O amigo leitor deve ter reparado que o poeta-blogueiro que
vos fala não fez postagens ontem. Alguns devem ter pensado: “foi por causa do
jogo do Brasil contra a Alemanha”, etc, Bem, foi e não foi. Me explico: como
ontem havia o jogo da Seleção Brasileira, não houve aula, e há tempos estou
enrolado com muito trabalho (provas, redações, etc.), afinal, além de
blogueiro-poeta, sou professor-pateta. Aproveitei o máximo do tempo de folga
pra diminuir a quantidade de material a ser corrigido (a pilha de tarefas nunca
acaba, ai, ai).
Claro que, na hora do jogo, ou melhor, do sacode, da goleada
humilhante que a Seleção Brasileira de Futebol tomou da Alemanha (ai, ai, 7 a 1 – eu avisei antes aqui no
blog que viria desgraça pra nossa torcida, mas jamais imaginei tamanha coça).
Ameacei postar algo após o jogo, mas nossa torcida, em sua
maioria, estava bastante atônita e, somando a impaciência nacional costumeira
quando o assunto é leitura, decidi não postar nada ontem; aceitei o período de
omissão escrita (ou melhor, de silêncio sem postagem) e continuei a pôr em dia
as produções tetuais dos meus escritoralunos, etc. Mas é claro que uma goleada
histórica e tão esmagadora não passaria em branco pelo blogueiro que vos fala.
Assim, no meio de meus afazeres, o gênio criador me
pentelhou e tive que conceder alguns minutos de ontem para a produção de um
novo poema, que, refletisse sobre a goleada que nossa seleção levou e, ao mesmo
tempo, sobre a farsa de que os jogos da Copa do Mundo e o time brasileiro eram oferendas
fantásticas dadas a todo o povo brasileiro (poucos tinham condições financeiras
de chegar perto da seleção e muito menos poucos populares puderam ir ao
estádio, assistir ao desastroso jogo de perto). Para homenagear os 7 gols que
levamos, resolvi fazer uma subversão poética do “Poema de Sete Faces”. Em
homenagem ao gol de honra da nossa seleção, acresci uma oitava face, uma
oitava estrofe à favor da sobrevivência do sonho (mas, sem essa seleção, cruz
credo) através de nós mesmos e da poesia que trazemos em nós.
Fica o recado poético louco para os amigos leitores: agora é
erguer a cabeça e bola pra frente (que bola pra trás nós já levamos de sobra,
me perdoem a infame piada final)!
Seja na mais sofrida vitória ou na mais escandalosa derrota,
seja qual for o momento, amigos leitores, Arte Sempre!
Poema dos 7 a
1 (Sete estrofes contra e uma a favor)
(ou Paráfrase obscura e famigerada – quase paródia noir – do
“Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, inspirada na histórica
goleada que a Seleção Brasileira de Futebol levou da Alemanha nas semifinais da
Copa do Mundo de 2014, no Brasil)
Quando nasci, um anjo de pernas tortas,
desses que nunca jogam bola,
disse: Vai, Carlos! ser gandula dessa gente rica.
Os estádios espiam os jogadores
que correm atrás de um objeto redondo.
A torcida talvez fosse mais colorida,
não houvesse tanta miséria.
O bonde da torcida passa cheio de pernas:
pernas brancas brancas quase todas brancas
(as pernas de outras cores, em sua maioria,
não tinham dinheiro pro ingresso
e tiveram que assistir ao espetáculo
às margens da vida).
Para que tanta perna branca e rica
manchando de alvura o espaço
que deveria ser colorido, meu Deus,
pergunta meu coração cidadão.
Porém meus olhos críticos
já sabem a resposta..
O homem poderoso atrás do bigode
é mal educado, violento e alucinado
quando torce e quando manda em você.
Grita com todos
Tem poucos, raros amigos
o homem poderoso atrás dos óculos e do bigode
reproduz para os jogadores
toda sua ordem e desordem
diante de seus funcionários.
Meu Deus, por que abandonaste
o time daquele homem poderoso e grosseiro,
se sabias que ele, metido a Deus,
descontaria o fracasso em cima de mim, que sou fraco
e dependente do salário que esse demônio me paga
com tanta lamúria.
Copa do Mundo Vasta Copa do Mundo,
se jogasse o meu amigo faminto Raimundo
seria um time igualitário, não seria injusta a Seleção.
Copa do Mundo Vasta Copa do Mundo
mais vasta é a desigualdade social.
Eu não devia te ver , oh Seleção Ilusória
de jogo tão individual e mesquinho,
mas esse frenesi coletivo
mas toda essa pajelança de propagandas
enganam qualquer pobre diabo como eu.
E, após a derrota desse time de brasileiros
que não me veem,
finalmente posso dormir
sem esse sonho coletivo pré-fabricado
Após a humilhante derrota desse time de brasileiros
tão estrangeiros,
finalmente eu posso voltar a sonhar comigo mesmo,
com meu verdadeiro povo,
com a musa esquecida
(sim, é nesses momentos da inglória coletiva
que um homem pobre de dinheiro, mas rico de fantasias
precisa reencontrar sua poesia,
mesmo que seja apenas uma rima,
mesmo que não seja a solução...)
Carlos Brunno S. Barbosa
Do meu livro que jamais foi publicado “Nenhuma Poesia e
Outras Nenhumas Coisas Com ou Sem Rima” (Copa do Mundo de 2014)
Fantástico.... Parabéns professor!!!!
ResponderExcluirRoubando sua fala: FODÁSTICO!!!!!!!!!!
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