terça-feira, 18 de outubro de 2011

Velhos poemas juvenis: Se o sonho fosse certo


O tempo ‘invernal’ e chuvoso e o céu cinza e tosco lembram-me um outono outubro em plena primavera esquartejada pelo horário de verão. Tal instabilidade de estações, somadas às realidades ferozes que danam as flores de sonhos do jardim, provoca-me leve desespero, busca por novos velhos tempos (a Antiguidade ideal, desejada pelo escritor cearense Vinicius Morais, talvez fosse um bom lugar pra retornar) e traz de volta velhos poemas juvenis. Mais um do meu primeiro livro “Fim do fim do mundo” (1997 – edição esgotada como o jardineiro cansado que, graças a borboletas de chamas que lhe aquecem o coração, permanece mantendo vivas as esperanças no quintal). O poema juvenil desta postagem usa e abusa da, recém-aprendida na época, aliteração, recurso estilístico que consiste na utilização de diversas palavras com o mesmo som. Que o “s” sussurrado em sonhos suaves faça cócegas em nossa sanidade servil e seja sentido pela sociedade insensível:

Se o sonho fosse certo

Se nossos sábios soubessem que suas sapiências
Só servem pra sustentar suas solidões incertas
Se nossa sociedade soubesse o que o sabiá
Assovia sobre a serenidade dos sonhos
Se nossos sinos badalassem sons
Menos sombrios e submissos
Se nossos lábios se tocassem de seus Sentimentos
Se nossos sábios soubessem da santidade Incerteza
Se nossa sociedade chorasse e com certeza Sangrasse
Se nossos sinos ouvissem a sapiência Sabiá
Nossos sábados não seriam secos
Nossas secas não seriam cinzas
Nossos cérebros não seriam cegos
E essa poesia não seria somente um sonho.

Um comentário:

  1. Em algum lugar dentro da Eternidade os sonhos poéticos se concretizam... Os sonhos não podem se perder, ou as flores dessa primavera amargurada nunca florescerão... Belo poema, intensos "S".

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