A postagem de ontem com o poema de Camila Canêdo, somada a minha
rotina de segunda-feira, que consiste em transitar entre diversos ônibus (de
Valença pro Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro pra Teresópolis, da rodoviária de
Teresópolis pro distrito de Três Córregos, breve descanso em casa pra novamente
sair de Três Córregos pra voltar ao centro da cidade, etc etc), me fizeram
lembrar de um antigo poema de minha autoria chamado “Ônibus”, publicado em meu
segundo livro “Promessas desfeitas” (1997).
O poema relembra os diversos
personagens das rituais viagens de ônibus, meio de transporte repleto de rotina
e tédio mortais. Dedicado a todos que perambulam o mundo em ônibus repletos de
realidades nossas e alheias.
O ônibus
Ônibus superlotado
Corpos presos à mesma gaiola
O cara suado
Que saiu do trabalho
A mulher gostosa
Que todo mundo passa a mão
O estudante disfarçado
De bom menino safado
A adolescente carinhosa
Que acaricia a solidão
Corpos imersos na rotina
Juntos na mesma prisão
Corpos que amam
Corpos que se odeiam
Corpos que esperam
O ponto de chegada
Pra voltarem às suas casas
O ponto de partida
Pra voltarem às suas vidas
Como se dentro do ônibus
Estivessem mortos...
A cada alma que passa pela roleta
É um morto que respira nos bancos
Dos ônibus
Esperando a sua vez de ressuscitar.
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