quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Meu tributo a Legião Urbana: Recado pra Renato


Hoje, o Rock in Rio relembrou abortos elétricos, legiões urbanas e trovadores solitários. Vários músicos, entre eles Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Herbert Vianna, Pitty, Rogério Flausino, Toni Platão, Dinho Ouro-Preto e outros, acompanhados da orquestra Sinfônica, se reuniram na Cidade do Rock e prestaram de forma emocionante um tributo ao compositor Renato Russo, ídolo maior – ao lado de Cazuza – da juventude do Rock 80 –e à banda Legião Urbana, que marcou uma geração de brasileiros. 
Diante de um dia tão especial, resolvi também prestar minha homenagem ao eterno líder da banda Legião Urbana. O poema abaixo foi composto logo após a morte do cantor (ele era portador do vírus fatal HIV) a partir dos títulos de diversas composições de Renato Russo (tentei mantê-las na ordem cronológica em que aparecem em disco para o público) e foi publicado em meu quarto livro “O último adeus (ou O primeiro pra sempre)”. Pra ser lido, ouvindo novamente o tributo a Renato Russo, junto com toda a discografia da Legião Urbana:

Recado pra Renato

Nesses intervalos de tempo
Antes da dança e depois do primeiro movimento
Eu me lembro de sua eterna dúvida: Será? Não, não sei se é
Um teorema distorcido em minha mente
Ou soldados que batalham em meu inconsciente
Quando bebo uma coca-cola.
Depois do por enquanto, antes do tempo perdido
As fábricas não humanizam o trabalho
Os índios são atacados
Eduardo e Mônica estão separados
E Andréa Doria anda silenciosa...
Não temos todo o tempo do mundo, Renato
O país é este mais do mesmo que você não quis
As aulas de química trazem as mesmas teorias
Eu sei: a única diferença é que você não está aqui
Pra criticá-las
E quando o sol bater na janela do meu quarto
Como vou esconder o que todos os meninos e meninas já sabem?
Todos sabem, Renato, que o lobisomem juvenil partiu o próprio coração
Para duas tribos, espalhando emoções para mais de sete cidades
Contaminando pais e filhos, deixando como herança uma geração
Que há tempos busca um espaço nas quatro estações.
Você lembra, Renato? O vento no litoral, antes da tempestade
Depois de Angra dos Reis... sua tristeza era sereníssima
Como um teatro de vampiros
Narrando o mundo tão complicado
Que nós vivemos, nem sempre largando tudo por amor.
E mesmo descobrindo o Brasil, jogando os barcos na fonte
Desenhando com giz a sua perfeição, foi duro perceber
Que os bons morrem jovens...
Tudo bem, Renato! Só por hoje eu não vou chorar...
Então tento esquecer
Que sua via-láctea perdeu-se pra sempre
Antes das seis, depois das primeiras flores do mal...
E hoje á noite não tem luar
Pois quem inventou o amor destruiu você...
Finjo que seu trem apenas mudou-se pra uma outra estação
Mentir pra mim seria fácil demais
Mas é impossível não perceber o equilíbrio distante
Em suas comédias românticas
E o silêncio de seu sagrado coração...
Mesmo assim, ainda ouço suas palavras nas músicas de acampamento
Vejo crianças brincarem de faroeste cabloco no quintal
Enquanto uma legião de anjos urbanos desce do céu
Pra dizer que é cedo pra esquecer
Você consegue ver, Renato?
Sei que não gosta quando eu digo isso
Mas ainda existe uma luz
Mesmo quando tudo parece estar perdido
Ainda existe um caminho!


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