A chuva intensa mantém o seu objetivo: transmitir o desafeto
do tempo com o famigerado horário de verão que tenta reduzir nossos momentos. Posto
hoje um poema de minha juventude poética, publicado no meu primeiro livro “Fim
do fim do mundo” (1997), mas escrito dois anos antes. “Tic Tac" é um poema
filosófico, pensando na efemeridade do tempo, seu poder absoluto sobre os
destinos humanos e cita alguns acontecimentos da época: o gol de barriga do
tricolor Renato Gaúcho sobre o Flamengo de Romário, os acidentes de carro sempre presentes nos noticiários (que
ainda hoje infelizmente são frequentes). Ligeiramente inspirado na canção “Tempo”,
cantado por Sandra de Sá e Titãs. Espero que gostem.
Tic-Tac
Carros aceleram
Tempo
Carros têm pressa de chegar.
A velocidade
O risco da porta de chegada
Do poste da esquina
Carros nem sempre chegam
Aonde deviam chegar...
Horários de verão roubam
Tempo
Horários de verão vêm pra acordar
O bom burguês
O cisco da última noitada
Da uma hora perdida
Horários de verão não convencem
O sol pontual...
Homens perdem
Tempo
Homens pedem Tempo pra pagar
As contas do mês
O churrasco depois da pelada
Do gol de barriga
Homens quase sempre pisam
Em relógios afim de fingir
Que estão acima do Tempo.
Crianças brincam com
Tempo
Adolescentes têm medo do
Tempo
Adultos correm sem
Tempo
Canibais comem
Tempo
Burgueses vendem
Tempo
Velhos vêem o Tempo sorrir
Ao dizer: “Eu venci! Eu venci!”
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