Vivo um setembro inusitadamente
frustrado: fui a um show de rock do Detonautas que não era show de rock dos
Detonautas; sou convidado a me calar diante dos eventos culturais em minha
região aos quais me falaram que não sou convidado; sou selecionado pra ir à
Bienal do Livro no Rio de Janeiro e descubro que o ônibus já foi (“espere mais
dois anos, amigo!”, ri de mim o meu lado irônico) e cá estou nos quases,
lembrando que na educação e na arte são comuns essas fases: sempre há uma
propaganda enganosa nos cartazes que te prometem prósperos momentos no éden
inexistente; sempre há festas fechadas que comemoram a liberdade de expressão
calada; sempre há o que não foi dito, mas você tinha que saber! Diante de tanta
possibilidade impossível, posto hoje nadas bem temperados, bem ao gosto
daqueles que (des)organizam nosso mundo repleto de maravilhas vazias.
Os 2 poemas abaixo - um feito por
Felipe Souza (recomendo o blog deste excelente
camarada poeta, confiram: http://quazepoeta.zip.net/) e outro, por mim – foram elaborados, há muitas madrugadas
atrás em janeiros distantes, numa mesa do bar do Tio Jorge (fazem parte do seleto
acervo “Poemas em mesa de bar”), construídos a partir de 09 palavras
(destacadas nos dois textos. Obs.: nessa brincadeira, meio exercício
poético-embriagado, pedimos sempre 10 palavras, mas nossos amigos não estavam
em condições sóbrias de contar) que Ronaldo Brechane e Rafael Silva Barbosa nos
desafiaram a colocar nos versos. Ambos os poemas, cada um a seu modo, sugerem
um leve estado de embriaguez amiga e uma estranha sensação de degustação de uma
pizza que não comemos. Pra quem reclama que eu só reclamo, hoje só tenho nada para
contar:
DA SÉRIE POEMAS EM MESA DE BAR :
Amigo
Felipe Souza
Nos passos do meu sapato,
Descubro um grande Big Brother
Melhor, mais que um irmão
Que me traz a verdade
Em grandes belos goles de cachaça;
Também me presenteia
Com aquela inércia do varal
Que não estende.
Me corta, como um barbeador
Incrivelmente sem corte;
Me deixa só.
Sem luz, sem lâmpada,
No fim do túnel sem asfalto,
Vou pedir sem orégano.
Temperado com orégano
Carlos Brunno S. Barbosa
O sapato debaixo da cama,
o barbeador sobre a pia do
banheiro,
como todos os objetos de minha
casa
comemoro a inércia dessa
farsa
de viver parado, bem colocado
no mesmo lugar.
No ar, o velho big brother
me promete novidades!
No bar, a cachaça
envelhecida faz juras
de outra embriaguez...
Há um varal de roupas no
quintal,
há um asfalto de verdades
falsas na rua;
a vida planta a inexistência
temperada com orégano,
a vida é uma pizza absoluta
saboreada nos fins de semana
de frente pro nada;
A VIDA É O NADA A RESPIRAR!
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