terça-feira, 16 de julho de 2013

Solidões póstumas compartilhadas: O particípio passado de Rogério Silva

Talvez os leitores tenham estranhado meu breve sumiço após voltar a escrever intensamente no blog. É um tempo de silêncio, amigos leitores, pois o Sarau e os Diários de Solidões Coletivas perderam um grande artistamigo que já nos fez companhia diversas vezes por aqui: o mais que fodástico Rogério Silva, falecido neste fim de semana.
Recebi a triste notícia quando a Ju e eu voltávamos felizes do Sarau Mil e Uma Noites e Tardes de Solidões Coletivas, realizado no último domingo, dia 14 de julho, durante o Almoço Árabe Beneficente da Associação Valenciana de Proteção aos Animais (AVPA). O evento aconteceu na Cantina Água na Boca, mesmo lugar onde Rogério Silva mostrou seu talento e intenso brilho pela primeira vez no Sarau Solidões Coletivas In Bar Especial da Mulher, realizado em março deste ano. Reencontrei o poeta no Encontro com a Poesia, sarau idealizado por Beatriz de Oliveira, realizado na Cia do Livro, e, mais uma vez, seus poemas e a luz de seus olhos brilhavam intensamente. Depois disso, mantínhamos contato no facebook, ele sempre presente, sempre brilhante. Recebi e comemorei alegremente a notícia de que um poema de sua autoria, "Acordei chuva", havia se classificado no Concurso Literacidade; seus poemas sempre mereceram destaque e o pódio dos classificados para toda eternidade. Foi difícil acreditar quando Jaqueline Cristina me informou que o poeta Rogério Silva partira; a ficha demorou a cair - confesso que ainda não caiu direito. Mas seja quais forem os labirintos de adeus em que Deus colocara nosso fodástico poetamigo, os atalhos da eternidade continuam com ele, os poemas de Rogério Silva continuam ressuscitando o brilho de vida nos olhos de seus leitores, ele continua conosco pra sempre, esperando-nos no ponto de encontro do infinito (vejam mais poemas de Rogério Silva no link de seu blog: http://pontodeencontroblog.blogspot.com.br/) .
Não há o que fazer contra a morte, amigos leitores, só podemos desejar uma chuva de eternidade para Rogério Silva e que seus versos continuem em cada gota de chuva que ressuscita a vegetação carente de vida, amigos leitores...

Acordei chuva

cobri o céu com um manto de nuvem
no ensolarado dia de outono
só pra te molhar.
transformar as suas vestes
numa pele do seu corpo.
eu chuva, sua roupa e o seu
corpo apareceríamos nus.
encharcaria seu cerne,
seu intimo.
seu ser

seria.

Particípio passado

é muito difícil pensar na velhice
quando se é jovem.
quando a idade avança
o irremediável se apresenta.
não dá mais para procrastinar.
envelheci.

tive poucos amigos
que me ajudaram nessa tarefa.
o espelho foi um. arrumou
um jeito de me enganar.
sempre me mostrava o todo
não me permitia os detalhes.

aquela ruga nova não era notada
porque vinha junto com as outras.
aquele olhar triste, hoje
só era mais triste que ontem
e ontem eu nem percebi.

minhas pernas, meus olhos e ouvidos,
todos ficaram mais tímidos
e se acanharam em me acompanhar,
como no tempo da juventude.
os dias passam como sempre!

os pés, já não caminham como antes.
passado descompassado.
confusão de ontem
como há muito tempo atrás.
não sei!
já não é a mesma coisa!

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