Sabe quando delírios loucos te perseguem durante seu sono?
Você acorda suado, parece estar com febre, relembra imagens doidas que dançam
em sua cabeça, olha pra manhã real e ela é cinza, porém o sol, com o tempo,
ameaça te queimar. Sua mente implora a volta para a cama, a chama
incandescente, a volta aos sonhos, mas seu corpo é real e o trabalho o levanta.
Hoje me levantei assim e os delírios ainda permanecem em mim. Fui para a escola,
ao trabalho – em comemoração ao dia das crianças colocaram um parque no pátio
da escola, tudo é divertido - e minha cabeça, ainda excitada com bilhões de
imagens que ainda dançam nos palcos de Morfeu, deus do sono, agita o corpo –
brinco com os alunos; como eles, volto a ser criança, na tentativa de dar
pureza aos delírios impuros que permanecem em minha mente. Finda a
responsabilidade, o horário determinado, volto pra rua, mais trabalho, estou
cansado, a rotina continua, os sonhos mantidos em meu inconsciente e a
realidade parece tosca, mas minha teimosia pela vida – seja ela qual for - me
obriga a continuar. Sigo em frente, os sonhos sempre na mente, me cansando pra
mais uma vez dormir, pra mais uma vez despertar o corpo pro sono, pra um novo
delírio continuar. O poema abaixo “Novas Ideias Íntimas”, publicado no livro
“Eu e outras Províncias”, é em homenagem ao grande poeta ultraromântico Álvares
de Azevedo, conhecido pelo seu ardente lirismo de tédio e delírios febris, e
fala um pouco sobre essa viagem noturna e regular pelo insone universo paralelo
dos sonhos:
Novas idéias íntimas
Invadir-se... evadir-se...
fugir de si... fulgir!
Vem a carruagem dourada
pelos campos de rosas vermelhas.
O meu sangue ferve:
o vermelho floresce com a tua vinda encantada
e desces... se... se... se...
ti... até mim.
És a musa esperada, morena pálida,
impávida... vida... vida...
e te aproximas... imãs... imãs...
e te aproximas de mim.
Nesta névoa, sou rei, sou o fim da república,
sou DEUS! Sou TUDO
TUDO TUDO TUDO TUDO!
Tu, o mundo, meu coração diz
que sou dono de TUDO TUDO TUDO TUDO
Tudo... e para! Pra onde?
Pra claridade do sol em minha janela,
pras sombras das grades em minha janela
sobre meu peito:
NADA NADA NADA NADA
NADA! Foi apenas um sonho
e eu choro sem lágrimas
o suor no rosto desperto,
o silêncio do quarto frio,
a solidão de um quarto escuro e sombrio.
[Meu coração (Tudotudotudo
tudo cada vez mais nada,
meu coração... mais nada)
meu coração abriga fantasmas
(meu coração fantasma)
lindas fantasmas que me beijam
durante o sono
e a vida (NADANADANADA)
a vida é carruagem
que vira abóbora quando acordo]
TOSSE TOSSE TOSSE TOSSE!
Fumo TUDOTUDOTUDOTUDO...
Se eu fosse rei,
se eu fosse Deus,
se eu fosse,
se eu... foda-se!
CINZAS CINZAS CINZAS
são cigarros mortos no cinzeiro sem esperança.
Invejo os objetos que me cercam
com suas alegrias estáticas:
só eles são felizes,
só eles não sonham.
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