quarta-feira, 23 de novembro de 2011

George e eu: No bar (parte 3)

Yeah! O blog está em festa: 4 meses e mais de 10.000 visualizações! Mas a euforia desse meu espaço virtual não se deve somente a isso; outras boas novas surgem dos ventos de Valença/RJ: o Tributo a George Harrison aos poucos sai do sonho virtual e, aos poucos, vai tomando corpo real, concreto. Ainda sem local e data definidos, mas com muita vontade e talento, músicos e artistas valencianos estão se organizando pra realizar o tributo ao ex-beatle e rei da guitarra que suavemente chora. Em comemoração a tudo isso, segue mais um capítulo da saga georgeharrisoniana: a terceira parte dos meus bate-papos com George Harrison (as anteriores vocês podem encontrar nos marcadores "George Harrison e eu - Georgeharrisonianas"), só meu eu lírico e ele, seguindo nossos rumos sem os Beatles:



No bar (parte 3)

            O cara à minha frente fala muito pouco. Absorto, acaricia a sua guitarra sem olhar pra mim. Nenhuma canção, apenas um suave deslizar de dedos nas cordas:
            - Sou um besouro econômico, sabe? Pelo menos, eu era... – as palavras saem de seus lábios sem alegria, nem tristeza, simples constatação. Há algo que move seus olhos para a guitarra em seu colo.
            - Aqui vem o sol... – não sei por que lhe digo isso; falta de assunto talvez, ou constatação do fim das chuvas que perduraram nos últimos dias, ou simplesmente porque amanheceu, o sol está bonito, estamos juntos e há pouco pra se dizer.
            Após meu delírio, ele finalmente olha pra mim. Parece procurar algum acorde em meus olhos que seus dedos não encontram nas cordas de sua guitarra.
            - É outro sol que vem, amigo, não é mais aquele. – confessa-me decidido. Nunca o vi tão sozinho, tão alheio e tão vivo quanto nessa hora. – Olhe o céu. Pra você, azul; pra mim, é uma guitarra que suavemente ainda chora. Estou envelhecendo e entediado. – Novamente não há tristeza nem alegria, apenas outra constatação. Seus dedos movimentam-se mais harmoniosos nas cordas da guitarra, parece tentarem compor novas canções.
            Hipnotizado pelo balanço cada vez mais vertiginoso das cordas provocadas pelos seus dedos, sua guitarra me intimida novas falas. Então nada digo; agora sou todo olhos, sou apenas ouvidos.
            - "Tocarei o que queiras que toque ou não tocarei nada se não quiseres que toque nada".  Não direi mais isso, amigo, está na hora de seguir sozinho. Não sou um daqueles homens dos impostos, não sou um impostor, um funcionário obediente às regras das velhas empresas, não sou o que eles querem que eu seja – outra confissão. Não sei distinguir tristeza ou alegria em sua voz nessa hora, seus dedos parecem ensaiar uma nova composição e talvez o som que sua guitarra sussurra me confunda.
Não, não é outra confissão. Mais uma vez, ele está constatando alguma coisa que não entendo. Não o conheço bem, apenas sentei-me a sua mesa, ele me chama de amigo, mas ainda não o conheço direito, já se passaram vários dias e continuamos aqui juntos bebendo. Havia outros na mesa; agora, só ele e eu.
- Preciso ficar sozinho alguns minutos, amigo. Pede outra bebida enquanto isso. – ele se levanta e abandona a guitarra sobre a mesa. Esta última ação me garante que ele volta.
- Tudo deve passar... – declara virando-se de costas. Puxa o maço de cigarros em seu bolso, parece que vai sair pra fumar do lado de fora. Um cara decidido, ícone da rebeldia, mas obediente à lei anti-fumo.
- Até mais... – sussurro para suas costas, sem alegria, nem tristeza, agora sigo o novo ritmo das constatações de meu amigo estranho. A guitarra calada sobre a mesa parece esperar o retorno de seu dono, talvez um solo...

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