sábado, 10 de setembro de 2011

Verse essa canção: Reggae triste pra "Flecha" de Mangabrothers


Pretendia hoje postar um “Verse essa canção” alegre com uma letra de música do Mangabrothers, ótima banda de reggae de Teresópolis/RJ, pra comemorar o aniversário do grande vocalista Flavio Mangaba, mas as últimas notícias mudaram o planejamento feliz dessa postagem... Nesta madrugada de sábado, o músico Kadinho, amigaço de Flavio Mangaba e roqueiro teresopolitano de raro talento, foi assassinado, baleado por um homem numa moto preta. 6 tiros fatais encerraram a vida de um artista que sempre ergueu à eternidade os clássicos do rock em Teresópolis. A mim, do reggae feliz inicial, restou o balanço triste das cordas de uma guitarra quase calada, ainda tentando solos de paz nesses momentos sem compaixão. O “Verse essa canção” de hoje é uma releitura lírica e aflita da letra da canção “Flecha”, dos Mangabrothers, dedicada a Kadinho (in memoriam), a Flavio Mangaba e ao silêncio triste deixado sempre que uma arma incompreensivelmente dispara contra os sorrisos da arte.

Seu olho erra
a flecha que você lançou
Sua mão acerta
somente quando você molha a flor
Quem sai na chuva
e não entende como se molhou
Joga no outro
a culpa que ele nunca carregou

Motoqueiro fantasma, por que atiras no peito de quem nunca atirou? Por que a chuva de ódio no prenúncio de um sol de amor? Esse corpo que cai neste meu reggae de dor... motoqueiro da morte, por que mataste o bom e velho rock’n roll? Meus companheiros agora sofrem com a frieza de teu golpe num dia que deveria ser de calor...

Mas deixa que o tempo vai fazer acreditar que são
As curvas que vão fazer mudar a direção
Deixa que o vento vai secar a poça ali no chão
E a noite vai te ensinar com a escuridão

Sei que não te comoves, motoqueiro fantasma, mas a minha palavra é faca pra cortar o maldito cordão que me prende a ti. Ignoro teus motivos sem razão; eternizo o corpo que atiraste ao chão. A melodia é triste, mas pede paz no coração; o sangue que deixaste vai retornar sempre em forma de canção. Trago a luz da eternidade pra quem mataste e deixo-te só no aprendizado da escuridão!

Seu olho cega
quando você destroi o seu irmão
Seu corpo peca
quando você distorce a união
Quem não carrega
boa-vontade em seu coração
joga no outro
a culpa pela sua solidão

Segues cego pela rodovia da violência estagnada, motoqueiro da dor, segues teu caminho sozinho rumo ao nada! Fico com o amigo perdido, eternizado em minhas palavras... Parte pro poço vazio sem infinito, assassino das estradas, o cadinho de Midas que trago em minhas mãos pálidas abençoo o amigo caído, o amigo de meus amigos, tento manter vivo o brilho de ouro ofuscado pelas tuas ciladas sem coração. Segue sozinho teu caminho sem vida, motoqueiro fantasma, que vou cuidar das almas partidas pela tua contramão.

Mas deixa que o tempo vai fazer acreditar que são
As curvas que vão fazer mudar a direção
Deixa que o vento vai secar a poça ali no chão
E a noite vai te ensinar com a escuridão

Teu nome é desconhecido, motoqueiro fantasma, e permanecerá assim em mim, mesmo que as tevês o digam com destaque em suas programações! Mantenho o rumo contrário pra tua direção obscura, ser maldito, que a luz da eternidade ilumine apenas aquele que partiu vítima das tuas torturas, alvo da tua falta de compaixão. Fica pra sempre o solo de guitarra do amigo perdido neste poema reggae que sangra o brilho aflito do pacífico infinito contra a tua violenta escuridão!

2 comentários:

  1. Texto emocionante, pena as circunstâncias adversas...

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  2. Gostei muito do que li da sensibilidade aflorada, posta em palavras bem colocadas, com cuidado de despertar para o inevitável a verdade.

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