Dois filmes que baixei no fodástico blog cult “Sonata Première” e que
chamaram minha atenção nos últimos tempos foram os premiados “Real”, da diretor japonês Kiyoshi Kurosawa (aqui vai o link pra poderem baixá-lo e assisti-lo: http://sonatapremieres.blogspot.com.br/2014/02/real.html)
e “Mel”, da diretora italiana Valeria Golino (aqui vai o link: http://sonatapremieres.blogspot.com.br/2014/04/mel.html).
Aparentemente, os dois filmes não têm nada a ver um com outro, mas somei os
dois em minha cabeça devido a um fato e a um peculiar fator comum: assisti aos
dois filmes no mesmo dia e, assim, ambas as histórias ficaram misturadas em
minha cabeça; além disso, em ambos os filmes, seus personagens vivem (ou
melhor, sobrevivem) se equilibrando (ou se desequilibrando) na linha tênue que
separa a vida da morte.
Dos dois, o que me marcou mais intensamente foi “Real”, filme com uma
leve ligação com a ficção científica e com uma forma peculiar e alucinante de
análise do inconsciente humano (altamente recomendado para análise da
escritoramiga e psicóloga Raquel Freire do Amaral) – o classificaria como um
drama psicológico com pitadas de ficção científica e suspense. Reparem na
sinopse: “Os médicos japoneses contactam dois cérebros em um misto de realidade
virtual e telepatia. Koichi passa a conversar com sua garota, Atsumi, que desde
uma tentativa de suicídio, há um ano, está em coma profundo. Ele consegue
entrar no subconsciente dela e ali Atsumi, desenhista de mangás, faz um pedido
a ele: procurar um esboço de plesiossauro para que ela possa sair do torpor.
Koichi encontra o monstro e eles passam a entender o porquê dele e a ver que a
verdade não é o que parece ser.” Com uma fotografia estonteante, o filme é uma
viagem incrível pelo universo do inconsciente e o quanto nossas culpas podem se
transformar num vigoroso plesiossauro e dominar todo nosso interior. Tenho meus
poréns com a solução final do filme (que não vou contar, amigos leitores, “Real”
é uma experiência que vocês devem assistir e tomarem suas próprias conclusões),
por conta do tamanho e força do plesiossauro que criamos dentro de nós, quando
nosso inconsciente se prende a ele, mas isso não afeta a viagem magnífica que
meus olhos tiveram diante do filme.
Já o filme “Mel”, completamente despido de qualquer aproximação com a
ficção científica de “Real”, nos leva àquele velho questionamento: temos ou não
temos direito de escolhermos a nossa dissolução (quanto essas decisões
influenciam as pessoas a nossa volta e qual é o sentido – ou falta de sentido –
nisso)? A personagem Irene se propõe a fazer um trabalho difícil e ilegal:
ajudar pacientes terminais a morrer. Ela busca o medicamento proibido no
México. Obviamente, ninguém sabe o que ela faz. Não pode haver envolvimento
emocional com o paciente. Certa vez, um engenheiro solicitou seus préstimos.
Depois que ela soube que ele não possuía doença alguma, Irene começa a tentar
salvar a vida do homem. Foi este personagem – e não a protagonista Irene – que me
chamou mais a atenção. Seu passado misterioso, suas razões, nada é explicado no
filme, apenas sua ânsia em partir desta vida é declarada por ele, apesar de não
aparentar traços suicidas em sua vida – exceto por uma opção de manter-se só,
apesar de mostrar-se comunicativo e sociável... será que ele possuía um
plesiossauro dentro dele? Não sei... só sei que ambos os filmes se misturam em
mim...
Com a mistura desses dois filmes e seus questionamentos, surgiu esse
poema louco que posto hoje: o eu lírico inspirado no engenheiro suicida do
filme “Mel” passeando pelo universo lírico, dominado por um violento
plesiossauro de culpas, do filme “Real”. Não sei dizer se a mistura foi boa
(talvez eu tenha escrito o poema para resolver o final que não apoiei do filme “Real”,
não sei, só meu inconsciente – esse sujeito mudo em mim – poderia me
responder), mas fica o resultado poético final para os amigos leitores poderem
curtir e/ou descurtir. É um tributo poético às sensações que os filmes me
passaram, são novos eus líricos que vieram pra mim; ao leitor, cabe o
julgamento se o poema é bom ou ruim, desde que se dispa dos julgamentos de
certo ou errado, são eus líricos que tomam suas próprias decisões, muito acima
de minhas disposições.
Boa leitura e Arte Sempre!
O plesiossauro em mim
Sai daqui, navegadora do amor...
A minha ilha de águas inocentes
foi invadida por um plesiossauro
e a praia outrora serena
machuca meus castelos de areia
com ondas de angústia.
Sai daqui, banhista incauta,
pois minhas águas agitadas
podem afogar o que restou do nosso amor...
Todas as cidades que destruí
com minhas pegadas,
toda a infância que perdi
nessa caminhada,
toda criança que não socorri
e que morreu afogada
é o plesiossauro
que cresceu
em mim,
é o plesiossauro
que hoje invade
a nossa casa.
Deixa o amor dormir em coma, enfermeira apaixonada,
pois o plesiossauro hoje repousa em minhas retinas fatigadas.
Deixa-me adormecer minhas vidas passadas, musa cansada,
que só a morte pode redimir essa alma culpada...
Lindo poema!!!
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