Enquanto muitos se preocupam com o estrangeiro Halloween (Dia das Bruxas), lembro que hoje o nosso maior poeta nacional Carlos Drummond de Andrade faria 109 anos de idade e que seus versos permanecem removendo pedras nos caminhos da consciência de cada leitor de seus poemas neste mundo mundo vasto mundo. Posto hoje o poema "Triste fim de José Drummond", minha homenagem - inspirada principalmente no excelentíssima obra prima drummondiana "José" - ao mestre itabirano do lirismo confessional sem se confessar (ah! Há paradoxos que só o gauche Carlos Drummond sabia estabelecer!). Se o leitor não gostar, a culpa não é minha, é o ouvido do leitor que não soube entortar (rs... quem conhece a obra de Drummond, sabe a referência desta frase burlesca).
Triste fim de José Drummond
(E agora, Drummond?)
No fim da festa,
a luz se apaga
e nenhum poema acontece.
Nem Raimundo,
nem Maria,
nem Fulana,
nem João;
apenas a noite
contempla seu corpo, José.
O salão vazio,
o eu retorcido,
a solidão...
Onde está Todomundo, José?
Drummond, Drumundo, aonde?
As palavras não vêm,
a febre não passa
e o tempo transforma
o frio em gelo,
o ódio em pranto,
o fogo em fumaça.
A vida é um bonde
que não existe mais,
uma utopia que não há.
E agora, José?
E agora, sem você?
A porta aberta;
com a chave na mão,
você espera,
mas ninguém chega,
ninguém entra,
ninguém vê
as lágrimas dos versos,
as Minas de saudades,
Itabira sem óculos,
Itabira cega.
O que espera, José?
Drummond, Drumudo, por quê?
É agora!
A hora de gritar,
a hora de gemer,
a hora de tocar
qualquer coisa
(até a valsa vienense),
é a aurora!...
mas você não acorda, José.
A palavra sono
rima com a sua carne:
Drummond adormece.
A Rosa murcha
cai do terno de vidro
sem dor,
sem dó,
em silêncio eterno,
enquanto, na noite fria,
um poema escondido
pergunta à pedra insuperável
no meio do caminho:
Por que derrubaste Drummond?
Por quê?
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