domingo, 19 de fevereiro de 2012

Visões após a highway to hell (ou Carta de despedida pra Bon Scott)


Há 32 anos, em Londres, morria Bon Scott, cantor australiano, vocalista e compositor da banda hard rock AC/DC. Considerado, em 2006, pela revista Hit Parader, como o 5º melhor vocalista de heavy metal de todos os tempos, Bon Scott tinha um histórico de porres homéricos, tanto que, apesar de ainda não muito bem explicada, a sua morte foi conseqüência de uma dessas suas tradicionais bebedeiras.
Após a turnê de divulgação do álbum Highway to Hell pela Europa, Bon resolveu passar uns dias em Londres, para rever amigos. Depois de um grande porre, numa tour de bares, com um amigo seu, chamado Alistar Kinnear, Bon ‘apagou’ de tanto beber. Na manhã seguinte, foi encontrado morto no banco de trás do carro do amigo, que o havia deixado ali, pensando que Bon estava apenas ‘dormindo’.
O atestado de óbito informou que Bon Scott havia falecido em decorrência de envenenamento alcoólico agudo e ‘death by misadventure’ (morte por desventura, ou por desgraça). Nos jornais da época foi também noticiado que o músico teria se sufocado com o próprio vômito e que a baixa temperatura da madrugada e suas constantes crises de asma colaboraram para a tragédia daquela fria manhã de 19 de fevereiro de 1980, um dos dias mais tristes do rock n’ roll.
Nestes dias de festividades extremas, inspiradas em nossas folias carnavalescas, os 32 anos de morte de Bon Scott me levaram a reflexões sobre os limites da diversão e os perigos de uma vida inteiramente festiva e inconsequente. Com a morte de Bon Scott, os deuses (ou demônios) do rock’n roll nos alertaram que nem tudo na arte é eterno sem moderação. As minhas reflexões, influenciadas pela letra da música “Highway to Hell”, formam a prosa-lamento-homenagem-elegia abaixo. Dedicado a Bon Scott e a todos que, inconsequentemente, morreram cedo demais.
  

Visões após o highway to hell 
(ou Carta de despedida pra Bon Scott)

Viver fácil às vezes é muito difícil, Bon... Se estamos livres, a morte também passeia sobre nossas cabeças sem nenhum carinho ou restrição. Se não quer perguntas, tome esse drink de certeza: a morte sedenta, a lenta desgraça. Foi mal, Bon, você morreu e nada podemos fazer por você...
Na autoestrada do Inferno, eu vi seu carro sem freio passar, acelerando na curva em chamas festivas, explodindo triste na batida vazia, a morte sorrindo ao seu lado, o cheiro de lágrimas cinzas no ar. Carros descontrolados movidos a álcool às vezes costumam engasgar e você bebeu demais, amigo Bon, e desta vez você passou muito mal.
Um scotch pra Scott e outro pra morte; seus amigos bebem a sensação sóbria da perda enquanto seu corpo embriagado transita por estradas desertas. E agora, Bon, é esse inferno de ausências; e agora, Bon, é esse o mal da inconsequência.
A terra prometida é uma via de mentiras e buscar riquezas jogando poquer com seus próprios demônios é pedir pra ser roubado por seu próprio espelho. A morte vomita cartas marcadas sobre sua mesa de jogos suicidas e você paga com a vida; a dama fatal beija suas mãos vazias, tira sua respiração, diminui sua temperatura e agora é um pobre diabo asmático falido pela própria jogatina.
Na autoestrada do Inferno, eu vi você perder o controle de seu carro de motor envenenado, deixando seu corpo em cacos, garrafas de sangue, a morte bebendo você. No rádio intacto, um som fúnebre de hard rock silenciado toca seus lábios fúnebres pela última vez. A festa foi boa, Bon, mas terminou muito mal pra você... 

Um comentário:

  1. Meu amigo, eu já nasci velha demais, não consigo me divertir nesses eventos bombásticos que os nossos governantes patrocinam sem o menor pudor, mas quando diz ser preciso cortar os gastos os primeiros setores a serem atingidos são o da saúde e da educação. é tao lamentavel Carlos. affff, fiquei depre só de pensar nisso.

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