sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Presenças que brilham mesmo no escuro: Hoje conheci um menino poeta


Hoje conheci um menino poeta. Sua professora, com os olhos festivos e brilhantes, me apresentou esse premiado menino poeta. O garoto, entre tantos outros, destacou-se num Festival Poético da cidade, com o tema trânsito. Seus versos meninos pararam carros velozes e, pela primeira vez, ao menos poeticamente, ninguém se acidentou nas estradas tecidas em suas estrofes ritmadas. O menino poeta clamou pela calma e, em seus versos, os motoristas, hipnotizados pelo lirismo, adormeceram seus lobos e a rodovia sentiu um dia de paz sem as manchas vermelhas da intolerância no asfalto.
Me aproximei com cautela do menino talentoso; a força de seus versos o defendem de sua frágil realidade. Deu-me um sorriso triste – felicidade paradoxal de menino poeta... Manteve os olhos baixos e a alegria tímida com minha presença e elogios. O aperto tímido das mãos mais uma vez me lembraram cautela na minha expansão lírica diante de tão novo talento. Senti a força de sua poesia em seus pequenos silêncios; mesmo cabisbaixo, ele brilhava.
Pedi que me prometesse novos poemas, que compartilhasse suas solidões poéticas no meu blog e, finalmente, pela primeira vez, ele ergueu-me o olhar. Seu brilho genuíno em olheiras invisíveis encarou-me, eu vi que havia mundos misteriosos e infinitos em seus olhos e ele viu que eu não mentia. Outro sorriso triste – ah!daqueles que só meninos poetas sabem nos dar! – e, numa coragem tímida, ele me respondeu que sim. Sim! Ele brilha, o menino poeta brilha! Mais uma vez, o percebi cabisbaixo diante de meu contentamento, então despedi-me e me afastei com medo de ferir a frágil luz de vagalume que o menino poeta guardava nas mãos hesitantes e encantadas.
Voltei à sala dos professores, a professora me perguntou o que achei dele – os olhos dela ainda brilhavam intensamente; encantamento eterno pelo menino poeta educado e acordado por ela. Transferi o sorriso triste do menino poeta: “Sim, ele é um poeta, um grande menino poeta” (se não disse exatamente assim é assim como deveria exatamente ter dito).
Depois que ela saiu, fui ao banheiro, me olhei no espelho e, decomposto e cansado, me encarei: oh, meu Deus, aquele menino poeta ali fora já foi eu!... A torneira aberta derrama frias águas cristalinas de alguma infância perdida que ainda insiste em molhar minhas velhas mãos poéticas. Sim! O menino poeta ainda existe!   

4 comentários:

  1. Nossa, que lirismo...... Assim são os poetas, estranhamente tímidos e no entanto querem loucamente ser ouvidos! Vc conheceu mais um sofredor das palavras, mais uma luz dentro dessa nossa treva branca.

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  2. Eu estou muito feliz!!! Por participar da educaçao do menino poeta que me fez sentir um pouco mãe .... .Feliz por ter acordado a poesia na vida de uma criança!!!

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  3. Bela postagem e meritório incentivo ao menino. Todo o amparo do mundo aos neonatos poetas. Que o pano de fundo que os inspira, conhecido como universo, seja complexo a ponto de deles extrair as mais singelas palavras. E que ora ou outra seja simples a ponto de poder ser complexamente explicado pelo prisma de uma criança.

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  4. Belo texto. Fiquei com água na boca para ler o poema do pequeno e promissor grande poeta.

    Parabéns pela delicadeza poética com o menimo e com o texto sobre ele.

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