Morei numa cidade (e, no meu coração, ainda moro) chamada
Valença, município interiorano do sul do Estado do Rio de Janeiro. Mesmo
distante dela (passei em concurso público e atualmente leciono Português, em
Teresópolis, na rede municipal, oportunidade de encontrar talentos artísticos
também na região serrana) mantenho, em eventos, intervenções culturais e
participações pelo Brasil afora, o nome de Valença e a única coisa que sempre
desejo é estar presente em eventos artísticos em minha cidade.
O problema de
Valença, outrora conhecida como Princesinha da Serra, é o mesmo de várias
outras: a cidade é aprisionada por administrações políticas que tentam manter o
coronelismo da época do ciclo do café, e este fato dificulta a manifestação
artística livre, pois no lugar só se admite que apareçam artistas com ligações
partidárias e votos de cabresto. Até agora não contei aos leitores nenhuma
novidade e seria muita ingenuidade minha achar que o circuito cultural não
estaria algemado em tais grades.
Mas insisto em organizar e participar de eventos artísticos
independentes de tais amarras políticas desde 1997 (a maioria destes possuem
vídeos e/ou informações na internet), participo de concursos culturais levando
o nome da cidade, mesmo não morando mais nela; faço mil horas extras na escola
pra poder participar – sem ônus no orçamento da prefeitura - de toda atividade
cultural do município. O grande problema é que já tenho 14 anos nessa correria
e, a cada ano que passa, os espaços vão sendo frequentemente podados pra que a
contracultura, da qual sou um dos representantes, seja excluída e/ou omitida
dos eventos. Os representantes de tal política lhe dirão que “sempre há espaços
pra todos”, que “sempre lembrarão de chamá-lo” ou “que o convite já foi
estendido pra você”, mas as decisões são tomadas de cima pra baixo e me dizem
“em off” que minhas participações são condicionadas por um ou outro membro da
administração atual e, quando a gente joga isso tudo no ventilador, sempre vêm
as ameaças veladas, tentativas de dividir e repartir os grupos artísticos,
cancelamento dos eventos e aquela sensação de dom Quixote da arte sempre
aparece no espelho quando levanto antes de ir trabalhar.
O fato concreto e mais recente é um evento planejado para o
dia de quarta-feira, 28/09 (a data já informa que quem trabalha em outra cidade
não é muito bem-vindo). Soube da organização por alguns artistas e amigos (não
houve convite oficial, apesar disso sempre ser afirmado), uma série de medidas
foi planejada por debaixo dos panos e, ao me manifestar revoltado com tal
postura pelo facebook (era a rede social mais popular que eu tinha pra
protestar), o meu ato tomou grandes proporções: prós e contras a minha postura,
verdades e mentiras sobre a (des)organização (membro ligado ao Jornal Local me
diz que o espaço é aberto, enquanto no bate-papo ele sustentará essa posição de
forma contraditória, de que o espaço é livre, mas depende do quanto eu ficarei
calado e da permissão de fulano e sicrano. Dois dias depois, me informa que já
estou oficialmente excluído e que ele só lamenta), chamas de uma discussão que,
com o tempo, é sempre apagada por medos e ameaças.
Estamos cheios de amarras e lutamos pela liberdade de expressão
e respeito com o movimento artístico local há tempos e, depois de tantos
debates, penso que é necessário mais barulho, mais ajuda, porque a situação só
piora (amanhã talvez os governantes dirão que tal movimento sempre foi apoiado,
que o convite está feito; sabemos como eles sabem jogar a poeira pra debaixo do
tapete pra depois jogar-nos fora) – o Arte Valença 2, evento que envolveria um
grupo de artistas independentes bem mais amplo, organizado pelo Giovanni (ainda
não entendo por que ele está se deixando levar; segundo ele, é melhor a migalha
que nada) planejado pra setembro, foi cancelado pra ser substituído por esse
evento em que a secretária de Cultura e a sua corja escolhe a dedo quem terá o
seu espaço; há 2 anos, o UniVersos Culturais de Valença, outro projeto amplo
feito pelos artistas (prefeitura só cedeu o som e o espaço), teve uma edição
com sucesso de público, pra ser abandonado, pois a secretária não agendava
novas reuniões (ela fica 2 ou 3 dias na cidade; nos outros e, principalmente
nos fins de semana, está no Rio de Janeiro), nossos espaços culturais estão
literalmente arruinados (visitem as ruínas do Casarão quando vier e perceberão
– a Secretaria de Turismo a coloca no guia como se fossem as ruínas da Grécia
antiga). Constantemente, fazemos intervenções culturais por nossa conta
(participamos dos manifestos dos professores estaduais em greve – há vídeos no
youtube -, do Rock Solidário, em prol das vítimas das chuvas da região serrana
– pode conferir no youtube também, pequenos shows no Jardim de Cima – tudo com
a estrutura de som de amigos, etc), mas, quando o evento é organizado pela
Secretaria, somos excluídos ou jogados à margem (se não perseguir os
organizadores e implorar, não participa), putz, e eles insistem que fiquemos
calados “senão não tem mais nada” ou “senão eu não te chamo” e até quando
aceitar fazermos arte curvados, até quando ficar calado (Valença passou até por
afastamento de prefeito – ele retornou graças a liminar do STF)? E quanto mais
calados ficamos, mais sanções há – prova disso é que, ao encerrar a discussão
sobre o dia 28/09, fui oficialmente, numa mensagem silenciosa, excluído do
evento.
Já perguntei no facebook e mantenho a pergunta aqui: Até
quando fazermos arte calados nas migalhas, como bem afirmou Lucimauro Leite?
Preencher os espaços calados e curvados não significa que estamos fazendo arte;
significa que estamos fazendo um fundamento muito antigo da física - seremos
apenas corpos involuntários preenchendo
espaços vazios. Sempre farei arte, mas não calado, os gritos na chuva
continuam.
Encerrando o texto e eternizando a discussão (agora ele faz
parte do blog he he), estou de saco cheio dessa palhaçada, estou cansado, mas,
repito, não estou calado. Parabéns aos heróis paga paus da manifestação da arte
licenciada pela Secretaria de Cultural; que os Podres Poderes continuem
manipulando como bem entendem vocês. Abraços do vilão da arte curvada. Nádegas
mais a declarar.
faço minhas as suas palavras como valenciana.
ResponderExcluir(aplausos)
Existe uma coisa chamada Estado e outra chamada sociedade... qual veio primeiro na História da humanidade e qual é maior meu caro amigo. Vamos fazendo nosso evento "apesar de vocês..." como diz Chico, que, na verdade, sofreu os mesmos atacanhos que nós. Há muito deixei de apostar no estado da cidade principalmente quando li em Ronald Reagan, ainda como candidato americano a seguinte frase: Nunca é Estado nos parece tão ruim quando o desejo que ele nos ajude nos torna cegos quanto ao imenso poder que ele tem de nos prejudicar." O fortalecimento de ações particulares como as suas e de outros, em pouco tempo minará a força política instituída pois a qualidade das pequenas ações tocam o povo. o povo é sempre sensível à verdade. Caso não fosse a História nunca citaria Gandi, Malcon x, Luther King, e muitos outros que por suas ações pessoais venceram estados inteiros. Só precisamos resistir mais um minuto... e mais um...
ResponderExcluirUma vez aquele velho bulldog ingles disse à sua nação:
"Nós lutaremos até o fim,
Nós lutaremos na frança,
Nós lutaremos nos mares e oceanos,
Nós lutaremos com crescente confiança
E crescente força nos ares!
Nós defenderemos nossa ilha
Qualquer que seja o custo!
Nós lutaremos nas praias,
Nós lutaremos nas pistas de pouso,
Nós lutaremos nos campos
E nas ruas,
Nós lutaremos nas montanhas.
Nós nunca nos renderemos!"
Demorou... mas os ingleses venceram aquilo que parecia impossível... pergunta ao Alexandre se não é verdade...
ExcluirE para terminar, te deixo uma poesia...
ExcluirEu ainda acredito!
Eu acredito,
de fato,
que minha geração
no ato
mude a regra!
Minha geração
tem escrúpulo
na veia.
Apesar de alguns...
que nem vale citar.
Geração que Vai erguer,
do escombro que se tornou,
uma Valença de novo feliz!
Que vai expulsar
o asco político,
essa meretriz!
Braço jovem de alma nobre
alguns nem sabem que são!
Mas na inocencia do ato
estendem a mão!
E não para cumprimentar,
falsamente, o eleitor
mas para levantar do chão
quem necessita de amor.