O “Verse essa canção” volta hoje com uma homenagem à grande
banda valenciana de rock Hipnotize, que, ontem, fez mais um show antológico no 2.º Serra do Funil Festival, em
Rio Preto /MG. A primeira vez que meus olhos musicais tiveram
oportunidade de serem hipnotizados pela excelente sonoridade da banda foi no 1.º Serra do Funil Festival. Daquela vez, meu primo Charles e eu fomos à Serra
do Funil num triciclo e enfrentamos as pedras e poeira da estrada de chão na
ânsia de uma aventura rock que renovasse nossas expectativas. Daquela vez, a
banda Hipnotize nos proporcionou um espetáculo raro de harmonia e emoção.
Voltamos pela mesma estrada, encaramos as mesmas pedras e poeira, mas nossos
corações aceleravam um sorriso de aventura bem sucedida. E, assim, me tornei fã
da banda, adquiri o CD deles (disponível para download no blog da banda - aí vai o link http://bandahipnotize.blogspot.com/ ) e meu ouvido
teve e tem o prazer de dançar extasiado na sonoridade de qualidade
inquestionável de Hipnotize. Ontem, meu corpo inteiro teve a oportunidade de
resgatar as emoções da primeira vez, novamente em um show da banda Hipnotize na
Serra do Funil (passando por aventura parecida: meu amigo Osvaldo e eu chegamos
a Rio Preto de ônibus atrasados; corremos desesperados pra pegar o único ônibus
que iria pra Serra do Funil; insistimos por celular com os organizadores pra
liberarem o transporte que ameaçou ser cancelado; fomos levados por um
motorista muito simpático e também muito louco; desfrutamos a beleza da serra e
enfrentamos o desconforto da estrada; bebemos todas; encontramos velhos amigos
– Pedro ‘Morcegão’ e Roberto Siqueira, ambos do grupo do facebook ‘prana puro’,
estavam lá; ouvimos muito boa música; voltamos pro centro de Rio Preto de
madrugada, umas 4 horas – tudo fechado; e, após duas horas, pegamos o ônibus de
volta a Valença com o sol mais uma vez sorrindo para os sonhos).
O “Verse essa canção” de hoje foi criado por mim a partir da
canção “Forte Clarão” (Composição de Marcus Prado, Marcelo Durval e André
Freitas), hit do primeiro CD da Hipnotize. A releitura que fiz tentou manter um
certo clima de sonho de minhas últimas postagens, que se encaixa bem com a atmosfera rockfolkprogressiva do
lirismo místico da banda homenageada. Espero que gostem... Fica o desejo de que
a Hipnotize continue hipnotizando nossas vidas com ritmos de sonho e rock.
Nada vai mudar tudo aquilo que já sou
Meus pés efervescentes vagam sobre o solo frio. A fumaça do
atrito de meus passos sobre o chão gelado é sentimento que esvoaça no infinito.
Sigo perdido, encontrando múltiplos caminhos para lugar nenhum. Sonhos, delírios...
sigo perdido, mas permaneço comigo.
Dias vêm e vão, sombras invadem meu caminho
Tempos de escuridão numa estrada de espinhos
Corpos estranhos me abraçam em minha rota insensata. O toque
inimigo em cada um desses gestos amigos são rosas castigadas de espinhos.
Cumprimento os corpos sem rostos como uma obrigação pra sobreviver na estrada
diária desses tempos de trevas coloridas. Cumprimento os corpos sem rostos, mas
minha face continua comigo.
Mas eu não vou me entregar jamais, pois eu faço meu destino
Mas eu não vou voltar atrás, já não sou mais um menino
Outra infância me chama nas costas das curvas cansadas do
caminho, mas não posso retroceder meus passos, não sou mais um menino. Deixo
pra trás um garoto sorrindo, mas não estou triste, pois meus adultos delírios
também sorriem novos destinos. Sonhos, delírios... estou crescido, mas continuo
comigo.
Nada vai mudar tudo aquilo que já sou
O solo cada vez mais frio, outros corpos estranhos
atravancam o caminho, lá trás outra vez o menino sorrindo... Tudo passa e
permanece comigo.
Em meio à multidão, me sinto sempre tão sozinho
Mesmo na solidão, sou na treva forte clarão
A multidão da rotina atropela meu descompasso aflito. Sua
linha reta de desejos exatos tenta obstruir a sinuosidade de meus atalhos de
sonhos incertos. A escuridão da multidão dificulta meus passos, mas meus olhos
cegos ainda brilham – forte clarão. Enlouquecido pelo tráfego embriagado de
realismo, resisto na solidão sóbria dos delírios que me iluminam. A multidão
espanca meus sonhos e delírios, mas, mesmo feridos, eles continuam comigo.
Mas eu não vou me entregar jamais, pois eu faço meu destino
Mas eu não vou voltar atrás, já não sou mais um menino
O menino sorrindo no caminho lamenta os brinquedos partidos
na reta estreita. Adulto, piso nos cacos deixados na curva que só eu sigo.
Mesmo despedaçado pelo passado, meus pés machucados seguem em frente. Mesmo
estilhaçado, me cicatrizo com novos sonhos e delírios... sou menino extinto,
mas ainda brinco comigo.
Nada vai mudar tudo aquilo que já sou
O vento sopra contra meu rosto. Sua voz violenta me
acaricia palavras de deserção. Mas, mesmo sozinho e com frio, sou legião.
Hipnotizado por sonhos e delírios, sigo contra o ar finito. Hipnotizado por
sonhos e delírios, sigo meu passageiro caminho rumo ao infinito. O ar me falta,
mas continuo vivo comigo.
Muito muito muito muito bom o texto!
ResponderExcluirValeu Carlos!
ResponderExcluirSua poesia soma com a nossa e se torna algo pra muito além do que projetamos.
A homenagem nos enche de orgulho e dá cada vez mais força pra gente continuar na estrada.
Que bom que tem gente vindo junto conosco.
Um grande abraço dos amigos do Hipnotize.