terça-feira, 7 de agosto de 2012

Causos e Contos Olímpicos: A queda de Baloubet


Nesses momentos decisivos das Olimpíadas em que debatemos (e nos debatemos) se o desempenho do Brasil é melhor ou pior que o dos anos anteriores, posto um conto antigo meu, escrito após as Olimpíadas de Sidney 2000. Naquela fatídica olimpíada na Austrália, o Brasil conseguiu 12 medalhas, porém não conquistou uma medalha de ouro sequer (foram 6 medalhas de prata e 6 de bronze). 
Lembro-me que a última participação significativa de um atleta brasileiro naquela Olimpíada foi no hipismo: Rodrigo Pessoa, com seu cavalo Baloubet du Rouet, era a última esperança de medalha de ouro para o Brasil. Passando pelos bares, vi cenas inusitadas: brasileiros acompanhavam a prova individual de Hipismo como se fosse um jogo de final de Copa do Mundo; ninguém acreditava, ou melhor, não queria acreditar que a delegação brasileira voltaria das Olimpíadas de Sidney sem nenhuma medalha de ouro. Além do mais, Rodrigo Pessoa há tempos brilhava no hipismo e o favoritismo do atleta era evidente. 
Escrito nos anos 2000,
o conto "A queda de Baloubet"
foi publicado em meu sexto livro
"Diários de Solidão" (2010)
Mas ninguém contava com a rebeldia do cavalo francês de Rodrigo Pessoa: Baloubet du Rouet rejeitou pular diversos obstáculos, em resumo, amarelou feio. Lembro como as pessoas desligavam os televisores, com ares de derrota, como se, mais uma vez, a seleção brasileira de futebol não tivesse confirmado seu favoritismo (lembremos que a Olimpíada de Sidney ocorre 2 anos após a estranha e apática derrota do favorito Brasil para a surpreendente França de Zidane na Copa do Mundo de 1998, na França). Mas não havia Copa, havia sim uma Olimpíada, uma olimpíada sem o brilho do ouro para nós, brasileiros (mais uma vez fomos traídos e derrotados pelos franceses – lembrando que o cavalo de Pessoa tinha origem francesa). 
Agora recebo a notícia de que a Seleção Olímpica Masculina de Futebol do Brasil chega a mais uma final e pode se consagrar campeã olímpica pela primeira vez, enquanto os cavaleiros brasileiros, em sua maioria, veem seus cavalos tropeçando em obstáculos e se distanciando cada vez mais de uma esperança de medalha. Como diria Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.  12 anos depois da Olimpíada de Sidney, o mundo dá uma volta olímpica no destino de nossos atletas e nas esperanças dos torcedores brasileiros.

A queda de Baloubet

            Os olhos do menino sul-americano observam apaixonados a beleza onipotente do equino olímpico que traz nas patas francesas a esperança verde-amarela de subir no lugar mais alto do pódio.
            O galope firme do cavalo e do coração... Cada obstáculo é um risco, cada risco é uma taquicardia diferente. Enquanto sonha acordado, o menino não conta mais ovelhas, e sim cavalos... cavalos pulando obstáculos (na verdade, um só cavalo pulando milhões de obstáculos).
            A barriga do menino implora por comida, porém ele pretende suportar esse último obstáculo - precisa alimentar os sonhos mesmo com o estômago vazio.
            ... Mas o unicórnio sem chifre do menino tomba na terra estrangeira, arrancando as asas dos olhos amadurecidamente infantis. De volta ao chão: um século passando em poucos milésimos, uma vida sem conhecer o sabor da vitória (será doce, salgada ou azeda como limão?). O Olimpo é dos deuses; aos mortais, resta a ilusão do ouro que não brilha, da esmeralda que é turmalina (o gosto da vitória deve ser bom... deve ser bom... é bom pra quem ganhou... não sei...).
            Então o dono do bar desliga a tevê e algo escurece no coração do menino. A barriga ronca novamente - precisa alimentar-se pra voltar a sonhar:
            - Vai graxa aí, tio?
            Na terra estrangeira, o cavalo se levanta.  

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