Depois de algumas postagens
otimistas, minha bipolaridade resgata o pessimismo adormecido na viagem
desastrada pelas margens de uma cidade perdida, às vésperas das festas da
Independência de um Brasil que nunca foi livre. Todos comemoram a vida, a
vitória de seu time, mas o ar continua sujo e ninguém assiste as lágrimas do
torcedor derrotado do outro lado. A festa cultural do aniversário de Valença se
aproxima e relembro que continuo excluído, os políticos corruptos continuam
sendo ‘inocentados’ e todas as vozes que podem reclamar um mundo melhor assinam
contratos bem pagos de silêncios massificados. Meu ex-professor Fábio Elionar
me lembrou ontem que o vazio não é só nosso; é do mundo todo. Lembrar dele me
fez retomar a leitura do livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima
Barreto. O livro, quase que totalmente ignorado em sua época, tornou-se um
marco da Literatura Brasileira e o precursor do Modernismo ‘tupiniquim’,
movimento que, aos poucos, libertou nossa arte das amarras dos modelos
europeus. A obra de Lima Barreto é protagonizada pelo personagem Policarpo
Quaresma, um patriota extremista e ingênuo que busca desastrosamente dar
identidade e transcender um Brasil corrompido. As desventuras do protagonista
culminam em sua morte – o mundo não admite heróis que carregam a bandeira da
pureza; os nobres ideais são sempre postos na frente de um pelotão de
fuzilamento, sem direito a absolvição. O poema inédito que posto hoje é
dedicado ao meu professor Fábio Elionar, ao triste fim de Policarpo Quaresma,
ao Lima Barreto e ao direito de todo ser pensante de ficar triste e pessimista,
de vez em quando, mesmo que o sol enganosamente ameace alegrar o solo sem
sonhos:
Eu policarpo meu mundo
Vai, Policarpo, beijar teus
esqueletos do passado
com lábios putrefatos.
Yeah, Policarpo, vai tocar rebu
desafinado
contra o muro lapidado
(surdo, o mundo te ouvirá
calado).
Sim, Policarpo, teu samba é
apático,
pois os vultos morenos estão
cansados.
Oh, Policarpo, jaz em ti um jazz
mutilado
pelo tédio mortificado
(imundo, nenhum ritmo brasileiro
será tocado).
Volta, Policarpo, pro teu
universo obituário
de cadáveres atestados.
Adeus, Policarpo, retorna pro
livro empoeirado
com teus capítulos desastrados
(obtuso, o teu romance será
negado).
O pessimismo só não deve nos impedir de plantar a semente do bem, nem de sonhar, mesmo que tudo pareça uma grande escuridão. Aí está a grande diferença q os poetas fazem, enxergam, sofrem, gritam e até mesmo seu silêncio incomoda. Compartilho essas solidões pessimistas... Grande abraço.........
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