segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Poema menstruado: Ciclo

Hoje, dia 19 de setembro, comemoramos o dia em que o primeiro país (Nova Zelândia) instituiu o voto feminino (1893). Em homenagem a este dia, posto hoje o poema, de minha autoria, "Ciclo", premiado com 5.º lugar no IV Concurso de Poesia Contemporânea/Ars Viva, em Santos, e publicado em meu 5.º livro "Eu e outras províncias". 
O poema, inspirado na poética sanguínea de Marina Colasanti (é uma das raras poetas que dá um caráter positivo e feminista à menstruação), utiliza um eu lírico feminino, em busca de reabilitação de seus traumas amorosos. Espero que gostem:


Ciclo

Vermelha vermelha
como a maçã de teu rosto
diante de meu corpo
                                   despido
                                      cedido
                                        sedento
                                                 febril
                                                        naquele dia antigo.

Era rubor ou apenas fúria
o que a cor de tua face me dizia
naquele dia?
(naquele dia...)

Sozinha sozinha
eu e a rosa rubra
que se despetala de meu corpo
todos os meses neste banheiro frio e aflito
(Dor, prazer
                  Dor... prazer!
                                       DOR, DOR!
Espinhos: teu rosto vermelho partindo
                                                           em preto e branco
naquele dia tão bonito e antigo).

Como posso sangrar sangrar
e permanecer viva
ainda?
Ainda!

Nova novíssima
despeço-me das feridas destranco a porta e é outro dia!

O calor do sol sangrento me ressuscita...

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