Hoje deparei-me com uma velha novidade consumista: o Black
Friday Brasil (sim, os brasileiros nem se deram ao esforço de traduzir o nome
para o português – Sexta-feira Negra poderia ser um nome ruim para os
negócios). No Black Friday, o Dia do Desconto, centenas de lojas te oferecem
‘preços especiais’ nos produtos comercializados por elas. Os vendedores te
oferecem o mundo, outrora com o dobro do preço, pela metade do valor anterior,
ou seja, você pode comprar o mundo pela metade do dobro do preço! E nós, já
consumistas compulsivos, lotamos as lojas com a euforia doente de comprar todos
os bens desnecessários possíveis. Sites lotados, consumismo delirante, calor
infernal, queima de preço, chamas no cérebro, vendemos nossas almas sem nos
preocupar, compramos sem pensar, compramos mais do que podemos pagar, compramos
cada vez mais banalidades, enquanto a essência humana vai terminando de falecer
na fila extensa de nosso consumismo irracional.
O poema de hoje é um tributo a nosso consumismo desenfreado,
uma elegia a nossa humanidade cada vez mais esquecida no velório de nossos
reais valores (não confundir com valores em reais; não barateie minhas ideias
desbaratinadas, por favor!) . Recomendo que leiam ouvindo "Homem Primata", dos Titãs, e "3.ª Pessoa do Plural", de Engenheiros do Hawaii.
Liquidação de poemas liquidados!!! Aproveitem o quanto podem a leitura! Afinal é Sexta-feira Negra! É só hoje!
Amanhã o lirismo nosso de cada dia estará caro demais novamente!
Sexta-feira Negra
Sexta-feira Negra, baby!
E meu corpo apalpa
A superfície suja
Dos objetos que compro
No mercado banal.
Quanta obscenidade existe neste pudico bacanal de preços
super-faturados?
Quanta obscuridade existe neste claro carnaval de desejos
forçados?
Sexta-feira Negra, baby!
E eu vendi minha alma
Pra comprar a sua
Pela metade do dobro
Do seu preço real.
Quantos reais valem ser nada no real?
Quantos reais valem ser tudo virtual?
Sexta-feira Negra, baby!
E o sol assalta
Minha carne vazia e estúpida:
Sou queima de descontos,
Sou um resto mortal.
Quanto vale esse conteúdo irreal?
Quanto vale esse capitalismo animal?
Sexta-feira Negra, baby...
E já não estou mais em mim,
Já não existe nada aqui.
Acabou, estou acabado,
Sou consumidor consumado:
Não existe mais nada pra vender ou comprar em mim
É o fim!
Amanhã é outro sábado de sol sem sal.
Amanhã também é escuridão total.
Sexta-feira Negra, baby!
Mas que cilada!
Hoje eu descobri
Que não valho nada...
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Essa é a pergunta: Qual é o valor que atribuímos a nós mesmos?
ResponderExcluirAbraço!
Maraaaaa! Sexta-feira byebyeBrazilBlack!
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