quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Solidões compartilhadas: Poemas com e sem óregano


Vivo um setembro inusitadamente frustrado: fui a um show de rock do Detonautas que não era show de rock dos Detonautas; sou convidado a me calar diante dos eventos culturais em minha região aos quais me falaram que não sou convidado; sou selecionado pra ir à Bienal do Livro no Rio de Janeiro e descubro que o ônibus já foi (“espere mais dois anos, amigo!”, ri de mim o meu lado irônico) e cá estou nos quases, lembrando que na educação e na arte são comuns essas fases: sempre há uma propaganda enganosa nos cartazes que te prometem prósperos momentos no éden inexistente; sempre há festas fechadas que comemoram a liberdade de expressão calada; sempre há o que não foi dito, mas você tinha que saber! Diante de tanta possibilidade impossível, posto hoje nadas bem temperados, bem ao gosto daqueles que (des)organizam nosso mundo repleto de maravilhas vazias.
Os 2 poemas abaixo - um feito por Felipe Souza (recomendo o blog deste excelente  camarada poeta, confiram: http://quazepoeta.zip.net/) e outro, por mim – foram elaborados, há muitas madrugadas atrás em janeiros distantes, numa mesa do bar do Tio Jorge (fazem parte do seleto acervo “Poemas em mesa de bar”), construídos a partir de 09 palavras (destacadas nos dois textos. Obs.: nessa brincadeira, meio exercício poético-embriagado, pedimos sempre 10 palavras, mas nossos amigos não estavam em condições sóbrias de contar) que Ronaldo Brechane e Rafael Silva Barbosa nos desafiaram a colocar nos versos. Ambos os poemas, cada um a seu modo, sugerem um leve estado de embriaguez amiga e uma estranha sensação de degustação de uma pizza que não comemos. Pra quem reclama que eu só reclamo, hoje só tenho nada para contar:  

DA SÉRIE POEMAS EM MESA DE BAR:

Amigo
Felipe Souza

Nos passos do meu sapato,
Descubro um grande Big Brother
Melhor, mais que um irmão
Que me traz a verdade
Em grandes belos goles de cachaça;
Também me presenteia
Com aquela inércia do varal
Que não estende.
Me corta, como um barbeador
Incrivelmente sem corte;
Me deixa só.
Sem luz, sem lâmpada,
No fim do túnel sem asfalto,
Vou pedir sem orégano.

Temperado com orégano
Carlos Brunno S. Barbosa

O sapato debaixo da cama,
o barbeador sobre a pia do banheiro,
como todos os objetos de minha casa
comemoro a inércia dessa farsa
de viver parado, bem colocado
no mesmo lugar.
No ar, o velho big brother me promete novidades!
No bar, a cachaça envelhecida faz juras 
de outra embriaguez...
Há um varal de roupas no quintal,
há um asfalto de verdades falsas na rua;
a vida planta a inexistência
temperada com orégano,
a vida é uma pizza absoluta
saboreada nos fins de semana
de frente pro nada;
A VIDA É O NADA A RESPIRAR!

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