Hoje aconteceu tanta coisa errada comigo aqui em Teresópolis que, nesse dia em que se comemora o aniversário de Valença, a cidade que eu amo, a minha vontade seria de estar aí, distanciado de tantos problemas e um pouco livre desse meu eterno cansaço. O conto abaixo, publicado em "Eu e outras Províncias" reflete sobre essa impossibilidade... Um presente de aniversário de um poeta valenciano que não nasceu em Valença e que, quase sempre, só pode mandar beijos longínquos à Princesinha da Serra, cada vez mais desfocada na fotografia da distância...
Conto de partida
22:10. Novamente partirei para
outro lugar, para longe de ti. Meus olhos percorrem a Rodoviária na busca
nervosa de registrar cada pedaço teu. Tento guardar os mínimos detalhes, todas
as lembranças que posso levar comigo, ó Princesinha.
Mas não, não pretendo repetir o
ar bucólico que outros artistas encontraram em teu clima. Dar-te uma imagem
árcade seria retroceder-te, Princesinha da Serra. As luzes furiosas do teu
Cruzeiro, a velocidade alucinante das águas de tuas cachoeiras, o trânsito
contínuo de universitários em tuas avenidas, as portas dos teus comércios e
fábricas abrindo e fechando (às vezes apenas fechando, como esperança perdida,
apenas fechando...) sugerem atualidade, e não saudosismo e utopia, Princesinha!
Talvez desconfies de mim, de
minhas opiniões. Talvez me trates como um forasteiro, pois sempre tenho que
partir. Preciso ganhar dinheiro, ó cidadezinha desempregada. A vida está
difícil, preciso partir... mas ainda te amo. Não, não me confundas com um
namorado qualquer, desses que andam contigo abraçando-te por rotina. Meu amor anda
pelas poesias dos jardins da Casa Lea Pentagna, pela dramaticidade do teatro
Rosinha, pela serenidade das preguiças do Jardim de Baixo, pela musicalidade no
silêncio do coreto do Jardim de Cima, pela melancolia do Casarão em ruínas...
Meu amor é mais, Princesinha!
Muito além da atmosfera pacata de tuas musas beatas, meu coração ferve em tua
chama inquieta de juventude. Juventude que passeia em tuas ruas, noite após
noite, atrás de um sentimento perdido nos degraus da Catedral, de uma liberdade
esquecida na subida da Torre, de um final feliz no eterno Cine Glória.
22:15.
Tenho que partir (me partir). Mas não digo adeus – digo até breve, pois eu
voltarei. Mesmo que não entendas os rumos de meu coração, ainda te amo,
Princesinha, ainda te amo...
Massa maluco. Valeu o presente! Nós também te amamos!!!! Volte sempre!
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