Hoje conheci um menino poeta. Sua professora, com os olhos
festivos e brilhantes, me apresentou esse premiado menino poeta. O garoto,
entre tantos outros, destacou-se num Festival Poético da cidade, com o tema
trânsito. Seus versos meninos pararam carros velozes e, pela primeira vez, ao
menos poeticamente, ninguém se acidentou nas estradas tecidas em suas estrofes
ritmadas. O menino poeta clamou pela calma e, em seus versos, os motoristas,
hipnotizados pelo lirismo, adormeceram seus lobos e a rodovia sentiu um dia de
paz sem as manchas vermelhas da intolerância no asfalto.
Me aproximei com cautela do menino talentoso; a força de
seus versos o defendem de sua frágil realidade. Deu-me um sorriso triste –
felicidade paradoxal de menino poeta... Manteve os olhos baixos e a alegria
tímida com minha presença e elogios. O aperto tímido das mãos mais uma vez me
lembraram cautela na minha expansão lírica diante de tão novo talento. Senti a
força de sua poesia em seus pequenos silêncios; mesmo cabisbaixo, ele brilhava.
Pedi que me prometesse novos poemas, que compartilhasse suas
solidões poéticas no meu blog e, finalmente, pela primeira vez, ele ergueu-me o
olhar. Seu brilho genuíno em olheiras invisíveis encarou-me, eu vi que havia
mundos misteriosos e infinitos em seus olhos e ele viu que eu não mentia. Outro
sorriso triste – ah!daqueles que só meninos poetas sabem nos dar! – e, numa
coragem tímida, ele me respondeu que sim. Sim! Ele brilha, o menino poeta
brilha! Mais uma vez, o percebi cabisbaixo diante de meu contentamento, então
despedi-me e me afastei com medo de ferir a frágil luz de vagalume que o menino
poeta guardava nas mãos hesitantes e encantadas.
Voltei à sala dos professores, a professora me perguntou o
que achei dele – os olhos dela ainda brilhavam intensamente; encantamento
eterno pelo menino poeta educado e acordado por ela. Transferi o sorriso triste
do menino poeta: “Sim, ele é um poeta, um grande menino poeta” (se não disse
exatamente assim é assim como deveria exatamente ter dito).
Depois que ela saiu, fui ao banheiro, me olhei no espelho e,
decomposto e cansado, me encarei: oh, meu Deus, aquele menino poeta ali fora já
foi eu!... A torneira aberta derrama frias águas cristalinas de alguma infância
perdida que ainda insiste em molhar minhas velhas mãos poéticas. Sim! O menino
poeta ainda existe!
Nossa, que lirismo...... Assim são os poetas, estranhamente tímidos e no entanto querem loucamente ser ouvidos! Vc conheceu mais um sofredor das palavras, mais uma luz dentro dessa nossa treva branca.
ResponderExcluirEu estou muito feliz!!! Por participar da educaçao do menino poeta que me fez sentir um pouco mãe .... .Feliz por ter acordado a poesia na vida de uma criança!!!
ResponderExcluirBela postagem e meritório incentivo ao menino. Todo o amparo do mundo aos neonatos poetas. Que o pano de fundo que os inspira, conhecido como universo, seja complexo a ponto de deles extrair as mais singelas palavras. E que ora ou outra seja simples a ponto de poder ser complexamente explicado pelo prisma de uma criança.
ResponderExcluirBelo texto. Fiquei com água na boca para ler o poema do pequeno e promissor grande poeta.
ResponderExcluirParabéns pela delicadeza poética com o menimo e com o texto sobre ele.