abaixo é uma espécie de poema tentativa de falar sobre a velocidade alucinante de nossas cegas paixões associada à Revolução Industrial. Deve ter saído meio louco, sei lá, revoluções mexem com minha imaginação. Relacionei o amor cego que nos faz abandonar a nós mesmos com a mudança do artesão - com controle sobre toda obra - para o operário alienado que serve aos mandos e desmandos do patrão dono da máquina - o eu lírico serve a amada como o artesão passa a servir o patrão dono da máquina.Tem um pouquinho de influência do som da banda Cake também, pois deixei os CDs deles rolando no som enquanto eu produzia o poema (“Long Time” está martelando singelamente na minha cabeça até agora rs). Há também inspiração num poema romântico do jovem poetamigo valenciano Luiz Guilherme, já publicado aqui no blog, quando eu compartilhava com ele pela primeira vez as solidões poéticas; me baseei na anáfora - a repetição constante do você - contida no poema dele. 
Espero que os professores artistas historiadores me perdoem a ousadia poética que talvez não tenha sido tão bem sucedida quanto eu desejava.
De qualquer forma, dedico o poema à leitora inspiradora Lara Lima e a Rafael Faraco, professor de História do Alcino que sempre me incentivou a conhecer e a trabalhar ‘interdisciplinariamente’ a Revolução Industrial.
Que a máquina do amor avassalador nos revolucione, amigos leitores!  

O amor 
nos tempos da Revolução Industrial

Meu amor já foi um campo cultivado na solidão...
Antes da revolução, eu plantava minhas sementes sozinho:
da ingenuidade prima ao eu sujeito simples e finalizado,
eu cultivava minha identidade,
me construía, tinha completo domínio de mim mesmo,
então você chegou, cheia de vapor, composta, rainha de si
e eu me perdi nas engrenagens de seu olhar dominador.

Você me fez só ver Você,
Você me fez deixar de ver
e eu, cego, segui Você,
acompanhei Seus avanços
e agora, mesmo Você me explorando,
eu não me canso de querer Você
só Você
sempre Você!

E foi tudo tão veloz
e foi tudo tão feroz
que eu aceitei ser vítima de seu progresso algoz
e Você me teceu como bem entendeu
e Você sempre Você
libertando-me da solidão de outrora
pra agora me prender
em sua máquina mágica de me fazer
só desejar Você
sempre Você
só Você!

Meu amor agora é campo desfeito,
sou eu perdendo o controle de mim mesmo
pra girar em torno do estranho desejo
de seguir me ignorando,
obedecer aos seus comandos
e viver amando
Você
só Você
sempre Você!


4 comentários:

  1. Fodástico!!! Quase dá pra ouvir o barulho constante e frenético do maquinário de uma indústria. Quase dá pra ver o vapor do carvão queimado se apagando aos poucos. Ficou demais!

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  2. realmente uma maravilhosa mistura de historia e poesia

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  3. Período histórico, revolução industrial, literatura, poema, amor...

    às vezes sinto falta dos seus textos no blog,

    acho que vc coloca, mesmo as coisas agressivas, de forma sutil e simples

    Valeu!

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