Hoje compartilho minhas solidões poéticas com a poetamiga Raquel
Freire. Poeticamente freudiana (e assim como o mestre Freud, consegue trazer a
psicanálise para a literatura e vice-versa), Raquel é uma profissional formada
na Universidade Paulista em
São Paulo , seus trabalhos são focados em Agressividade Infantil ;
Transtorno de Conduta e Transtorno Opositor; área Educacional e Transtornos de
Personalidade. Atua na área de Pedopsicoterapia; Psicodiagnóstico / Aplicação
de Testes Psicológicos; e Consultoria para Empresas e Escolas. Inspirada em seu
primeiro paciente, Raquel construiu o seu poema-psicanálise de adeus (reparem
que, como Freud, ela não desrespeita nenhuma regra de sigilo com o paciente, e
sim desnuda o lirismo do consciente e inconsciente humano).
A forma como conheci a poetamiga com quem compartilho minha
solidão poética é interessante e ainda me gerará um novo conto: vi Raquel pela
primeira vez num evento do Sarau Solidões Coletivas com a atriz Ana Rachel Coelho.
Depois a adicionei no facebook, onde a encontrei com o heterônimo Clarice
Raquel Starling Freire. Passei a chamá-la de Clarice – que, na verdade, era uma
referência da poetamiga à personagem de “Silêncio dos inocentes”, fato que não
reparei por distração e falta de disciplina com meus (des)conhecimentos
culturais rs - e, só algum tempo depois, ao nos revermos que ela me revelou não
se chamar Clarice, e sim Raquel (a partir daí, fica sempre na minha cabeça, um
possível conto chamado “Meu nome não é Clarice”, que, em breve, sairá de meu
inconsciente coletivo-artístico, prometo!).
Fã-nática por CPM 22 (ainda tô devendo um poema para a banda
em homenagem ela), autora do blog http://www.raquelfreirepsicologa.blogspot.com.br/,
Raquel Freire se considera “uma pessoa
de bem com a vida, que busca estar bem com as pessoas, e que ama, dar e receber
Alegria!” E é com alegria que hoje compartilho o poema de sua autoria, o qual
ela me confiou. O texto merece destaque na contemporaneidade por resgatar
aquele laço, imortal desde Freud, entre Literatura e Psicanálise. Um poema pra
ser lido, analisado e refletido nos ids, egos e superegos de cada leitor, um
adeus para a eternidade do inconsciente consciente de cada autor.
O Primeiro Adeus
Como é difícil dizer adeus.
Dizer adeus ao teu sorriso, ao teu riso, aos teus olhos.
A esses olhos: digo adeus.
Dizer adeus a tudo que me confidenciou
A tudo o que vi
A tudo o que procurei em outros lugares além do que os teus
olhos me diziam.
Encontrei nos livros o que expressar “no algo” que eu via, e
não havia outro jeito de dizer.
O fim é um papel.
Um papel...
E qual foi o meu papel?
Eu sei, eu fiz tudo o que deveria ter feito e fiz.
Tudo foi necessário e hoje te encaminho para outra etapa da
tua vida.
E agora meu querido, eu nada mais posso fazer, a não ser te
dizer adeus.
E mesmo assim, saiba que é difícil ter que te dizer esse
adeus.
Eu sei, tu ficarás bem.
E eu? Eu fingirei que nada sinto, que sou fria frente a
isso.
O que é isso?
Bem sabes que é recíproco.
Reciprocidade nomeada de transferência e
contratransferência.
Isso é tudo.
Tudo o que nos restou, e é também tudo o que sempre foi.
Mas mesmo assim: como é difícil ter que te dizer adeus...
Talvez seja assim por ser o primeiro, e que tortura será se
todos forem assim.
Preferia me manter apática a tudo isso, mas não sou.
Descubro hoje que não sou essa frieza calculada que
pressupunha ser
Seus medos e sua resiliência tal como as de um Batman,
permearam e foram retratos de uma vida, onde seu passado encontra-se distante
E sua idade se faz sinônimo do eu que já não sou mais.
Pensei que hoje, anos findados de uma história oculta, os
resquícios dela estariam protegidos pelo presente
E que eu, agora apoderada de uma posição, de um lugar, que
supunha assegurar o não sentir.
Um lugar: todos nós temos um lugar, um sótão...
Acontece que alguns escondem morcegos, enquanto outros
resplandecem fadas.
Você é o meu menino morcego, e espero que Machado de Assis
esteja errado ao afirmar “O menino é o pai do homem.”
“Ai meu Deus”, como é difícil dizer adeus.
Esse Deus que eu não creio, que na verdade não existe, mas
que digo por mero dizer.
Ser Deus é difícil, ou fingir ser, também é.
Como é difícil ter que te dizer adeus...
Mas apesar de acabar, saiba nesses versos que nunca terás
acesso, muito do que eu dei nada foi diante do que recebi.
E se um dia a gente se encontrar, espero que se lembre de
mim, e mesmo se não lembrar, eu jamais me esquecerei de ti.
Como é difícil ter que te dizer adeus...
Esse não é o momento para pensar no que sinto ao te dizer
palavras de fim.
A hora é apenas para dizer adeus.
E agora então, te dou um abraço, e te digo adeus.
Adeus!
Raquel Freire, junho de 2010. Adaptado em 02 de junho de
2012 ás 03: 31 horas.
Que conteúdo!!!
ResponderExcluirTalento para psiquê!!! rs
Carlos, amigo sempre muito querido e gentil, obrigada pelas lindas palavras, estou aqui profundamente emocionada. Só pude ler o post agora, e hoje durmo mais leve com o sensação que no mundo existem pessoas que fazem dele um espaço bem melhor, como você!
ResponderExcluirUm grande abraço, Raquel.