sábado, 8 de outubro de 2011

Poema de sonhos insones: Novas Ideias Íntimas


Sabe quando delírios loucos te perseguem durante seu sono? Você acorda suado, parece estar com febre, relembra imagens doidas que dançam em sua cabeça, olha pra manhã real e ela é cinza, porém o sol, com o tempo, ameaça te queimar. Sua mente implora a volta para a cama, a chama incandescente, a volta aos sonhos, mas seu corpo é real e o trabalho o levanta. Hoje me levantei assim e os delírios ainda permanecem em mim. Fui para a escola, ao trabalho – em comemoração ao dia das crianças colocaram um parque no pátio da escola, tudo é divertido - e minha cabeça, ainda excitada com bilhões de imagens que ainda dançam nos palcos de Morfeu, deus do sono, agita o corpo – brinco com os alunos; como eles, volto a ser criança, na tentativa de dar pureza aos delírios impuros que permanecem em minha mente. Finda a responsabilidade, o horário determinado, volto pra rua, mais trabalho, estou cansado, a rotina continua, os sonhos mantidos em meu inconsciente e a realidade parece tosca, mas minha teimosia pela vida – seja ela qual for - me obriga a continuar. Sigo em frente, os sonhos sempre na mente, me cansando pra mais uma vez dormir, pra mais uma vez despertar o corpo pro sono, pra um novo delírio continuar. O poema abaixo “Novas Ideias Íntimas”, publicado no livro “Eu e outras Províncias”, é em homenagem ao grande poeta ultraromântico Álvares de Azevedo, conhecido pelo seu ardente lirismo de tédio e delírios febris, e fala um pouco sobre essa viagem noturna e regular pelo insone universo paralelo dos sonhos:

Novas idéias íntimas
           
Invadir-se... evadir-se...
fugir de si... fulgir!
Vem a carruagem dourada
pelos campos de rosas vermelhas.
O meu sangue ferve:
o vermelho floresce com a tua vinda encantada
e desces... se... se... se...
ti... até mim.
És a musa esperada, morena pálida,
impávida... vida... vida...
e te aproximas... imãs... imãs...
e te aproximas de mim.
Nesta névoa, sou rei, sou o fim da república,
sou DEUS! Sou TUDO
TUDO TUDO TUDO TUDO!
Tu, o mundo, meu coração diz
que sou dono de TUDO TUDO TUDO TUDO
Tudo... e para! Pra onde?
Pra claridade do sol em minha janela,
pras sombras das grades em minha janela
sobre meu peito:
NADA NADA NADA NADA
NADA! Foi apenas um sonho
e eu choro sem lágrimas
o suor no rosto desperto,
o silêncio do quarto frio,
a solidão de um quarto escuro e sombrio.
[Meu coração (Tudotudotudo
tudo cada vez mais nada,
meu coração... mais nada)
meu coração abriga fantasmas
(meu coração fantasma)
lindas fantasmas que me beijam
durante o sono
e a vida (NADANADANADA)
a vida é carruagem
que vira abóbora quando acordo]
TOSSE TOSSE TOSSE TOSSE!
Fumo TUDOTUDOTUDOTUDO...
Se eu fosse rei,
se eu fosse Deus,
se eu fosse,
se eu... foda-se!
CINZAS CINZAS CINZAS
são cigarros mortos no cinzeiro sem esperança.
Invejo os objetos que me cercam
com suas alegrias estáticas:
só eles são felizes,
só eles não sonham.

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