Realizamos ontem o 17.º Sarau Solidões Coletivas In Bar e um
dos temas, conforme o sugerido, foi a Tropicália, a pedido de poetamigos (busco
sempre deixar que as escolhas de temas sejam feitas o mais democraticamente
possível, de acordo com as sugestões dos artistas que se envolvem com o
evento). Confesso que a dupla principal, Caetano Veloso – esse principalmente -
e Gilberto Gil, desse movimento contracultural da década de 1960 nunca me
agradou muito; reconheço seus feitos artísticos, até trabalho suas letras de
canção em minhas aulas, mas nunca concordei muito com suas posturas e as
músicas deles na minha adolescência me marcaram como algo muito elitista,
distanciado da revolta que carregava comigo, além de eu não concordar com
alguns que os colocam como ícones maiores dos artistas que sofreram com as
perseguições da Ditadura Militar – reparem que eu não disse que discordo que
eles foram perseguidos, e sim que não concordo em colocá-los como ícones
artísticos maiores da revolta ao sistema autoritário no qual nosso país era
governado. As aparições dos nomes dos artistas em todo papo de pimba
(pseudo-intelectual metido a besta e associado) me geraram mais ojeriza ainda –
seus fãs mais fanáticos são quase sempre - reparem, eu disse "quase sempre", e não sempre - os mesmos que colocam esses artistas
em pedestais, acima de todos os outros, negando qualquer genialidade a outros
movimentos contraculturais – sendo que atualmente Caetano e Gil estão mais pra
culturais de classe média e alta que para contraculturais -, calculando a arte
como se ela pudesse ser medida com uma régua de calcular triângulos, quadrados
e retângulos.
Por isso, meu poema é uma desomenagem á dupla Caetano –
principalmente – e Gil. Os mais fanáticos podem me xingar e vaiar à vontade; só
não venham me bater com aquela régua estúpida de calcular arte, por favor; esse
tipo de trigonometria nunca foi meu forte. Lembro também que o blog é aberto
para poemas em defesa dos dois; ao contrário das opiniões trigonométricas de
alguns fãs fanáticos preciosistas de Caetano e Gil.
É tudo muito lindo nos jardins tropicalientes, mas prefiro a
feiúra de meu jardim sem glórias.
As flores espancadas
de meu jardim sem glórias
Enquanto você cantava
sobre domingos no parque
e beijos de lindas mulatas,
os meninos do Rio vestiam fardas
e me batiam,
me batiam,
enquanto você cantava...
Enquanto você gritava
sobre o brilho roubado do sol
com as pessoas na sala de jantar,
homens sem poesia me cuspiam balas
me feriam
e me calavam,
enquanto você só gritava...
Enquanto você brincava
com trios elétricos
e jogos de palavras,
minhas flores eram mutiladas
pelos choques elétricos
e pelos paus de araras.
Enquanto você brincava,
algo sério me silenciava...
E agora você tem seu verão de Salvador,
seu caldo tropical de pacífico lutador,
enquanto eu trago a primavera machucada,
cheia de sementes espancadas,
espalhadas num frígido jardim sem flor.
Enquanto você a todos encanta,
eu não sou mais nada...
As flores outrora erguidas nas mãos
agora me falecem na alma despedaçada...
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