Lamento aos leitores que acompanham meu blog dia a dia uma
certa inconstância minha nas postagens do blog. Confesso que ando meio cansado:
cansado da urgência vampiresca dos tempos acelerados, cansado de tanto trabalho
(e olha que o ano está só começando), cansado dos pequenos desastres diários
(uma caneta perdida, no outro dia um pen drive, uma frase calada, um equívoco, um desapontamento, um
camundongo que me escapa, as fofocas com línguas de pólvora que meus ouvidos
escutam por não poderem se fechar e ignorar o mundo como é possível quando
usamos os nossos olhos, pequenos cortes que refletem a fragilidade da pele e
sentimentos derrotistas guardados num cofre sem código implodindo em mim),
cansado de mim cansado, cansado, CANSADO. “É só hoje e tudo passa”, diria
Renato Russo. Mas hoje estou cansado, mas sei que, mesmo cansado, preciso
continuar. O blog não vai acabar, o trabalho vai continuar, apesar de tudo
seguir um ritmo um tanto sereno e melancólico nesses meus dias de estranho
silêncio íntimo. Posto hoje um poema antigo, publicado em meu quarto livro "O último adeus (ou o primeiro pra sempre)" (2004), de uma época em que também me sentia
assim. Espero que gostem, espero que não me abandonem; o ânimo tirou férias,
mas ele volta, só lhes peço poética paciência (como na música de Lenine: Enquanto todo mundo / Espera a cura do mal / E a loucura
finge / Que isso tudo é normal / Eu finjo ter paciência... // O mundo vai
girando / Cada vez mais veloz / A gente espera do mundo / E o mundo espera de
nós / Um pouco mais de paciência...).
O último copo
Talvez o mundo seja um profundo obscuro
sustentado pela luz das estrelas maiores
Talvez o mundo seja pequeno
e eu, como todo ser humano, imagino-me imenso
e não percebo que minha visão é miúda
diante da grandiosidade dos astros
Eu não sou... a minha razão é tão sóbria
quanto o álcool que desce em sua garganta
Em silêncio, tento criticar a patente do amor
sem sentido
mas eu sinto... como a mentira sente a solidão
de estar oculta
O meu lirismo não tem sentido
anda perdido
como um cubo de gelo no seu copo de gin
nesta noite fria
frígida como uma aula sobre estatísticas
como um queijo sem leite
eu estou com você
sem você estar comigo
E a poesia se mistura com a loucura
como uma canção de amor
no meio de uma discussão política
(vote em mim nas próximas eleições
São palavras repetidas, tão repetitivas
quanto os problemas que vejo nas ruas
no reflexo de seus olhos
nos seus olhos que não estão comigo)
A lua parte
enquanto meu coração adormece
pedindo ao sol que o desperte
como brisa em seus cabelos
como uma luz no fim do túnel
como um motivo pra chamar sua atenção
Talvez eu seja um anão
com a tolice de um gigante...
Meu caro e cansado amigo, essa "anormalidade" é normal, mas como vc mesmo disse, vai passar. Sinceramente, não lamento totalmente, só uma parte; sou muito egoísta, sei que esse ensimesmamento é um sintoma de verves se movendo, se chocando para a iminente erupção; bem pelo menos é o que acho (é só um palpite). Lembro de um professor que sempre afirmava que as bacantes eram de extrema importancia para os gregos para aliviar o peso da vida. Aproveite o carnaval, quem sabe não melhore, quer para ficar em silencio quer para ferver no compasso do samba, suor e o que achar melhor.
ResponderExcluir"Talvez eu seja um anão
com a tolice de um gigante..." E NÃO SOMOS TODOS NÓS? Tolice, tolice, tolice, como é bom a tolice.