sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ensaio sobre a cegueira dos bêbados (de amor)


Sexta-feira, dia em que homens e mulheres solteiros se preparam para a caçada noturna de todo fim de semana: a busca em bares e boites por um remédio contra a solidão: o amor, que cada vez parece mais escasso na cidade. E, às vezes, encontramos esse alguém, mas o alvo de nossos desejos não percebe o que nosso olhar pede, entramos na friendzone, nos tornamos amigos de quem desejamos, então bebemos, bebemos, bebemos; apenas o olhar mantém o desejo que ninguém além de nós mesmos consegue ver. Mas a poesia vê, o poema nos vê além de nossas máscaras.

O meu poema de hoje, inédito ainda, foi construído inspirado na colega Bárbara, que nutria desejos por um amigo meu, com o qual quase sempre ela esbarrava nas noites de sexta-feira e, com ele, bebia até tarde, mas raramente algo acontecia entre eles. Um poema que fala o que os lábios calados deveriam gritar.
Pra ser lido ouvindo “Preciso dizer que te amo”, de Cazuza, ou “Por que não eu?”, do Kid Abelha.

Ensaio sobre 
a cegueira dos bêbados 
(de amor)

Não vejo suas palavras...
O que vejo é a sua timidez
trancada pelos gritos
contidos nos ingredientes alcoólicos
dessa mistura que nos embriaga.

Mas não se cale; isso é apenas um olhar...
Continue falando o que não vou escutar.
Enquanto isso, bebo seu sorriso sério,
sua mímica lírica que me hipnotiza,
seus signos mudos que beijam meus olhos surdos.

Não sinto seus toques...
O que sinto é a sua distância
desviada pelos caminhos
infinitos nos atalhos viciosos
desse líquido superficial.

Mas não pare; isso é apenas um olhar...
Continue apalpando o que não vai me sensibilizar.
Enquanto isso, percorro sua estrada impossível,
suas trilhas oníricas que me iluminam,
seus passos no escuro que alcançam minha cegueira brilhante.

E a conta está sobre a mesa
com valores que nos saltam aos olhos!

Mas não pule; isso não é nada!
Eu pago tudo e partimos!
Enquanto isso, você se despede de minha máscara polida,
dos bolsos vazios em meu olhar sozinho...

Então eu lhe digo:
Até mais, a gente se vê...


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