Hoje estava ouvindo mais cedo a canção "Um cara de sorte", da Banda Detonautas Roque Clube, que tocará neste sábado, dia 03 de setembro, no Clube dos Coroados, em Valença. O novo hit da banda é uma balada que fala sobre um eu lírico "com uma vontade enorme de sair e andar sem direção, sem destino e sem medo da morte, simplesmente andar e ouvir o que dirá meu coração". Após o primeiro toque do refrão ("Não vou deixar que alguém/ Conquiste o impossível por mim, ahhh eu não vou deixar que alguém / Conquiste o impossível por mim, eu não vou deixar"), o eu lírico da letra da canção se dirige à pessoa amada, pedindo-lhe perdão e lembrando que ela é quem está sempre o protegendo em silêncio e que ele nunca soube expressar o seu amor e carinho "em palavras de novela". Nesse momento, um verso da canção me prende: "Mas quando a gente cresce, a gente aprende a dar valor a quem está perto". Por quê? Na verdade, são porquês: hoje está um frio danado, daqueles que gelam qualquer alma solitária, estou sozinho em Teresópolis trabalhando muito ("E tudo que eu conquistei, foi com o suor do meu trabalho" é outro verso da canção citada), passei as últimas semanas entrando em diversas polêmicas quixotescas (o sistema não muda, caros amigos; a gente grita, então ele tapa os ouvidos), quando me meto em confusões assim, me torno uma pessoa quase que intratável para o convívio social e minha namorada Juliana, longe ou perto, sempre me apoiou e nem sempre sei me expressar bem para retribuir essa proteção que ela dá pra um artista insano como eu, pronto, o frio está se intensificando mais ainda, a balada dos detonautas entra em minha mente e relembro de uma crônica que escrevi há cerca de 3 anos atrás, numa noite assim, num leve desespero assim. O nome da crônica é "O lirismo pungente" e foi premiada com menção honrosa no 11.º Prêmio Missões, em Roque Gonzales/RS. Essa postagem de hoje é totalmente dedicada a minha namorada Juliana (ela foi a musa inspiradora dos escritos há 3 anos atrás e torna a ser agora que relembro o texto), que já segurou diversas vezes minha barra, e a todos os "caras de sorte". Pra ser lida ao som de "Um cara de sorte", excelente balada do Detonautas, "Quando eu te encontrar", de Biquíni Cavadão, "À flor da pele", de Zeca Baleiro, e "Fico assim sem você" (do Claudinho e Bochecha, em versão de Adriana Calcanhoto):
O lirismo pungente
Amada,
Hoje fui num espetáculo teatral para crianças baseado em poemas de Drummond e, mais uma vez, aproveitei uma infância que não tive, um deslumbramento de criança que não me existe mais... Talvez quando fui no circo dos antigos Trapalhões e tive a oportunidade de conhecer, ou melhor, abraçar - porque conhecer é algo muito mais complexo que só adultos pensamos e inventamos - Dedé, Mussum, Zacarias (Didi não foi), senti alguma sensação igual, meio entrega tola, meio aceitação ingênua, mas esses momentos são flashs distantes que minha 'maturidade' corrompeu e quase esqueceu.
Saí do teatro com uma vontade exigente de lhe escrever, como se minha vida dependesse disso, como se o poeta Rilke falasse em meus ouvidos: "escrever é preciso?" Sim, eu preciso!... Não, não confunda minhas notícias, minhas tours culturais pela nova cidade como luxo, ostentação; não quero me envaidecer ou despertar-lhe a inveja... É que preciso dividir essa avalanche de novidades com alguém, você sabe, eu preciso dividir senão explodo, enlouqueço e sinto ainda mais falta de você, da arte que construímos amorosamente juntos e que a distância agora atrapalha. Mas a arte não tem barreiras, por isso os quadros invisíveis do amor no coração, as palavras pousando nas mãos, POR ISSO PRECISO DIVIDIR, COMUNICAR-ME COM VOCÊ! Senão meu mundo está destruído, perde o pouco de sentido que ainda possui, perde você, perde o nosso mundo, por isso a necessidade: escrever é rever você e, ao mesmo tempo, salvar a mim.
Há mais dramas e desesperos do que você pode imaginar nos dedos que lhe escrevem, nas mãos que se oferecem às palavras, na mente que age de forma (deforma) hipnótica... O grupo teatral daqui me lembrou os grupos teatrais daí... e isso me gerou uma calma explosiva, um desespero tranqüilo, uma tempestade serena, entende? Como o Marco Polo das "Cidades Invisíveis" de Ítalo Calvino, quanto mais vejo outros lugares, mais me lembro de minha cidade afetiva, que nem é minha, tanto que se distancia. A cidade que criei não existe, mas ela cresceu demais, como os delírios de Marx e More, ela existe em mim independente de mim.
Sei que estou sendo mais uma vez confuso e sei que, por mais esquisito que eu seja, você vai me entender; saber disso me faz sentir uma imensa alegria estranha que me dá vontade de chorar. Você sempre teve razão quando me disse que meu lirismo é bêbado - só assim para explicar essa poesia alienígena que toma conta de mim e me enche de tamanhos paradoxos, só um bêbado pode ser mais paradoxal que Camões...
Mas não pense que choro ou que estou triste, pois é exatamente o contrário: eu sorrio e estou feliz numa felicidade reflexiva - e não imbecil como os alienados festivos sorriem e vivem felizes. É uma melancolia feliz, por ser eu, por senti-la, mesmo distante, sentir a cidade afetiva, sentir você, próxima/distante, num movimento sensual de alma e corpo, saudade e toque.
Está frio, uma chuva deixou os caminhos molhados por aqui, na rádio ouvi Adriana Calcanhoto cantando Claudinho e Bochecha: "sou eu assim sem você/ eu preciso tanto de você/a solidão é meu pior castigo..." e, mesmo treinando minhas independências, uma corrente fantástica me lança, me arrasta até essa confissão, o eu te amo de "Vamos fazer um filme", do poeta Renato Russo (e eu tanto tempo rejeitei esta canção...), é a tal alegria estranha que me dá vontade de chorar, mas eu não choro, meus olhos são secos e melancolicamente felizes por escrever estas palavras confusas e saberem que você vai me compreender...
Estou sendo prolixo (ah! lirismo pungente bêbado sem beber!); tudo isso era apenas para lhe dizer que sinto saudades e porque precisava escrever para me manter vivo, manter-me vivo com você - se não posso sempre estar fisicamente diante de você, que pelo menos as palavras encontrem os seus olhos, o seu corpo, seus amores e medos, que as palavras encontrem você até eu voltar, até me ressuscitar - carne, osso e algo mais - com você.
Saudações poéticas
Beijos Amorosos
Abraços sem braços
Até eu reencontrar você
Carlos Brunno S. Barbosa
Muito obrigada, ultimamente vc tem segurado mais "minhas barras", do que eu as suas. TE AMO!
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