Pela terceira vez (já viramos sócios do blog rs), compartilho minhas solidões poéticas com o grande poetamigo curitibano Paulo Ras. Desta vez, o eu lírico dele, com claras influências do poeta gaúcho Mario Quintana, confessa sua natureza poética e complicada para a natureza alada e simples do beija flor:
É que sou assim, beija-flor.
Um pouco de tudo que me sustenta,
Um pouco das poucas coisas que me alentam,
E misture a tudo tolices,
Sonhos, sandices e viagens sem volta.
É, beija-flor!
Sou assim.
Intocável.
Ininteligível.
Sou poético,
Sem métrica,
Sem dom,
Sem tom.
Sou prostrado,
Sou vendado,
Sou vôo.
Em minha poesia
Sou criatura.
Em meu mundo sou criador.
Mas, beija-flor,
Quanta inveja,
Quanta tristeza,
Pois só você,
Beija-flor,
Para no ar.
Ah, adorei o poema. Por meio de suas palavras me transportei a tantos pensamentos e lembranças: a tolice, por exemplo, como é bom ser tolo, pois na pior das hipóteses, pode-se rir ou da tolice, do tolo ou de ambos;
ResponderExcluir"Sou vôo.
Em minha poesia
Sou criatura.
Em meu mundo sou criador."
Vislumbro o eu lírico-metafísico a se observar enquanto criador e criatura de seu mundo.
"Mas, beija-flor,
Quanta inveja,
Quanta tristeza,
Pois só você,
Beija-flor,
Para no ar."
Agora, pode me invejar eu-lírico, tenho o privilégio de observar completamente "estátua" o meu beija-flor depois de um voo, pois se me mexo, ele se assusta e vai embora, entao aprendi com ele, a controlar a respiração e enquanto ele descansa, eu pairo meu olhar em pleno voo sobre ele. Uma vez vi um reporter pegá-lo na mao dormindo, fica em estado de letargia, como uma semi-morte, pois em atividade, seu corpo exige tanto de seu organismo, que ao dormir é preciso parar quase tudo para se recuperar e recobrar as energias para os próximos voos.
Desse modo, tenho a honra de ser a hospedaria onde ele vem se abrigar para descansar duas vezes: pela manha e a tarde (quando vem, hoje ele nao apareceu, to com saudades rsrsrsr)
muito obrigado pelo elogio e pela análise do texto. Mas quanto ao beija-flor, só ele continua podendo parar no ar, pois a estátua encarnada apenas para cravado no solo. E nada há de mais sutil do que poder ver o ninho do beija-flor delicadamente feito no galho de uma muda de limoeiro, com ovos que se quebram em filhotes. E dali saem mais pequenas aves. Tudo isso em frente à sua janela. E o eu-lírico não inveja, ele se felicita com pessoas sensíveis que ainda param para admirar o vôo manso e delicado do colibri.
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