Nesse fim de noite, ressuscito uma seção do blog há tempos
esquecida: o “Verse essa canção”, que consiste numa releitura e/ou diálogo com
canções já existentes. Para esse ressurreição, escolhi a fodástica canção
“Dançando”, do Agridoce, projeto musical da fantástica cantora Pitty e Martin.
Pensei para essa música, um diálogo da pessoa amada com o eu lírico da canção,
propenso ao “imediatismo cego” e a ficar “dançando” com seu amado, enquanto o
“mundo acaba hoje”. Nesse período de trevas coloridas em que, mais uma vez,
comemoramos mais uma data para o fim do mundo (o mais recente dia do fim da
humanidade, após vários ‘cancelamentos’, foi remarcado para o dia 21 de
dezembro deste ano), nada melhor que eternizarmos nossos derradeiros momentos
dançando com nosso amor, em busca daquela sintonia que nos faça continuar nossa
dança pela eternidade.
Eu "Dançando" Agridoce
Eu sei que lá no fundo
há tanta beleza no mundo
Eu só queria enxergar
Quando ela chega em casa, olho nos seus olhos e vejo todos
os destroços do mundo apocalíptico que passaram por sua visão. Mesmo assim, ela
me sorri, como se mordesse a infelicidade, como se toda tristeza fosse ilusão.
Mesmo cega pela escuridão do dia a dia, ela me tenta com a luz de um lugar
maravilhoso que nem mesmo ela consegue enxergar. E isso é tão bonito,
tristemente bonito, que ela me faz acreditar...
As tardes de domingo, o
dia me sorrindo
Eu só queria enxergar
O sol da tarde de domingo beija-lhe a face e, mesmo
consumida pela visão da cidade apodrecida, ela tenta retribuir o sorriso solar.
E, assim, ela fica cada vez mais linda. E, assim, mesmo cega, ela me faz ver e
acreditar...
Qualquer coisa pra
domar o peito em fogo
Algo pra justificar uma
vida morna
Tranquilamente sentada no sofá agonizante da frígida sala de
estar, ela toma um copo d’água, como se sua sede fosse apenas fisiológica, como
se as chamas que dançam desesperadas a sua volta não me implorassem o fim dessa
nossa rotina morna. E, mesmo branda, ela consegue queimar todo lugar...
Não esqueço aquela
esquina, a graça da menina
Eu só queria enxergar
Agora, ela me fala de uma menina que ela viu na esquina e
seu olhar brilha como os de uma mãe contando os predicativos da filha. Ela não
acredita na imagem que vira, descrê da menina que dança na esquina em meio às
ruínas; ela não acredita, mas alguma infância perdida lhe escapa no percurso da
narrativa. Ela não acredita, mas me faz acreditar...
Por isso eu me entrego
a um imediatismo cego
Pronta pro mundo
acabar
Então ela se levanta do sofá agonizante e começa a se
arrumar pra sair, com uma pressa que parece agarrar o tempo, como se o mundo
fosse acabar nesse instante e ela estivesse pronta pra eternizar cada momento.
E, mesmo cega pela velocidade, ela me oferece passos lentos pra que eu possa
acompanhá-la nessa desesperada necessidade de movimento.
Você acredita no
depois? Prefiro o agora
Se no fim formos só
nós dois que seja lá fora
De mãos dadas com seu desespero pela cidade em ruínas, ela
me faz perguntas cujas respostas já lhe estão definidas. Não lhe importa o que
eu diga, e sim que eu a siga pelas pistas de dança do fim do mundo. Poderia
parecer absurdo nos divertirmos nisso tudo, mas seu olhar profundo me informa
que nada pode ser confuso se estivermos juntos.
O mundo acaba hoje e
eu estarei dançando
Com você
Um prédio cai, carros colidindo, nações em conflito, a pista
de dança arruinada, o universo todo ruindo e ela continua dançando comigo! Seu
beijo agridoce me informa que o mundo acaba hoje, seus olhos ameaçam perder o
brilho... Antes que o mundo acabe, lhe digo: “Foda-se! Se é pra morrer hoje,
que eu morra contigo!” E, antes do último suspiro, contemplamos nossa dose
derradeira de amor infinito.
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