quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Solidões compartilhadas de fim de mundo: No chat da Tróia em ruínas com o guerreiro grego Aquiles Peleios


Hoje o novo fim do mundo, marcado pelos antigos maias (dia 21 de dezembro) é lembrado por mim e pelo eterno herói grego Aquiles Peleios. Explico: Aquiles Peleios é um perfil fake (ou seja, falso), usado por algum fodástico poeta no facebook. Usando este heterônimo, um misterioso poeta usa a divindade grega para fazer seus clássicos poemas modernos. Como sou amigo dele no facebook e não tínhamos nada a fazer (ou melhor, não queríamos lembrarmo-nos de outras ocupações), utilizamos o bate-papo da rede social citada para fazermos um poema on line sobre o mais recente fim do mundo (é, amigos, até as divindades gregas se renderam à internet! rs).
Assim aliamos um pouco da minha tradição modernista marginal com o lado moderno clássico-filosófico de Aquiles Peleios e forjamos um diálogo lírico às vésperas do novo fim do mundo. Abaixo compartilho com os leitores o resultado desta inusitada união de loucos eu líricos (e, por que não, também loucos, classicamente loucos poetas). 
As partes em azul (representando a bandeira da Grécia) são de Aquiles Peleios e em verde representa as estrofes do brasileiro poeta pateta que vos fala. Destaco o final maiakovskiano dado pelo poeta Aquiles Peleios, o que acusa que as divindades clássicas pagãs também leem a modernidade com fervor.
Para todos que já viram sua Tróia íntima em ruínas e pediu forças do além para se reerguer:

O diálogo do poeta e do guerreiro
ou não ter o que fazer no fim do mundo

Entre as chamas dessa Tróia destruída,
às vezes me pergunto, Aquiles, qual é o fim da vida?
A seta que envenena o calcanhar
ou saber que a amada traz o derradeiro olhar
o olhar da partida...

Nem um nem outro, mortal poeta
nem o olhar nem a seta
o fim da alma e do mundo
acontece no segundo
em que a esperança é perdida...

Se é este o fim, então condena-me logo, amigo,
pois apesar das chamas que me cercam, meu fogo é mendigo:
há tempos meus sonhos não queimam,
há tempos os delírios não me cercam;
sou filho da batalha falida,
da balada sem melodia,
sou o mais poderoso nas esperanças perdidas
e o que faço, meu deus, abraço a tróia em ruínas?

Não, nobre poeta amigo,
teu fogo nunca foi mendigo,
teu fogo é de Fênix alada,
que renasce na alvorada.
Quando a esperança já dorme
e a ruína do mundo disforme
desespera cada alma,
tua voz se levanta
e trás ao mundo toda calma.

Ah, deus amigo, agora eu vejo tudo:
a poesia está aqui viva nesse fim de mundo
e toda esperança perdida nessa falta de chama
é apenas um lirismo futuro acordando na destruída cama!
Amanheço, amigo, e agora sorrio,
sorrio para o mundo destruído
pois é preciso ver o muro corroído
pra abrir as portas do que precisa ser reconstruído!

Sejas um guerreiro no fim derradeiro!
Poeta perdido em ruínas de um mundo inteiro.
Olhas à frente a cada escombro!
Poetas em pé, ombro a ombro,
com arma em punho e corpos refeitos,
reconstruindo o universo desfeito
com novos conceitos!

Quadro do pintor alemão Johann Georg Trautmann (1713-1769)
sobre a Tróia destruída

2 comentários:

  1. Curti!
    Ficou muito boa essa parceria!
    Imortalizaram um mundo semi-morto!

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  2. Adorei. Eu, como meu otimismo (talvez) exacerbado pela filosofia, sempre vejo na destruição e no desamparo novas possibilidades de recomeços.

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