Pensando na estréia nacional de “Batman - O Cavaleiro das
Trevas Ressurge” e nas últimas notícias da violência contemporânea, resgato,
hoje, no blog, o inimigo mais popular do homem-morcego, o Coringa. Mesmo
falecido no filme anterior, o Coringa resolveu expor seu sorriso maligno nessa
postagem do blog e traz-nos sua visão diante de mais um PM assassinado (a soldado
valenciana Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos, morta durante um ataque de
traficantes na Unidade de Polícia Pacificadora do Morro do Alemão), diante de
mais um massacre em salas de cinema (desta vez, diversas pessoas morreram e
foram feridas após ataque de um homem mascarado que atirou contra pessoas que
assistiam à estreia do filme Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge em um
shopping em Aurora, na região de Denver, no Estado americano do Colorado), diante
da comparação equivocada entre Canudos e o Morro do Alemão feita pelo Coronel Mário
Sérgio Duarte, autor do recém-lançado livro "Liberdade para o Alemão – O
Resgate de Canudos" (triste e trágica ironia: o autor do livro autentica
um massacre histórico em seu livro, enquanto a Unidade de Polícia Pacificadora é
cercada mais uma vez no Alemão), diante de mais uma chuva de candidatos se
promovendo através da violência, prometendo mais segurança através da violência,
diante da tristeza na beleza das flores dadas às vítimas do horror da violência,
diante do ser humano, incapaz da paz e criativo autor de novas violências. Batman
ressurge em Gotham e o Coringa moribundo sorri para as trevas do mundo:
O sorriso do Coringa falecido ressurge das trevas
Você sabe como consegui esse sorriso rasgado nos lábios,
menino morcego?
Foi ouvindo a palavra pacificação no Morro do Alemão,
Foi lendo a justificativa do massacre de Canudos feita por
um coronel da PM que não interpretou “Os Sertões”, de Euclides da Cunha,
Foi sabendo do choque dos estadunidenses diante de um
assassino louco no cinema matando a todos num país que dá licença pra todo
cidadão comprar sua arma e matar,
Foi vendo mais um companheiro do ódio sem freio, sem
origens, trazendo trevas para a Aurora, ressuscitando a bat-caverna de nossas
almas e esperando ser derrotado por um herói que não há,
Olhe a beleza infinita das flores entregues às vítimas, olhe
como são coloridas as flores que enfeitam o velório, flores coloridas enfeitando
as cinzas,
Veja os candidatos lançando propostas políticas nas salas
cheias de pessoas vazias, sinta a corrupção na boa atuação, a democracia se
tornando uma ditadura familiar,
O mundo reclama por segurança e, ao invés de arte e educação,
os homens criam pistolões e novas tropas com licença pra nos violentar,
Rá, rá, rá, somos todos órfãos da paz assassinada e sonhamos
com uma violência armada que possa reinstaurar o que nunca houve, o que nunca
haverá,
Rá, rá, rá, piada mortal, ironia mordaz: bilheteria
estourada em filmes violentos, enquanto o ser humano pacífico continua fora de
cartaz,
Rá, rá, rá, morro de rir vendo você ressurgir das trevas,
menino morcego, enfrentando seus próprios pesadelos, em busca de uma paz que
sua violência não será capaz de suportar,
Rá, rá, rá, meu sorriso rasgado beija seus lábios sérios;
você não pode ressurgir das trevas, menino morcego, pois as trevas nunca saíram
do lugar, sempre estiveram em você, em nosso brilho assassino, em nossa
incapacidade de amar.
Certa vez assistindo a uma entrevista de Marcelo Yuka, ele disse que a UPP era apenas três letras, pois não considera que elas tenham sentido semântico como uma Unidade de Polícia Pacificadora. Como ex-moradora do alemão, não posso discordar do Yuka.
ResponderExcluirTenho o costume de traduzir minhas sensações em imagens e a imagem que tenho da existência das UPPs é a de uma grande panela de Pressão prestes a explodir ou uma rolha gigantesca de um vulcão prestes a entrar em erupção.
Parece que quem não leu Os Sertões foi você.
ResponderExcluirEstá enganado, caríssimo Anônimo. Sei que Euclides condena em seu livro o messianismo em torno de Antonio Conselheiro, mas lembre-se que, no mesmo livro, o escritor condena os atos bárbaros dos soldados de Canudos, assemelhando-os - por viés científicos da época, completamente ultrapassados em nossos dias - a seres incapazes de encarar a complexidade da vida urbana em relações que envolvem o intelecto e a moralidade. Por isso, considero infeliz um Coronel da PM relacionar seu livro com uma obra na qual o autor detona os soldados que reprimiram os revoltosos de Canudos.
ExcluirPara completar sua resposta Carlos Brunno, quero ressaltar que Euclides da Cunha é considerado o Poeta da gentileza, um ativista cultural que usava as PALAVRAS como arma para construir, defender, preservar e transformar. "Essa alavanca - a Palavra - que alevanta uma sociedade inteira e derruba tiranias seculares." (Euclides da Cunha)
ResponderExcluirUma revolução não se faz com armas e nem derramamento de sangue, ela acontece de fora para dentro de cada indivíduo, ou seja, nas ideias. A verdadeira revolução é a do conhecimento.
A cultura de um povo é a sua identidade.