Hoje deixo aos leitores um poema pré-carnavalesco, publicado
em meu terceiro livro “Note or note ser” (2001) e cheio daquele nosso velho
sentimento moderno de todo mês de folia: a ‘carnacarência’ (Por sinal, o carnaval
é uma época significativa pra minhas primeiras celebrações da carne, afinal, foi num período
desses que tive minha iniciação sexual – e olha que jamais fui muito fã desse
momento festivo).
Inspirado na leitura do livro “Carnaval”, de Manuel Bandeira
(o seu “carnaval sem nenhuma alegria” da fase pré-modernista do poeta
pernambucano), o poema que posto às vésperas da folia, foi um dos primeiros
poemas meus publicado em jornais locais, escrito em 1995, numa época em que o
carnaval pra mim era um período de muita agitação e angústia pelos momentos
festivos acompanhando a solidão da multidão:
Carnacarência
Nesse carnaval
Eu quero confete, muito confete.
Não me olhe assim
Como se eu fosse um chato:
A vida me fez assim,
Um coração mimado
Pelas carências do novo século.
Eu preciso que você me abrace,
Que não me largue nesse carnaval,
Mas você quer o palco,
Um desfile de escola de samba
Só pra sua passarela
E não entende que só quero você
Antes que a quarta-feira de cinzas
Consuma toda a minha felicidade.
O carnaval de aparências continua na Apoteose
Enquanto a tevê encobre os blocos humanos
Que não foram convidados pra festa
E você continua
O seu desfile econômico
Oferecendo muito menos do que este sambista
Esperava de sua escola...
O bom do carnaval e da carnacarencia é que sempre há reinicios.
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