quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Conto valenciano: Conto de partida

Hoje aconteceu tanta coisa errada comigo aqui em Teresópolis que, nesse dia em que se comemora o aniversário de Valença, a cidade que eu amo, a minha vontade seria de estar aí, distanciado de tantos problemas e um pouco livre desse meu eterno cansaço. O conto abaixo, publicado em "Eu e outras Províncias" reflete sobre essa impossibilidade... Um presente de aniversário de um poeta valenciano que não nasceu em Valença e que, quase sempre, só pode mandar beijos longínquos à Princesinha da Serra, cada vez mais desfocada na fotografia da distância...




Conto de partida

22:10. Novamente partirei para outro lugar, para longe de ti. Meus olhos percorrem a Rodoviária na busca nervosa de registrar cada pedaço teu. Tento guardar os mínimos detalhes, todas as lembranças que posso levar comigo, ó Princesinha.
Mas não, não pretendo repetir o ar bucólico que outros artistas encontraram em teu clima. Dar-te uma imagem árcade seria retroceder-te, Princesinha da Serra. As luzes furiosas do teu Cruzeiro, a velocidade alucinante das águas de tuas cachoeiras, o trânsito contínuo de universitários em tuas avenidas, as portas dos teus comércios e fábricas abrindo e fechando (às vezes apenas fechando, como esperança perdida, apenas fechando...) sugerem atualidade, e não saudosismo e utopia, Princesinha!
Talvez desconfies de mim, de minhas opiniões. Talvez me trates como um forasteiro, pois sempre tenho que partir. Preciso ganhar dinheiro, ó cidadezinha desempregada. A vida está difícil, preciso partir... mas ainda te amo. Não, não me confundas com um namorado qualquer, desses que andam contigo abraçando-te por rotina. Meu amor anda pelas poesias dos jardins da Casa Lea Pentagna, pela dramaticidade do teatro Rosinha, pela serenidade das preguiças do Jardim de Baixo, pela musicalidade no silêncio do coreto do Jardim de Cima, pela melancolia do Casarão em ruínas...
Meu amor é mais, Princesinha! Muito além da atmosfera pacata de tuas musas beatas, meu coração ferve em tua chama inquieta de juventude. Juventude que passeia em tuas ruas, noite após noite, atrás de um sentimento perdido nos degraus da Catedral, de uma liberdade esquecida na subida da Torre, de um final feliz no eterno Cine Glória.
            22:15. Tenho que partir (me partir). Mas não digo adeus – digo até breve, pois eu voltarei. Mesmo que não entendas os rumos de meu coração, ainda te amo, Princesinha, ainda te amo...

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