Segundo uma lenda grega, Héracles (ou Hércules, como é mais popularmente conhecido), após realizar seus doze trabalhos, construiu o Estádio Olímpico em honra ao seu pai Zeus, deus máximo da mitologia grega. Hoje imagino como Zeus resmunga com toda sua fúria celestial a falta de transparência nas verbas brasileiras destinadas às Olimpíadas do Rio de Janeiro (pode ser delírio, mas tive a impressão de que o som do último trovão que vi riscar o céu tupiniquim sinalizava um violento pqp em grego, vociferado pelos deuses esquecidos da Antiguidade). Héracles deve sentir-se desonrado e furioso ao saber que nenhum governo, seja ele inglês ou brasileiro, se preocupou em realizar pelo menos doze trabalhos humanitários para sediarem as próximas Olimpíadas. A outra lenda grega originadora das Olimpíadas, a ideia de ‘trégua olímpica’, passa longe das ruas em chamas de Londres e dos ônibus sequestrados nas estradas fluminenses.
Não é privilégio dos dias atuais o desrespeito e heresia aos mitos gregos que estimularam a geração das Olimpíadas. Desde que o Comitê Olímpico Internacional (COI) resolveu reacender as chamas dos Jogos Olímpicos, a partir de 1896, os deuses, semideuses e heróis da Grécia Antiga veem seus antigos ideais queimarem em Infernos mais quentes que o de Hades. Desde o princípio de seu ressurgimento, sob a tutela do COI, os Jogos Olímpicos têm sido usados como uma plataforma para promover ideologias políticas controversas e opostas às que suas antigas lendas pregavam. Prova disso é que a Alemanha nazista já foi país-sede das Olimpíadas (Jogos de Berlim, em 1936), heresia tamanha que deve ter estimulado Zeus a convocar Marte, o deus da Guerra, pra gerar a Segunda Guerra Mundial e impedir que fossem realizados os Jogos Olímpicos em 1940. Hoje, a chama, outrora olímpica, queima prédios e carros em Tottenham, em protesto contra a morte de Mark Duggan, de 29 anos, baleado injustamente pela Polícia inglesa na quinta-feira, dia 04/08. Hoje, em alguma favela, a chama, agora sem trégua olímpica, deve atear fogo em pneus que aprisionam pessoas que se rebelam contra o regime criminoso das milícias na periferia cada vez mais inflada de ódio do Rio de Janeiro. Héracles clama que doze trabalhos comunitários sejam cumpridos nas futuras cidades-sedes, mas os governantes ingleses e brasileiros rezam para outros deuses, negam credibilidade aos rituais antigos e respondem a tudo com um sorriso maroto e olímpico de hipocrisia. A filosofia global matou Zeus e homenageia Marte disfarçado de Divino Desenvolvimento.
Londres e Rio de Janeiro se preparam para um Salto Mortal nas próximas Olimpíadas. Que Zeus seja benevolente em sua punição olímpica aos países pecadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário