Junho é Mês de Fernando Pessoa, o poeta de várias
faces. Hoje o blog revela as mil faces cretinas dos poetas. Em tempo: Esse
poema estará em meu próximo livro "Foda-se e outras palavras
poéticas", a ser publicado ainda neste ano, e hoje o "Brinde à Poesia",
sarau organizado por Lucilia Dowslley, em Niterói, tem como temática o poeta
português (Juliana Guida Maia e eu estaremos lá, declamando outro poema
pessoano meu chamado "Contando os pingos", já publicado aqui no
blog):
Poetas
Se te falo de Deus com tamanha simpatia
É pra te esconder minha descrença na terra,
nos seres humanos, nas mazelas da vida.
Ter Deus, possuir o enigma divino nas mãos,
ocultar limitações, a carne restrita
é o demônio ideológico poético
desse artista patético: chegar aos céus
pra cuspir a efemeridade corporal
e cretina. Ser Deus é uma ambição minha.
Poetas não são anjos, ó musa santíssima.
Se te canto o Amor platônico com pudor
é pra te esconder o furor, a ousadia
de rasgar tuas roupas, rasgar-te em carícias.
Gastei meu corpo num prostíbulo vizinho
ao teu castelo de muros altos e flores
a desabrochar. Minha alma pede descanso,
preciso de fôlego pra recomeçar.
Se me ponho a teus pés, tento teu coração,
é porque almejo teus seios, minha querida.
Poetas não são puros, musa repentina.
Se te falo de mim com tórridas verdades
é porque nada sou eu, é tudo mentira,
palavras, máscaras cínicas – poesia!
Falar de mim, descrever minhas cicatrizes
é esconder-me de ti, abrir cortes ausentes.
Que belo personagem fiz comigo mesmo!
Tão eu que nem me reconheço! Então maltrato-o,
Desfaço-me numa construção destrutiva
de um eu aparente, de uma luta perdida.
Poetas não são claros, musa subjetiva.
E, finalmente, se não te falo de nada
é pra te esconder o cansaço, novas farsas.
Fica assim a página em branco, virginal
porque a palavra é o noivo patriarca
à espera da aliança, da noite escura,
das núpcias; é o mito, o estupro, corrupção.
Deixa o silêncio ágrafo, o nada legítimo
tocar tua visão, envolver-te em pureza,
mas cuidado: o vazio é minha farsa-prima.
Poetas são vários nadas, musa esquecida.
Aplausos...
ResponderExcluirDisse tudo em prosa poética deliciosa!
É muita aleivosia...máscaras...vidas...vácuos...
Eita que isso é bom pra lá de metro OMI.
ResponderExcluir