O tempo ‘invernal’ e chuvoso e o céu cinza e tosco
lembram-me um outono outubro em plena primavera esquartejada pelo horário de
verão. Tal instabilidade de estações, somadas às realidades ferozes que danam
as flores de sonhos do jardim, provoca-me leve desespero, busca por novos
velhos tempos (a Antiguidade ideal, desejada pelo escritor cearense Vinicius
Morais, talvez fosse um bom lugar pra retornar) e traz de volta velhos poemas
juvenis. Mais um do meu primeiro livro “Fim do fim do mundo” (1997 – edição esgotada
como o jardineiro cansado que, graças a borboletas de chamas que lhe aquecem o
coração, permanece mantendo vivas as esperanças no quintal). O poema juvenil desta
postagem usa e abusa da, recém-aprendida na época, aliteração, recurso
estilístico que consiste na utilização de diversas palavras com o mesmo som.
Que o “s” sussurrado em sonhos suaves faça cócegas em nossa sanidade servil e
seja sentido pela sociedade insensível:
Se o sonho fosse certo
Se nossos sábios soubessem que suas sapiências
Só servem pra sustentar suas solidões incertas
Se nossa sociedade soubesse o que o sabiá
Assovia sobre a serenidade dos sonhos
Se nossos sinos badalassem sons
Menos sombrios e submissos
Se nossos lábios se tocassem de seus Sentimentos
Se nossos sábios soubessem da santidade Incerteza
Se nossa sociedade chorasse e com certeza Sangrasse
Se nossos sinos ouvissem a sapiência Sabiá
Nossos sábados não seriam secos
Nossas secas não seriam cinzas
Nossos cérebros não seriam cegos
E essa poesia não seria somente um sonho.
Em algum lugar dentro da Eternidade os sonhos poéticos se concretizam... Os sonhos não podem se perder, ou as flores dessa primavera amargurada nunca florescerão... Belo poema, intensos "S".
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