E mais um carnaval acaba, mais uma quarta-feira de cinzas.
E, nesse ano, a terça-feira também foi cinza: violência na apuração do desfile
de São Paulo, a Mocidade Alegre vence e os adversários, tristes, invadem o
local e quebram tudo. A Carnaviolência, a Carnainconsciência impera absoluta na
passarela; temos um número cada vez maior de aprendizes de hooligans
ignorantes, enquanto a corrupção dá mais sabor ao champagne dos nossos
desgovernantes alckmistas. E Michel Teló pega o mundo com cantadas de pedreiro,
e outro folião morre a pedradas, enquanto sambamos nossas inglórias gloriosas.
Hoje posto meu poema pós-carnaval, escrito na época de um dos milhões de
desgovernos do falecido prefeito Fernando Graça em Valença (o “carnaval da
esperança”, mais uma folia triste na cidade estagnada) e publicado em meu
quarto livro “O último adeus (ou o primeiro pra sempre)”, de 2004. E, depois do
carnaval, só nos revoltamos com os rumos incertos do nosso futebol, enquanto
outro autoaumento de salário é votado entre senadores e deputados, entre as
purpurinas da alienação. Pensamento cinza para quarta-feira de cinzas após as
cinzas de outro estranho carnaval: Nada é tão ruim que não possa piorar...
Depois do carnaval
(Pra não dizer que não falei de paixão
nacional)
O coração para de pular depois do carnaval
Induzidos pelo clorofórmio, os amores adormecem
E a chama da paixão nacional é poeira no ar
Depois das cinzas
O verde amarelo da camisa do folião embriagado
Encontra o sol depois do carnaval
E a ressaca está nos óculos escuros da mulata pálida
Nos pedidos dos clientes emergentes
Nas farmácias de plantão
A cabeça gira como uma baiana que não quer sair
Do palco da Sapucaí, ai, a dor é um arrastão da Timbalada
E aquela folia que teu beijo me deu
Desaparece como sorriso na boca do torcedor
Da escola perdedora (Teu conjunto não convenceu
Minha bateria perdeu ponto
E não houve evolução de nossas escolas). Acabou o desfile
E agora a mania é futebol: teus olhos me chutam
Como uma bola pra fora depois do escanteio.
Caem os últimos confetes sobre meu peito
Como um anúncio silencioso de adeus – falta amor
Depois do carnaval.
E só depois do tiro de meta percebo
Que aquele trapo humano dormindo na calçada
Não é um imigrante do bloco de sujos
E sim um mendigo de verdade
Cuja realidade não muda depois do carnaval.
- O carnaval da esperança passa
E os problemas continuam...
Continuam o problemas... Continuam as fantasias, no "país do Lula". Triste carnaval este nosso!
ResponderExcluirGostei muitíssimo!
Abraços!