Pretendia hoje postar um “Verse
essa canção” alegre com uma letra de música do Mangabrothers, ótima banda de
reggae de Teresópolis/RJ, pra comemorar o aniversário do grande vocalista
Flavio Mangaba, mas as últimas notícias mudaram o planejamento feliz dessa
postagem... Nesta madrugada de sábado, o músico Kadinho, amigaço de Flavio
Mangaba e roqueiro teresopolitano de raro talento, foi assassinado, baleado por
um homem numa moto preta. 6 tiros fatais encerraram a vida de um artista que
sempre ergueu à eternidade os clássicos do rock em Teresópolis. A mim,
do reggae feliz inicial, restou o balanço triste das cordas de uma guitarra
quase calada, ainda tentando solos de paz nesses momentos sem compaixão. O
“Verse essa canção” de hoje é uma releitura lírica e aflita da letra da canção
“Flecha”, dos Mangabrothers, dedicada a Kadinho (in memoriam), a Flavio Mangaba
e ao silêncio triste deixado sempre que uma arma incompreensivelmente dispara
contra os sorrisos da arte.
Seu olho erra
a flecha que você lançou
Sua mão acerta
somente quando você molha a flor
Quem sai na chuva
e não entende como se molhou
Joga no outro
a culpa que ele nunca carregou
Motoqueiro fantasma, por que
atiras no peito de quem nunca atirou? Por que a chuva de ódio no prenúncio de
um sol de amor? Esse corpo que cai neste meu reggae de dor... motoqueiro da
morte, por que mataste o bom e velho rock’n roll? Meus companheiros agora
sofrem com a frieza de teu golpe num dia que deveria ser de calor...
Mas deixa que o tempo vai fazer
acreditar que são
As curvas que vão fazer mudar a
direção
Deixa que o vento vai secar a
poça ali no chão
E a noite vai te ensinar com a
escuridão
Sei que não te comoves,
motoqueiro fantasma, mas a minha palavra é faca pra cortar o maldito cordão que me prende a ti.
Ignoro teus motivos sem razão; eternizo o corpo que atiraste ao chão. A melodia
é triste, mas pede paz no coração; o sangue que deixaste vai retornar sempre em
forma de canção. Trago a luz da eternidade pra quem mataste e deixo-te só no
aprendizado da escuridão!
Seu olho cega
quando você destroi o seu irmão
Seu corpo peca
quando você distorce a união
Quem não carrega
boa-vontade em seu coração
joga no outro
a culpa pela sua solidão
Segues cego pela rodovia da
violência estagnada, motoqueiro da dor, segues teu caminho sozinho rumo ao
nada! Fico com o amigo perdido, eternizado em minhas palavras... Parte pro poço
vazio sem infinito, assassino das estradas, o cadinho de Midas que trago em
minhas mãos pálidas abençoo o amigo caído, o amigo de meus amigos, tento manter
vivo o brilho de ouro ofuscado pelas tuas ciladas sem coração. Segue sozinho teu
caminho sem vida, motoqueiro fantasma, que vou cuidar das almas partidas pela
tua contramão.
Mas deixa que o tempo vai fazer
acreditar que são
As curvas que vão fazer mudar a
direção
Deixa que o vento vai secar a
poça ali no chão
E a noite vai te ensinar com a
escuridão
Teu nome é desconhecido,
motoqueiro fantasma, e permanecerá assim em mim, mesmo que as tevês o digam com
destaque em suas programações! Mantenho o rumo contrário pra tua direção
obscura, ser maldito, que a luz da eternidade ilumine apenas aquele que partiu
vítima das tuas torturas, alvo da tua falta de compaixão. Fica pra sempre o
solo de guitarra do amigo perdido neste poema reggae que sangra o brilho aflito
do pacífico infinito contra a tua violenta escuridão!
Texto emocionante, pena as circunstâncias adversas...
ResponderExcluirGostei muito do que li da sensibilidade aflorada, posta em palavras bem colocadas, com cuidado de despertar para o inevitável a verdade.
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