Hoje, 21 de fevereiro, se comemora o Dia Internacional da
Língua Materna. A data comemorativa foi instituída pela UNESCO para dar
visibilidade à diversidade linguística e cultural da humanidade e promover a
sua salvaguarda, passa quase sempre, entre nós, despercebido. Em homenagem a
esse dia, dedico minha postagem à musa Saudade, palavra existente apenas na
Língua Portuguesa (isso mesmo: não há outra língua que possua uma palavra pra
traduzir a nossa “saudade”). O poema, publicado no meu quarto livro "O último adeus (ou o primeiro pra sempre)" é dividido em 4 partes: a primeira destaca
a geografia da Língua Portuguesa, os países que utilizam (ou utilizaram) o
idioma lusófono e questiona a imagem hegemônica dos 250 milhões de falantes
lusófonos, herdada do passado colonial, que os portugueses insistem em manter. A segunda
destaca a história da saudade, o surgimento desse sentimento lusófono a partir
das grandes navegações e viagens além-mar. A terceira e quarta partes fazem
referência à Literatura, aos escritores que embelezaram a saudade e a nossa
língua portuguesa (na terceira parte, cito a ‘muxima’, palavra de origem
angolana, que significa coração, vinda de uma de suas inúmeras línguas maternas
autóctones, usada em textos pelos escritores angolanos e ignorada pelos
ex-colonizadores portugueses). Neste dia de carnaval, desfilemos nossa saudade,
nossa língua, nossa identidade que não identifica (aproveito o carnaval e,
apesar de eu torcer pra Portela, deixo para os leitores um vídeo do samba
enredo de 2007 da Mangueira em homenagem à Língua Portuguesa):
Saudade dá Bandeira
I
Saudade é carteira de identidade que não identifica,
É alma colorida indefinida;
É caipirinha em Portugal,
São tambores de Angola no Apoteótico Carnaval.
É Ilha da Madeira, Açores, Goa, Damão,
Singapura, Cabo Verde, DIU, Ceilão,
Moçambique, São Tomé e Príncipe,
Macau, Guiné-Bissau,
Java, Malaca, Mombaça, Zamzibar,
Timor Leste e uma Liberdade que não há,
Saudade é benefício e exploração,
Saudade é intimidade e intimação.
II
A navegadora chega e abraça a costa;
Depois parte e não volta.
Os olhos do encontrado se perdem na desordem do mar
Indo e vindo, sendo e não sendo, tendo e não tendo...
Saudade é aprender a amar o distante,
É se amarrar na linha do horizonte,
É encontrar o longe,
É se perder no mar.
III
Saudade é o Calvário esquecido de Varela,
É Florbela de Lácio lascivo,
É vivo Bandeira – libertinagem nas muximas,
É rima na língua de Camões.
É mensagem que dói e não se vê,
É quase que dói e não se sente,
É paulicéia desvairada descontente,
É canção do exílio que desatina sem doer.
IV
Mesmo se eu falasse a língua de Vinícius e Cecília,
Sem saudade eu nada seria...
Carlos Boa Noite voce me adiciou como seu amigo no pureblogs e vem conhecer seu blog e gostei muito gostaria que vc participasse do meu da uma olhada ok , abraços Joao Batista
ResponderExcluirhttp://rottweilerumcaopanheiro.blogspot.com/
Faço coro aos seus vivas Carlos. Amo minha lingua: o PORTUGUES. Quando leio qualquer texto em minha lingua materna, faço questão de pronunciar cada palavra com gosto, com gozo. Acredito que poucas linguas tem a sonoridade melodiosa que a nossa (ops, será que estou sendo muito nacionalista rsrsr?. Certa vez ouvi uma oração em aramaico, foi a unica vez que essa minha certeza titubeou.
ResponderExcluirÔ omi, que poema lindo. Tuas palavras - doeu (uma dor gostosa de sentir) e eu senti cada uma em meu ou em minha "muxima".