Hoje os estadunidenses, que adoram ser chamados de 'americanos' (como se os três continentes americanos fossem só eles) ou de 'norte-americanos' (como se o continente da América do Norte tivesse apenas o país deles), comemoram o "Independence Day" (o dia da independência dos Estados Unidos - reparem que a tradução literal do dia comemorado deixa-nos a impressão de que o mundo ganhou liberdade a partir do momento em que eles foram independentes). Lembro que, enquanto os estadunidenses comemoram o seu Dia de Liberdade, páginas das ditaduras e golpes de Estado, que nos tiraram a liberdade e foram ferrenhamente defendidas por eles, continuam obscuras e/ou esquecidas, apesar de toda desigualdade mantida pelo sistema econômico que os estadunidenses liberalmente defendem (é fácil ser liberal e defender o sistema privado e capitalista quando se está no topo do poder). Lembro também que o Brasil, cada vez mais e pior, tenta bancar uma filial latina desse mesmo Estados Unidos da América, que tanto nos explorou. Lembro de cada atentado contra a liberdade da América Latina, do Oriente Médio, da África, só porque nossos 'friends' estadunidenses não admitem sistemas políticos e costumes diferentes dos deles. Lembro que mais da metade de sua população ignora outros povos dos três continentes americanos, em defesa de um patriotismo cego e débil à sua pátria que tanto nos endivida (não venham me chamar de xenófobo; só estou cansado de ser sadomasoquista com aqueles que nos ensinaram mil formas de torturas). Em ironia a essa data comemorativa estadunidense, a esse Dia da Independência tão fartamente comemorado às custas de todos outros países do mundo, fiz uma paródia ao poema "Mar português", de Fernando Pessoa. Se o poema de Fernando Pessoa comemora a expansão da colonização portuguesa, homenageando as viagens de seus intrépidos patrícios navegantes, a minha paródia rememora o passado rico de inglória desse Estados Unidos Dono da América, que ricamente comemora o Dia de Sua Liberdade, em detrimento ao presente de pobreza que suas investidas e invasões históricas nos fizeram passar. Pra ser lido após ter assistido a "Dançando no escuro" e "Dogville", ambos filmes de Lars Von Trier.
Independence Day
ou Eles comemoram tudo que eu sangrei
(Nascido nas ditaduras de julhos
num Golpe de Estado qualquer)
Ó Estados Unidos da América, quantas das tuas lutas contra o
mal
Sacrificaram minha pátria natal!
Pra te ajudarmos, quantos cães teus mataram
Nossos filhos que recusaram a tua falsa liberdade!
Quantas américas diferentes teus filhos negaram aceitar
Para que fosses único, ó Estado Americano a nos ignorar!
Valeu cada combate? Todo combate teu valeu a pena
Pois é na lida sangrenta que o teu dólar aumenta.
Quem quer reinar como ditador
Tem que abraçar-te como credor.
A França deu-te a Estátua da Liberdade
E agora pensas que és o dono do céu, da Terra, do mar, das
Américas e da verdade.
Ó Estados Unidos da América, quanto da tua falsidade e da
tua instável invencibilidade
Há, entre teus covardes heróis, pra tu comemorares com
tamanha vaidade?
Professor..
ResponderExcluirBelíssimo texto ...
Parabéns sempre !