Bistrô Café do Bom, Cachaça da Boa, Rua da Carioca, 10, Rio
de Janeiro/RJ, dia 25 de agosto de 2012 - Juliana
Guida Maia, o músico Zé Ricardo e eu, representando o Sarau Solidões Coletivas e a arte valenciana, participam do evento carioca Identidade Cultural &
Movimento Culturista 6: A pluralidade da arte, organizado pela poeta Janaína da
Cunha. O trio apresentou poemas e canções de autorias próprias e contaram com
as participações mais que especiais dos músicos Hélio Sória e Márcio Bragança.
Olá, caros leitores, bem vindos ao blog daqueles que guardam um sorriso solitário no canto dos lábios que versam sonhos coletivos. Bem vindos ao meu universo virtual poético, bem vindos ao mundo confuso e fictício ferido de imortal realidade. Bem vindos ao inóspito ambiente dos eus líricos em busca de identidade na multidão indiferente, bem vindos ao admirável verso novo.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Solidões compartilhadas: A Cena Underground, por Karina Silva
Hoje compartilho mais uma vez minhas solidões poéticas com a talentosa poeta valenciana Karina Silva. Neste novo poema, Karina nos apresenta seu olhar poético para a cena underground, que a cada dia cresce mais nos horizontes líricos valencianos. Em tempo: esse poema abrirá a edição especial do Sarau Solidões Coletivas in Bar, que vai rolar amanhã, às 18:30h, no Bar da Néia, na rua Maria Clara Pentagna, n.º 78, no Parque Pentagna, em Valença/RJ:
Cena underground
Paisagens voam a minha frente.
Nos arredores da cidade tumultuada...
Como são belos
os sons daqueles subversivos,
tentando fazer a diferença,
com seus instrumentos de cordas.
Como são belos,
tão belos, que chegam a ser perversos!
Palavras ecoam, como um refrão...
belos, são perfeitos, malditos, são insanos...
A arte volta pras ruas
atraindo um movimento.
O movimento periférico,
o movimento da liberdade
formando a cena underground.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Tempestade romântica: Foi numa noite chuvosa que eu conheci o Amor
Dias meio nublados, leve melancolia no frio suave que nos
invade primeiro o corpo e, depois, a alma, chuvinhas esporádicas e opostas ao
rigor da estação (mais parecem chuvas hibernadas de verão) à noite prenunciando
o fim do inverno... Hoje posto um poema de amor suave, um antigo poema
revisitado, outrora inédito, agora revelado: sim, foi num dia assim, de um
tempo assim, há muito tempo atrás, que tudo começou...
Pra ser lido ouvindo "A cruz e a espada", do RPM.
Foi numa noite
chuvosa que eu conheci o Amor
Os olhos do céu em lua nova
despertavam suas lágrimas de luto:
algo morreu em mim...
Estava escrito no roteiro de minha vida;
meus olhos já tinham lido a peça inteira,
eu já sabia que, um dia, isso iria acontecer...
Restou-me apenas assistir ao enterro
de meu passado solitário
e olhar o presente solidário
e, cego, ver você,
e, cego, enxergar o Amor!
Algo morreu em mim, mas eu não sinto dor!
- A noite chora lá fora,
mas o sol ri em meu novo agora!
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Sarau Solidões Coletivas In Bar 5: O Quinto Engradado Lírico ao vivo!
Como virou tradição em Valença/RJ, todo terceiro sábado do
mês rola o Sarau Solidões Coletivas In Bar e, em agosto, não foi diferente. No Bairro Getúlio Vargas, Bar e Restaurante
Costelão, no dia18 de agosto de 2012, o Sarau Solidões Coletivas chegou ao seu Quinto
Engradado Lírico, com o apoio dos artistas, população e do Jornal Valença em
Questão! Vejam os vídeos:
Neste primeiro vídeo, há a estreia (no evento) do experiente
poeta e declamador Duarte, a comédia 'stand-up' de Ronaldinho The Wall, o poema
de Juliana Guida Maia, esporro de Carlos Brunno S. Barbosa (fica o registro pra
não confundirmos underground e liberdade - elementos fundamentais de eventos
artísticos que o sarau apoia - com falta de educação), o
tributo-lírico-musical-in-memoriam a Celso Blues Boy, Karina Silva, Juliana
Maia, Zé Ricardo & Fael Campos (que, mais uma vez, mandou bem, mesmo gripado),
o dueto romântico do lírico casal Érick Ramos & Viviane Ramos.
Nesta segunda parte do vídeo, vemos o retorno de Alexandre
Fonseca ao sarau, João Júnior, Mc Walace Remf, Ana Rachel Coêlho interpretando
poema de Larissa Souza, Luciana, Chico Lima e João Paulo Moreira tocando Chico
Buarque e jogando pedra na Geni.
Nesta terceira parte do vídeo, vemos as "glórias e
inglórias" de Alexsandro Ramos, a estreia de Patrícia Correa no sarau
declamando poema de Juliana Guida Maia, Alexandre Fonseca, Sonia Rachid, Gilson
Gabriel e a apresentação da banda prog noise Gadernal com as clássicas do
underground valenciano "Supercílios" e "Lá em casa não tem
campainha".
Nesta quarta parte do vídeo, vemos o "Rap do PP"
improvisado por Giovanni Nogueira e MC REMF, as estreias do músico Gerson (pela
primeira vez, declamando em um sarau) e Cíbila Farani declamando poema
ledzeppeliniano de Carlos Brunno S. Barbosa acompanhada de Zé Ricardo (violão) e
João Paulo Moreira (flauta). os dois músicos também dão um show à parte ao lado
da poeta Sonia Rachid. O evento é encerrado com Patrick declamando poema de
Charles Baudelaire com acompanhamento de Zé Ricardo.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Solidões compartilhadas: As "Horas mortas" de Juliana Guida Maia
Esse tempo meio nublado, esse estranho frio de agosto me
fazem lembrar um dos poemas mais fodásticos que já li da poeta valenciana
Juliana Guida Maia: o poema neo-concretista melancólico “Horas mortas”. Para
que os leitores possam ler a obra no formato apropriado dos versos, posto a imagem dele na folha. Compartilho solidões poéticas com Juliana Guida Maia por três
motivos:
Motivo 1 – O poema dela é fodástico, já falei.
Motivo 2 – Esse poema está na lista dos poemas que
declamarei amanhã no evento Identidade Cultural & Movimento Culturista, na
Rua da Carioca, 10, Rio de Janeiro/RJ, às 11:30h.
Motivo 3 (e nem um pouco menor que os anteriores) – Diante
de uma semana tão degastante, tô meio emo hoje, com uma saudade danada da
Juliana, que, como bem me lembra Renato Russo, que é só ela “que tem a cura pro
meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi”.
Boa leitura, amigos leitores, e que as nossas horas mortas
sejam resgatadas pela mãos ressuscitadoras da Poesia.
Horas Mortas
Horas mortas
Criatividade morta ...cansaço
Meu coração em
repouso...repouso angustiado
Era pra ficar uma saudade ...
mas o que fica é uma tristeza
Pálida , simples...calada...
uma vontade de deixar de ser ...não acontecer
Anoitecer o coração, e o
sonho que era tão bom...agora é pesadelo... suor noturno ...alucinação.
Escrever pouco, falar pouco,
cantar quase nunca, não chorar , não reclamar ... amar..pra que?...apenas
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Homenagem ao D'hanks: A suave agressividade das mil faces
Hoje posto outro poema que fiz para o “Lugar de mulher é no
vocal 3” ,
evento organizado por Karina Sandré. “Mil faces”, o poema que publico hoje, é
homenagem fã-nática à banda de rock D’hanks, de Volta Redonda/RJ, e possui o
seu título faz referência ao segundo e mais recente CD da banda.
Conheci o som do D’hanks através de meu irmão, Rafael Silva
Barbosa, que foi a um show deles em Volta Redonda /RJ e me mostrou o som do primeiro
CD deles “Escolhas e renúncias” (trabalhando afastado da região – afinal atualmente
leciono em Teresópolis – meu irmão várias vezes me serviu de informante das
novidades culturais do sul das cidades próximas a Valença). Após a recomendação
de meu irmão, passei a ouvir constantemente o CD “Escolhas e renúncias”, assim
como ele o fazia – pronto: encantado com cada faixa (principalmente “Rainha do
Drama”, “Segredos”, “Nostalgia” e “Escolhas e renúncias”), já fui me tornando
um fã-nático pela banda. Comecei a procurar os clipes da banda no youtube,
seguir a banda no Twitter, procurá-los no facebook, tornei-me um fã-nático
virtual do D’hanks.
Ouvi-los ao vivo pela primeira vez no evento “Lugar de
mulher é no vocal 2”
então transformou o fã-natismo em vício musical completo: a presença de palco
da cantora Angélica Ribeiro, a energia do som primorosamente executado por
Renan “Foca’ (guitarra), Rogério (guitarra, voz e vocais), Roberto ‘Sorvete’ e
Felipe (bateria) terminou com qualquer distância entre mim e a banda: tornei-me
um irremediável fã-nático real / concreto.
A partir daí, foram longas viagens
de Teresópolis para Volta Redonda e Barra Mansa para ver shows deles (destaco o
acústico de lançamento do CD “Mil Faces”, realizado no SESC Barra Mansa, e o
super-elétrico show de lançamento do mesmo CD, com músicos convidados, no Piano’s
Bar Embaixador, em Volta
Redonda , no dia seguinte ao show acústico), conheci mil faces
da banda (ora suave, ora agressiva, ora blues, ora rock, ora new metal, ora clássica,
ora, ora, é o D’hanks, só uma banda dessas pode provocar tantas sensações e
estilos num mesmo show) e para desespero de minha namorada com nossa relação em
constante tour (“você não cansa de viajar de lá pra cá? Vamos descansar esse
fim de semana, não tem show do D’hanks essa semana não, né?”).
Fui um dos primeiros a baixar o CD “Mil faces” no site da
banda (no show de lançamento no SESC, já conhecia grande parte do repertório),
comprei o CD (porque, para o fã-nático baixar não basta, tem que ter o material
concreto, tocar, sentir, carregar aquele sorriso bobo: “sim, eu tenho todos os
CDS da banda!”) e, pra completar meu fã-natismo, eis logo abaixo o poema que
escrevi após minha milésima audição do CD “Mil faces”, construído com base nas
canções do D’hanks, somadas a letras de músicas da banda Evanescence, influência
clara no som múltiplo banda. Abaixo do poema, posto dois clipes de canções
desse CD mais recente da banda pra que vocês, amigos leitores, possam iniciar
seu ritual de fã-natismo pelo vigoroso som dessa fodástica banda. Ouça com
atenção e leia bem alto e bom som!
Mil faces
Não tente me atrair com falsos paraísos perdidos;
Já tenho meu céu, não vou lhe dar ouvidos.
Nem venha me iludir com seus novos caminhos labirintos;
Você não pode mais partir um coração partido.
Eu tenho mil faces pra me proteger;
Meus pés de bailarina sabem dançar qualquer ritmo,
Você pode lançar qualquer música nova que meus pés vão
desenvolver.
Por isso não me venha com repetidos hits pop pra me comover,
Seus velhos olhos de menino romântico não vão me envolver;
Seguir seu ritmo não quer dizer que eu vou me perder com
você.
Eu sou menina ferida pela sua beleza imortal,
Mas não estou disposta a renunciar de mim, nem me render,
Eu sou o que você quiser, você vai gostar, mas não vai me
prender.
Posso me parecer com sua vítima mais pontual,
Mas tenho outras faces, outros disfarces, eu vou enganar
você.
Eu sou minha, lembre-se disso quando vier dançar comigo,
Posso excitar seus caninos, mas continuo a me pertencer.
Você pode ser o meu melhor vampiro,
Mas, desta vez, não vou me deixar morder:
Eu tenho mil faces pra me proteger de você!
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Cantiga Soul sem Amy e sem Amor
Dias nublados como os de hoje me fazem refletir e pensar nas
perdas recentes; me lembro de Amy Winehouse, falecida em 23 de julho do ano
passado. Sua trágica, misteriosa e precoce morte aos 27 anos de idade me
retorna ao saber de uma nova internação de seu ex-marido Blake Field, com quem
ela teve uma tórrida e ultra-passional relação amorosa. A pedido da cantora
volta-redondense Carina Sandré, diva do ‘Rocksambafunkandsoul’, construí, para
que fosse declamado no evento “Lugar de mulher é no vocal 3” (como vocês podem assistir o
fragmento declamado no vídeo da postagem anterior), um poema em homenagem a Amy Winehouse e a própria
Carina Sandré.
“A Cantiga Soul sem Amy e sem Amor” é um poema que reflete
as sucessivas internações de Blake Field, a ausência que a morte de Amy causa
nele e em nós, e foi livremente inspirado “Love is a losing game”, “Rehab”, “Take
the Box”, “Tears dry in their own” e “You know I’m not good”, grandes composições
de Amy Winehouse. Além disso, o poema inclui a citação da canção “Versos
limados”, hit da cantora Carina Sandré, composta pelo poeta valenciano Wilson
Fort. O eu lírico de minha “Cantiga soul” seria o próprio Blake, em suas idas e
voltas ao mundo das drogas e seu eterno lamento pela morte da ex-companheira. Pra
ler com o coração em luto, pra descansarmos em intranquila paz.
Hey, Menino Cupido, hoje ouvi Amy Winehouse
até o dia morrer...
A noite veio em meus ouvidos, um triste silêncio
e aqui estamos eu e você
envolvidos num luto difícil de entender.
A voz dela ainda ecoa em meus tímpanos,
um banho de rosas destilado de espinhos,
é difícil nadar em suas águas sem me machucar.
Hey, Menino Cupido, as lágrimas sempre vão secar;
não seja mais nosso inimigo
e deixe que a tarde morra em paz.
Hey, Menino Cupido, Amy e eu sabemos tudo de você,
conhecemos todo mal que você faz,
por isso, não me venha com seus velhos versos limados
de falsa paz, de derradeiro amor, de infinito prazer,
eu sei que a tarde acaba e, sem Winehouse,
só fica o silêncio da morte do sol, um silêncio sem você.
Estou em recuperação, Menino Cupido, vou me levantar,
você vai ver!
Hoje prefiro uma vodka, um gin barato, até um baseado,
qualquer droga que não seja amor,
qualquer droga que não seja você.
Por isso, vá embora, Menino Cupido, hoje não quero sofrer;
eu sei que o amor é um jogo de azar
e nem eu, nem Amy queremos mais jogar.
Não seja mais nosso inimigo, Menino Cupido,
e deixe a noite nascer em paz desta vez.
domingo, 19 de agosto de 2012
Ao vivo: Sarau Solidões Coletivas em Volta Redonda (Versão Lugar de Mulher é no Vocal 3)
Volta Redonda/RJ, Piano's Bar Embaixador, dia 17 de agosto
de 2012 - A convite de Carina Sandré, o Sarau Solidões Coletivas, representado
por mim e Juliana Guida Maia fez uma participação lírica no "Lugar de
mulher é no vocal 3! Os poemas, escritos por mim, foram produzidos
especialmente para as bandas que participam do evento, e, em breve, serão
postados na íntegra aqui no blog.
sábado, 18 de agosto de 2012
Mais um poema ledzeppeliano: Bons tempos e maus tempos na poesia
Pensando no evento que realizaremos hoje em Valença/RJ, no
Bar e Restaurante Costelão, ás 18:30h, o
“Sarau Solidões Coletivas in Bar 5: O Quinto Engradado – As glórias e inglórias
da arte”, posto hoje minha meus “Bons tempos, Maus tempos”, inspirado em “Good
Times, Bad Times”, do Led Zeppelin (é o meu terceiro poema inspirado na banda;
desta vez, sugerido pelo poeta, compositor e cantor do Black Bullets, João Júnior):
Bons tempos, maus tempos
Bons tempos
Eu era jovem, cretino
E, mesmo assim, ela me disse sim!
Maus tempos
Ela também era jovem, cretina
E, assim iguais, somamos problemas sem fim...
Bons tempos
Nós nos encontrávamos nos bares
E, bêbados, dançávamos abraçados!
Maus tempos
Ela e eu nos víamos em outros pares
E, bêbados, brigávamos enciumados...
Bons tempos
Em que eu pensava ser dono de mim
E, mesmo assim, a ela me cedi!
Maus tempos
Em que ela me escravizava assim
E permanecia dona de si...
Bons tempos, maus tempos
Nosso barco na bonança do amor
Encarando eternas tempestades!
Bons tempos, maus tempos
Ela navega em novo mar de amor
Enquanto meu corpo hiberna nessa deserta saudade...
Bons tempos, maus tempos
Ela é a paz que me esgana, que me sufoca,
Mas, sem ela, sou só irritada dúvida: afinal pra onde vou?
Bons tempos, maus tempos,
Ela é a dor que me sana, que me conforta,
Por isso, sem ela, sou uma súplica só: volta, amor, por
favor...
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Gloriosa inglória: A vingança dos abandonados
Pensando no evento que realizaremos amanhã em Valença/RJ, no
Bar e Restaurante Costelão, ás 18:30h, o
“Sarau Solidões Coletivas in Bar 5: O Quinto Engradado – As glórias e inglórias
da arte”, posto hoje minha “Gloriosa Inglória”. Escrito após mais um romance
frustrado e, muito tempo depois, publicado em meu quarto livro “O último adeus
(ou o primeiro pra sempre)” (2004), o poema “Gloriosa Inglória” é um canto de
revolta às dores de cotovelo que gritam em nossa alma, após sermos abandonados
por alguém que acreditávamos amar. Com o tempo e com os vários pés na bunda que
levamos de falsos / reais amores, aprendemos com o mestre Celso Blues Boy que
“chorar não vale mais a pena”.
Como meu Tio Jorge, dono de bar e conselheiro
dos ébrios que passam por seu estabelecimento, nos diz, “Se você está mal, tudo
ao redor vai mal; se você está bem, tudo ficará bem”. Dedicado a poetaluna
fodástica Larissa de Souza, autora do blog “Minha vida” e a todos que sofrem de
amor, aí vai a minha ‘gloriosa inglória’, pra expurgarmos de vez a dor de
cotovelo que nos assola.
Gloriosa inglória (A vingança dos abandonados)
Adeus, ex-amor. Se esperas lágrimas de meus olhos
Esquece! Um Martini seco é mais sedutor que uma tristeza vã.
Beberei as gotas que não derramo num cálice de prata
Como um vampiro que degusta o próprio sangue pra sobreviver.
Consumirei minha breve eternidade com um sorriso amarelo
Porém abandonarei os vícios para recuperar a clareza de meus
dentes.
Aquele meu olhar perdido de outrora... não te iludas com
devaneios!
Podes ficar perdida, não vejo nos labirintos que imaginas:
Se cai um conto de fadas meu, encontro novos caminhos
E são reais – não sonho, pois agora posso realizar!
Levantar-me como homem e não fazer manha como uma criança.
Absurdo seria maltratar-me com partidas,
Afinal sempre partindo como vou chegar?
Esperas uma poesia de lamento... Cuidado!
Estes versos arriscam uma estrofe de gargalhadas,
Pois meu coração é tolo, mas não idiota
Pra eternizar-te como uma Dalila;
Tiras minhas forças, mas nunca minhas capacidades,
Serás minha inglória mais gloriosa,
Um tropeço que valoriza o reerguimento.
De eterno deixarei apenas a pergunta sem resposta
Num canto escuro de teu quarto, no obscuro de tua alma:
“Poderia ter dado certo?”
Meus pêsames, ex-amor.
Se esperas reticências de minha parte...
Para de esperar e leva meu ponto final.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Solidões compartilhadas: A "Visão do século" de Victor da Silva
No dia 15 de agosto, comemora-se a abertura do Festival de
Woodstock, de 1969, evento que propunha “Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz
& Música" num Estados Unidos sedentos por guerras (a nação cresceu
belicamente e economicamente com a Segunda Guerra Mundial, sustentava uma
Guerra Fria com sua [agora extinta] rival União Soviética e sustentava a
fracassada Guerra do Vietnã). O Festival de Woodstock propôs a paz e a música,
porém não pôde evitar, com isso, expor as cicatrizes de tantas guerras. Pensando
nisso, compartilho hoje minhas solidões poéticas com o jovem escritor
paulistano Victor Silva, blogueiro que conheci na rede social de blogs Dihitt e
com quem mantive contato através do facebook.
Seus “versos do universo” (nome com o qual ele batizou um de
seus blogs), Victor busca, como ele próprio declara, "expurgar” suas
idéias, desejos e receios, em versos que procura descobrir quem ele é. No poema
dele que escolhi, vemos o eu lírico expurgar, abrir, rasgar todas as suas angústias
e cicatrizes após séculos de guerras. O eu lírico nos traz o homem contemporâneo,
em falsa paz com o mundo ao seu redor, filho das feridas das guerras passadas
que ainda não cicatrizaram em nós.
Pra ler, pensar e buscar uma nova paz em todas as ameaças de
guerras interiores e exteriores (Quem quiser conhecer outras obras e
pensamentos deste fodástico poeta e pensador, aí vão os links de seus blogs: http://versosdouniverso.blogspot.com.br/ e http://questionaremudar.blogspot.com.br/ )
Visão do Século
Eu não conheci a guerra
nem suas angústias,
mas ouvi as armas roncarem
e a dor que pairava no ar
quando fazia vidas rolarem no chão.
As conquistas manchadas
nas nuvens do medo
perdiam as cores
e morriam no tempo.
O pensamento gira na direção
de uma brisa no fim do dia.
As vitórias foram em vão
e não trarão de volta
o que já passou.
Noites frias congelam o prazer
de saber que tudo acabou
e almas foram rasgadas
nas mãos de um irmão da guerra,
que se enchia de glória
por massacrar sua terra!!!
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Eduardo, um Vampiro que odeia Crepúsculos
Oficialmente, hoje, dia 13 de
agosto, em São Paulo ,
é o 'Dia dos Vampiros'. A data, comemorada há 10 anos, é uma lei na capital
paulista, que colabora com uma bela campanha solidária de doação de sangue. Em
comemoração a essa data, posto hoje meu conto de vampiro “Eduardo”,
recentemente apresentado por Anny Lucard, no programa “Contos sobrenaturais”,
da Rádio Digital Rio Jacarepaguá (o audioconto foi exibido no último final de
semana na rádio. Pra saber mais, confira o link: http://contossobrenaturaisdigitalrio.blogspot.com.br/2012/08/novo-autor-chegando-as-ondas-da-digital.html ).
O conto é uma homenagem aos
vampiros de Ane Rice e aos fãs da literatura sombria com pitadas machadianas de
Rubem Fonseca. Pra ser lido, ouvindo “Midlife Crisis”, do Faith No More.
Eduardo
“Your menstruating
heart
It ain't bleedin'
enough for two
It's a midlife crisis...” *
(* “Seu coração menstrual
Não está sangrando o bastante para dois
É uma crise da meia idade”)
(Fragmento de “Midlife
crisis”, Faith No More)
Acordei mal
com a chegada do crepúsculo. Dificilmente me levanto de bom humor, mas, desta
vez, acordei com uma fome diferente, tão intransigente quanto uma dor de dente.
Durante a
manhã, sonhei que uma ruga nascia em meu rosto, pesadelo que julgava impossível
de acontecer até deparar-me com o espelho. Minha imagem continuava ali,
perfeitamente não refletida, mas a ruga aparecia, inexoravelmente assumida em
meu rosto que eu não via.
Essa revelação
aumentou minha fome; meu estômago passeando em meu âmago numa valsa faminta de
ânsia e desespero. É verão, dias quentes e claros demais, com poucas sombras,
com muito pouco do que sempre gostei.
Com
dificuldade, aguardo o anoitecer. Já não me arrumo calmamente como antigamente.
Ah, reflito sufocado, como um ser imortal pode envelhecer? A noite vem e eu
penetro nela, com uma pressa que, ao meu estilo furtivo, não convém.
Sigo os ritmos
da cidade desespero, com um certo desconforto no peito. Não suporto os ruídos
escandalosos dos habitats recreativos desses seres inferiores, mas hoje tenho
pressa, hoje estou tão desesperado quanto eles e constatar isso me deixa ainda
mais faminto e furioso.
Lá está ela,
saindo sozinha do habitat recreativo, suada e bêbada. Leio os seus pensamentos
ralos: brigou com o namorado, ele a traiu e ela quis vingança. Como pensa com o
corpo, veio dançar, rebolar, desfilar, irritá-lo. Mas aconteceu o contrário:
ela hesitou quando o viu com a outra fêmea. Então ela bebeu, se arrependeu de
sair, se perdeu e está ali: uma presa fácil, de sabor possivelmente vulgar. Relendo
seus pensamentos, imagino que o seu ex-macho deve ser mais saboroso, mas isso
pode ser apenas uma ilusão da mente contaminada de estupidez dela; melhor ou
pior, estou com fome e tenho pressa.
Estou agora à
sua frente. Ela se acha muito atraente, se acha a ‘bela’ e meu sorriso
docemente sarcástico finge concordar (concentro-me na admiração de seu pescoço,
mas até esse único pedaço humano que realmente me interessa não me atrai tanto
nela).
Ela lê-me com
olhos de raso leitor: dedica-se a imagens e não repara nas entrelinhas.
- Olá, bela,
já é, meu nome é Eduardo – blefo rápido por puro escárnio. Então beijo seus
lábios, tentando apressar as etapas.
Minha fome
aumenta e, para não mordê-la em território impróprio, convido-a para irmos para
um lugar mais aconchegante. Com muito esforço, sussurro o meu convite aos seus
ouvidos. Ela olha o falso brilho em meus olhos e aceita. Ela pensa com o corpo,
lê com os olhos, uma presa fácil.
Conduzo-a para
minha casa. Antes de entrarmos, deixo notas caírem desastradamente do bolso, só
para vê-la ajoelhada, bêbada, o seu pescoço bem ao meu lado.
- Eu tenho
dinheiro, mas só desejo um amor de verdade. – Rá, rá! Ela não me ama, mas
acredita em minha farsa. Uma presa fácil e eu cada vez mais irônico e faminto.
– Já observou a luz nova, baby? – kkkkkk! Ela sorri, um brilho estúpido nos
olhos para a bola de luz negra que tediosamente acompanha essa terra fosca.
Nos beijamos,
mas os meus caninos estão impacientemente excitados e meu estômago alerta, com
golpes furiosos de dor, que preciso parar de brincar com minha refeição.
Preparo o golpe final, a última piada mortal:
– Eu te amo!
Você é a mais bela e mais gostosa de todas, baby! – Rá, rá, ela também se acha
a mais bela, a mais gostosa, ela vai concordar; o queijo na ratoeira seduzindo
o camundongo e o xeque-mate está pronto.
- Você acha
mesmo? Como vou saber se está sendo sincero? Então prova! – a vítima convida o
criminoso.
Com seu
consentimento ingênuo, mostro-lhe minha verdadeira face e ela grita de horror.
Tola! Ninguém a ajudará, não há ninguém aqui além de mim. Não entendo para que
tanto escândalo. Humana e tola! Não percebe a beleza desse momento, a riqueza
lírica e lógica dessa cadeia alimentar? O cervo nobre deveria saber admirar a
destreza e arte de seu leão. Mordo-a com mais fúria por sua inconsciência
inconveniente à minha superioridade.
Sinto náuseas;
o sangue dela era realmente ruim. Atualmente, tenho tido caçadas fáceis, mas as
presas trazem cada vez menos sangue dentro de si. Sou um imortal envelhecido ou
é real essa impressão de que o sangue humano está cada vez mais poluído de
vazios?
Olho o rosto
da ‘bela’; morta, a sua aparência me parece mais inútil que outrora. Desloco
seu pescoço, pois não desejo companheiras fúteis em meu clã solitário. Me olho
no espelho mais uma vez: a mesma imagem não refletida somada à ruga que fere
minha nobre inexistência. Temo que a má qualidade de meus alimentos mais
recentes esteja privando meu corpo de uma imortalidade saudável e serena.
Os primeiros
raios de sol do amanhecer ameaçam beijar minha janela. Estico a cortina e
retorno a minha escuridão segura. Tenho a impressão de que a ruga me sorri e
temo estar contaminado por alguma enfermidade humana. Isso me faz vomitar todo
sangue que bebi.
Mesmo
novamente faminto, preparo-me para dormir. Espero que o próximo crepúsculo
inicie uma temporada de caça menos ruim...
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
O quarto engradado lírico nos traços embriagantes de João Paulo Maia
Hoje tenho o prazer de, mais uma vez, compartilhar solidões poéticas com o artista plástico e fabuloso desenhista valenciano João Paulo Maia. Participante essencial do Sarau Solidões Coletivas, João Paulo Maia traz-nos, através de seus desenhos, através da embriaguez lirica de seus traços, a sua visão do Sarau Solidões Coletivas In Bar 4, evento realizado no terceiro sábado do mês de julho, dia 21, no Bar e Restaurante Costelão, em Valença/RJ (veja os vídeos do do evento em postagem anteriores aqui mesmo no blog). E as novidades não param por aí: no dia 18 de agosto, no Sarau Solidões Coletivas In Bar 5, João Paulo Maia fará sua estreia como declamador no evento, trazendo para o Quinto Engradado Lírico toda a força poética do fodástico Cruz e Sousa. Aguardem!!!
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Elegia viva pela eternidade do blues do menino azul
A postagem de hoje me sai arrastada, mastigada, dolorida...
Há dias me sinto fora do chão, as horas tropeçam em meu rosto e uma pergunta
sola, assola, isola o meu coração, mais cortante que o frio lá fora: por que
levaste Celso Blues Boy, meu Deus, por que tão cedo, por que tão agora?
Há tempos, o músico, cantor e compositor carioca Celso Blues
Boy tem preenchido meu quarto gelado em Teresópolis com renovadores blues pra
preencher o vazio dos ventos vadios da solidão. Minha admiração por ele cresceu
ainda mais recentemente, quando tive a possibilidade de comprar seu último Cd
em uma banca de revistas; “Por um monte de cerveja” me embriagou na primeira
dose. Renatinho do Delta Mood está de prova de quanto enchi o saco dele no bar
pra que encontrasse e ouvisse o Cd; minha namorada Juliana Guida Maia é
testemunha de quantas mil vezes ouvi esse mesmo Cd, declamando poesias
monossilábicas como “muito foda”, “do caralho”, “puta que pariu, isso é bom
demais!”; meus amigos do face sabem o quanto compartilhei alguns vídeos do
último Cd sem nem ao menos saber o que aconteceria com o mago do blues
tupiniquim; não escrevo sobre ele aqui por apelação, sempre amei o som do cara,
sempre admirei a ousadia do artista em fazer blues de qualidade com letras em
português, o cara sempre foi do caralho, me perdoem o palavrão, já nem sei se
tô pontuando direito, o meu amigo Osvaldinho sabe o quanto o persegui para que
me comprasse o Cd do Celso Blues Boy ao vivo que ele vira num stand de
supermercado, lembro dele cantando “Choraaaaa Guitarrrrraaaa” num programa do
Jô Soares quando este ainda estava no SBT e eu era um pós-aborrecente que mal
compreendia a riqueza do blues e a guitarra chorando entusiasmadamente na mão
dele e sabe duma coisa: foda-se a pontuação, eu tô triste pra caralho, há dias
fiquei num estado de suprema letargia sem saber o que dizer, um blues de elegia
crescendo ferozmente em mim, contendo minha alegria e me lembrando como tudo é
passageiro, puta que pariu, Celso Blues Boy morreu e eu, que planejara com
minha namorada ver ainda um show dele, agora só o tenho em CDs e putz! essa
homenagem é pra ele e a Juliana está de prova que não foi assim que eu
planejara: eu tinha bolado fazer a homenagem ao Celso Blues Boy vivo, eu ia fazer
um “Verse essa canção” da música “Ele sabia que as luzes se apagam” e vem a
porra da ironia do destino e apaga as luzes antes da minha escrita clarear,
Merda, me desculpe, Celso Blues Boy, esse poema é um blues elegia pra ti, sinto
vontade de chorar, queria ter feito um poema pra ti quando estavas vivo...
Elegia viva pela eternidade do blues do menino azul
Abaixa o som da vida, bebê blues, que agora a morte grita lá
fora
E a guitarra que chorava tão alegremente outrora
Hoje toca um silêncio surrado nas ruas longínquas das noites
sem aurora.
Ouve a falta de som no incêndio dos milhares de cigarros
Que acendo e apago, queimando no molhado,
Chovendo fumaça por dentro pros ventos vadios não cuspirem o
epitáfio da glória.
Ah, Inglória, que fazes aqui em meu quarto a essa hora?
Tão insossa, tão sonsa, tão pouco sonora...
Por que caminhas em meu corpo tão lentamente,
Por que me esfrias de forma tão ardente?
Tento não me lamentar, tento me lembrar do menino azul com
sua guitarra mágica
Me dizendo que chorar não vale a pena, mas o menino azul
agora é só uma cinza trágica
E eu choro, bebê blues, e nenhum solo sorriso ousa encostar-se
à superfície pálida de meu rosto
Ah, o menino azul ainda era tão moço e tão sonoro e tão rico
e tão engenhoso
E agora é só mais um garoto perdido, mais um toque
silencioso,
E eu choro, bebê blues, e você chora comigo, somos dois chorões
e nada podemos fazer
Pra parar de chorar.
Ouve nossas lágrimas, Inglória, sinta-nos te encher,
Inglória má,
Porque nós vamos te lamentar até te encher, nós vamos
vencer, nós vamos te afogar,
E agora, inundada Inglória, ouve o som dessa guitarra
vitoriosa
Que mais uma vez torna tuas supremas derrotas em dores
gloriosas e nossas
E agora engole cada gota dessas nossas lágrimas furiosas,
afogada Inglória,
E agora afoga nessa tempestade azul das nuvens a solar
A eternidade dessa dor ímpar,
E ouve (choremos o silêncio, bebê blues, não deixemos a
revolta desse silêncio se calar)
Ouve, Inglória garbosa, a guitarra falecida do menino azul
mais uma vez das cinzas se levantar,
Ouve, Inglória aflita, a guitarra do menino azul gritando no
silêncio,
Ouve a tua própria derrota, assustada Inglória: o menino
azul renasce em todos nós,
Em cada luz que se apaga, em nossa falta de voz,
O menino azul é o vaga-lume dos olhos que brilham em nosso
pesar,
E agora sente a tua escuridão sem par, Inglória batida,
sente o menino azul voltar à vida
E agora nós choramos sorrindo, bebê blues, porque a morte é
apenas mais uma ilusão
Na armadilha eternidade do blues do menino azul, pra ele nunca deixar de
brilhar.
Chora, Dona Efemeridade, que a luz ferida da estrela
guitarra do menino azul nunca se apagará!
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