Às vezes os pensamentos podem enlouquecer um homem, mas não
o poeta – ele a transformará em delírios líricos e lindos, na mais bela forma
de indignação e desejo permanente da busca por outro caminho menos rarefeito,
mais vivo. Um belíssimo exemplo disso é o poema do fodástico poetamigo
maranhense Rayron Lennon, de São Bernardo/MA, com quem compartilho minhas
solidões poética nesta segunda-feira tão cotidiana e corriqueira. Um poema
social pra sublimar nossos dias banais, nossos olhos cegos que muitas vezes não
observam a menina que saiu da escola, o pai que roubou o vestido azul, a mãe
que nada tem e o eu lírico que viu tudo isso.
Um poema para pensar, amigos leitores, um poema para não
esquecermos nunca de pensar...
Penso
Penso
E logo vejo o desejo
da chegada
da partida
da estrangulada
Penso
na menina que saiu de casa para a escola
que o vestido azul banhava a pele clara
do sorriso carente do pai
que numa noite a roubou
Penso
na certeza que um dia irá crescer
e ver que sua mãe nada tem
além da coragem e do sofrimento no rosto marcado pelo sol
ardente dos dias
que borra o rosto quando pensa no futuro da filha
Penso
na certeza cruel que veste o mundo em dia de Natal
em que nem em
Papai Noel acreditam mais
na essência que fora cortada, marcada, dilacerada e
estrangulada
e nos raios do sol, ambas esperam esperança e comida
Penso
na beleza e nas grandezas do mundo
nas tantas pessoas boas que morrem em vão
que embalam-se sem quererem ir
mas na certeza do vão, vão
Penso
penso tanto, que deixo de existir
em pensar que um dia o futuro dela poderá nunca existir
pois acredito na beleza e nas sutilezas das boas ações
mas vejo na dura e árdua convivência que o homem é capaz de
matar pra se salvar.
Penso
E peço que estas palavras passem apenas por literatura
da alma quieta, amena, brota as mais estranhas loucuras
do coração amante, as mais sinceras paixões
e da mente doentia, o fim de muitas vidas, o rasgar de
muitos balões que guardam os melhores sonhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário