Há algum tempo atrás, vi na
página de atualizações do facebook, uma mensagem que minha amiga virtual Cris
Lacerda compartilhou sobre sentir a chuva e não apenas vê-la cair. Por causa
dessa mensagem, me vieram mil poemas na cabeça – um destes é o que compartilho
hoje com os amigos leitores no blog.
Esse poema demorou um pouco para
ser postado, pois foi selecionado em uma coletânea e tive que segurar a
postagem pra preservar o ineditismo do texto. Ainda não é o poema sobre sentir
as chuvas que planejei e prometi para Cris Lacerda, mas recebeu a influência da
postagem dela e, assim, é dedicado a ela e a todos que veem as chuvas de
inverno e que levam milhares de sentimentos todas as vezes que assistem ao
espetáculo das chuvas que hibernam nossas sensações no inverno, como as canções
mais melancólicas da Legião Urbana, como a poesia sublime de uma tristeza ‘quase
sem querer’ que acorda em nossos olhos nestes dias frios.
Tudo que não falei pra você (ou A
tempestade que não acaba)
“Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.” (Renato
Russo)
Sabe esse corte em meus lábios,
tão invisível pra nós dois?
É aquele beijo que não dei em
você.
Dói sempre, mas alivia quando
adormeço,
cicatriza quando bebo sonhos.
Sabe esse buraco em meu peito,
tão protegido dentro da camisa?
É aquele coração que se abriu
e você não levou.
Dói sempre, principalmente em
dias frios,
gela em noites de calor...
Sabe essa flacidez em meu sexo,
tão escondida no banho solitário?
É aquela noite mal dormida,
a cama vazia como você deixou.
Dói sempre, mas o ralo do
chuveiro leva
todos os esforços de tentar o
prazer,
inútil tentar sozinho me fazer
amor...
Sabe essa ferida no dedão do pé,
tão aflita e ridícula no sapato
apertado?
É aquele chute que dei contra a parede,
depois que você não voltou.
Dói sempre, principalmente quando
amanhece
e vejo a sala intacta, sem
nenhuma evidência
da minha violência,
como furacão que nada arrasta,
tempestade sem água,
hoje está chovendo demais!...
Sabe esse cara bem sucedido na
sua frente,
tão abatido apesar do sorriso?
É aquele mesmo homem orgulhoso
que ignorou a sua tristeza
e agora dorme sempre com ela,
sem saber como lidar com toda a
dor
que você deixou...
Tenho que ir, ver como o inverno
invade a minha casa,
deixo consigo a minha máscara
descarada,
enquanto me jogo na tempestade
que não acaba.
Engano-me que são gotas de chuva
as minhas lágrimas,
cabeça erguida, alma cabisbaixa,
o velho bom mau perdedor...
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