Volta às aulas é sinônimo de retorno ao local de trabalho de
cultivo de sonhos e, consequentemente, momento de rever Teresópolis/RJ e, no
trajeto Valença/Rio de Janeiro/Teresópolis, reencontro-me com a Serra dos
Órgãos, espaço natural que arrebatou meu coração à primeira vista “soberba”
(quem conhece a cidade serrana sabe o significado desse pequeno jogo de
palavras. Pra quem não conhece, explico: há um mirante no bairro Soberbo,
chamado “Vista Soberba”. O poema abaixo, inscrito e classificado em 3.º Lugar no
2.º Concurso do Espaço Cultural de São Pedro da Serra, tema “Serra”, em Nova Friburgo , é o
resultado de delírios poéticos diante da paisagem das minhas idas e vindas a
Teresópolis. Inicialmente sem inspiração, acabei tentado a escrever, após ler
os poemas de meus alunos sobre a serra (eles ganharam o primeiro, segundo e
terceiro lugares na categoria juvenil do mesmo concurso). Quem me ajudou nessa
empreitada poética, na época, foi a professora de Inglês Franca de Assis, que
me indicou a canção “Meu amor se mudou pra lua”, de Paula Toller, que, segundo
ela, a composição sempre lhe lembrava a subida para a Serra dos Órgãos, o
contato com a natureza e o ar belissimamente bucólico da estrada. Ouvindo a
música, contagiado com os poemas de meus alunos e relembrando cada olhar que
dou a cada passagem pelas belas paisagens das serras de Teresópolis, fiz o
poema abaixo:
Subindo a serra
Primeira marcha:
Meus olhos penteiam teus cabelos
- matos em desalinho que tateio
com a ilusão
como um menino que rabisca
horizontes infinitos em trilhas sem saída.
Segunda marcha:
Meu rosto abraça tuas frontes invisíveis
- estranhas formas rochosas que conheço
através do inconsciente
como um velho que recorda
infâncias inventadas no mirante da memória.
Terceira marcha:
Meu corpo idealiza teus ombros
- vários morros que fotografo
com a imaginação
como um louco que relata
imagens fantásticas nas montanhas do vazio.
Freio:
Quantos loucos velhos meninos
brincam nessa ciranda geográfica?
Ponto morto:
Estaciono meus órgãos
no parque em paisagens da realidade.
Gás:
Minhas orelhas conversam com teus ventos
- sussurros místicos que me prometem
novas vidas nas serras imaginárias
depois do expediente.
****
Aproveito para indicar o link da descrição lírica da viagem do grande escritor e músico Marcos Carcará de Delfim Moreira até o Parque Nacional da Serra dos Órgãos: http://carcaradaestrada.blogspot.com/2011/12/delfim-moreira-rio-de-janeiro-e-parque.html. Vale a pena ler, imaginar e ouvir (além de escrever magistralmente, Marcos ainda tocou um blues em referência à região serrana):
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