Ontem, participei de um debate virtual inflamado no twitter que envolvia Tico Santa Cruz, @rock de verdade e vários outros. A polêmica foi gerada devido a um vídeo, postado e justamente execrado pelo vocalista da banda Detonautas Roque Clube em seu blog (quem tiver estômago pra ver o horrendo vídeo, segue o link do blog: http://bloglog.globo.com/ticosantacruz/#). O vídeo apresenta cenas de adolescentes dançando, de forma abusadamente sexual, um funk de baixíssimo calão dentro de uma escola, fato que deixa qualquer espectador de boca aberta, em estado de choque, e pensando como Tico Santa Cruz: “este não é futuro que quero para minha filha.”
A postagem do blog de Tico Santa Cruz gerou discussões ardentes no twitter. Todos indicavam culpados (lembrando que a culpa está em cada um de nós) e tentavam apresentar soluções para evitarmos a reprodução de cenas tão degradantes no futuro. Acusações e discursos iam e vinham, todos traziam uma resposta ou uma afirmação, porém o que me ficou tanto do debate no twitter quanto da leitura da postagem no blog de Santa Cruz, foram as indagações dos internautas: Onde isso tudo vai parar? E as crianças? E os jovens? Essas perguntas não obtiveram respostas; apenas constatações de que vivemos num planeta perdido, onde os valores são cadáveres em veloz decomposição. Confesso que dormi pessimamente esta noite de tanto pensar nisso.
Desde a minha adolescência, tive a impressão de que o mundo, idealizado como um espaço hospitaleiro, parecia um castelo de areia cada vez mais próximo do tsunami das maldades humanas, e, como todos os que participaram do debate, trouxe e ainda trago mais dúvidas e trevas do que otimismo e luz em minha visão de futuro. Lamento dizer, mas a luz no fim do túnel está apagada, porém como afirma a canção “Combate”, novo hit da banda Detonautas, não podemos nos render. É preciso reacender a chama.
Por isso, nesse instante de trevas, continuo a escrever, insisto na arte, e relembro, nesse aniversário do meu blog (meu espaço artístico-virtual fez um mês hoje, dia 23), um poema que escrevi quando tinha 16 anos, publicado em meu segundo livro “Promessas desfeitas – Quando os sonhos morrem e o poeta sobrevive” (1997). Tenho, hoje, o dobro da idade e as críticas e indagações ainda são as mesmas (só trocaria “Tem professor confundindo ditadura / Com sala de aula” – que era mais próprio pra minha época de ensino mais tradicional – por “Tem educador confundindo sacanagem / Com espontaneidade” – mais inserido a nossa ‘nova era’ e ao terrível vídeo que me tirou o sono – como professor e escritor, fiquei duplamente insone). Pra ser lido ao som de “Vivendo e não aprendendo”, do Ira!, “Estudo errado”, de Gabriel, o Pensador, “Boquiaberto”, de Biquíni Cavadão, e “Ensaio sobre a cegueira”, de Detonautas Roque Clube (faixa sinistra do CD “O retorno de Saturno”):
Dezesseis anos
(Lembranças da revolta)
Tem velho confundindo paternidade
Com sexo livre
Tem sujeito confundindo liberdade
Com indisciplina
Tem otário confundindo candidato
Com ator de televisão
E tem gente confundindo opinião
Com o bar da esquina.
De que adianta pensar no futuro
Se tudo é escuro do lado de fora?
De que adianta ter dezesseis
Se continuo a não entender
Por que nada sei?
Tem professor confundindo ditadura
Com sala de aula
Tem artista confundindo cultura
Com filme pornô
Tem cozinheiro confundindo comida
Com forno microondas
E tem aluno confundindo vida
Com toda essa loucura.
De que adianta um bom futuro
Na sala de aula
Em comparação ao escuro
Que fica na alma?
De que adianta saber
Se nada sei?
Nenhum comentário:
Postar um comentário