Hoje se comemora 90 anos do início da Semana de Arte Moderna,
em São Paulo ,
Brasil. Liderada por Oswald de Andrade e Mario de Andrade, em 11 de fevereiro
de 1922, o evento decretou o início de uma grande revolução na arte brasileira:
a arte nacional não mais se submetia a mera imitação dos modelos estrangeiros –
passava a absorvê-los para criar uma arte nova (em consonância com o avanço
industrial de São Paulo), autêntica e mestiça como o Brasil. As regras e
modelos foram quebrados, a arte se renovava, sem prisões de rimas, formas
definidas, rumo a uma utópica liberdade total (a rejeição de alguns artistas
pela total extinção dos elementos tradicionais demonstrou certo exagero; a
carroça e o carro andavam – e andam – lado a lado no Brasil real).
Acima do bem
e do mal, o movimento modernista brasileiro repensou a arte nacional e buscou
dar a ela uma identidade, uma autenticidade que a cultura do Brasil carecia
para ser realmente representada na poesia, prosa, música e artes plásticas. Sempre
fui fã desse movimento (os leitores, possivelmente, já reparam que tenho preferência
pelo verso livre, apesar de não abandonar outras formas tradicionais, como o
soneto, etc), chegando até a tatuar em minhas costas o desenho que o genial
artista plástico Di Cavalcanti fez para o cartaz da Semana Moderna de 1922.
90 anos depois, dedico o poema abaixo (modernista ao extremo: sem pontuação, em versos livres e quase feito numa escrita automática),
publicado em meu quarto livro “O último adeus (ou O primeiro pra sempre)”, de
2004, em homenagem a esse movimento que tanto inspirou meus versos e meus
delírios lírico-antropofágicos (quem conhece o modernismo, sabe do que falo; quem não sabe, vale a pena estudar um pouco dessa grande fase da arte brasileira):
Solidão moderna
A solidão alcançou a madrugada
pra pedir-lhe um segundo de companhia
mas a madrugada fez-se dia
e o sol queimou a esperança da menina vazia
O grande astro revelou a criança-calçada
na notícia-cobertor
o homem bebida nas mãos da saideira
que nunca acaba
Envergonhada, a solidão pediu licença
e escondeu-se
no homem-estatística da fila desemprego
no quarto escuro do desassossego do poeta
Então fez-se noite no mundo dos sonhos
e a solidão brilhou como estrela vadia
não existe mais métrica, não existe mais rima
a poesia moderna acompanha a rotina selvagem
Declamação do poema "Solidão moderna"
no Sarau Solidões Coletivas in Roça, em Valença/RJ
Ah meu caro professor-poeta-pateta ou é professor-pateta-poeta ou pateta-professor-poeta (nunca lembro a ordem que voce se autodenomina, se não for essa, me perdoe, acuso sempre minha memória que é péssima mesmo). Sabiaaaaaaaa que eu já tinha visto essa imagem em algum lugar quando vi a sua tatuagem, mas não quis ser indiscreta e perguntar (rsrsr,cheguei até a aventar a ideia do oscar em versão feminina, kkkkk )Menino, entao sua pele vale muito, um Di Cavalcante não é pouca coisa não hein.
ResponderExcluirAnd the oscar goes to "O grande astro revelou a criança-calçada na notícia-cobertor; a poesia moderna acompanha a rotina selvagem"
Versos maravilhosos Carlos, o poema em si, mas necessito eleger os versos que ficarão guardados na fraca memoria e não podem ser muitos, senão esqueço.
Mas a nossa cultura ganhou muito com esse deglutir, ruminar, regurgitar rompendo com a tradição dos meramente "imitatórios homogeneizados". Se antes elegiam algumas coisas para além de nosso contexto de vida para "poetar", hoje,com o Modernismo, tudo é matéria-prima para a poesia, matéria que reconhecemos, sabemos e encontramos em nosso dia a dia. Antes restrita a parametros, hoje deliciosamente desmedida, completamente em trânsito e transitável entre os limites.
UM GRANDE VIVA AO MODERNISMO, A IMAGEM EM SUAS COSTAS (rsrsr)E UM VIVA "MAIS MAIOR" A POESIA SELVAGEM, INDOMÁVEL!