Ontem me deparei com uma postagem do ecologista e ativista
político Lucimauro Leite, no grupo "Valença passada a limpo", que dizia o seguinte: “Está na página 38 deste Boletim
Oficial os contratos de inexigibilidade de licitação para umas bandinhas no
carnaval e pra empresa de coleta de lixo, no meu entender valores acima do
mercado... pro carnaval foram gastos só com os shows cerca de R$ 135 mil, e pra
Própria comércio e serviços, para um trabalho de 6 meses, fora contratada pela
bagatela de pouco mais de R$ 4.500.000,00, pouco mais de $700 mil reais ao
mês...” O Boletim Oficial citado é o de Edição N.º 524 de 07 de Fevereiro de
2013.
Esse não é o primeiro caso de governos municipais que usam o
dinheiro público sem nenhum critério. Isso já principiou escândalos no início do
Governo Jorge Mário, em Teresópolis/RJ, quando os jornais descobriram os
valores milionários que o ex-prefeito gastava com a empresa de coleta de lixo
da cidade. Algum tempo depois, Jorge Mário foi cassado por outras acusações de
desvio de dinheiro público. Verbas que somem debaixo da poeira do tapete governamental...
serão elas coletadas e descarregadas em mansões-aterros por nobres garis como se
fossem lixo comum?
A Locanty, contratada pelo Governo Vicente Guedes, em gestão
anterior à atual, de Dr. Álvaro Cabral, em Valença/RJ, foi uma das empresas
alvo de graves denúncias de fraude em contratos no Programa Fantástico, da Rede
Globo (além dela, foram citadas a Bella Vista, Toesa e Rufolo). Sejam exatas ou
não as denúncias, um fato é inegável: o lixo tornou-se ouro em negociações e licitações
entre governos e empresas do setor, um ambiente agradável para valores
podremente acima do mercado, uma merda sem fim de lucros suspeitos na quase
sempre insatisfatória prestação de serviços de limpeza pública.
Envergonhado mais uma vez com a podridão daqueles que
deveriam nos auxiliar para nos tornarmos seres humanos mais limpos, trago um
poema de indignação, um pouco de merda no ventilador pra não esquecermos que há
algo de podre nos reinos municipais do Brasil (o título foi tirado do premiado documentário
“Lixo extraordinário”):
Lixo extraordinário
Vem, caminhão de lixo clandestino,
Recolhe com desprezo
Os meus sacos de detritos.
Bem longe daqui, seu patrão fatura,
Recebe montes de fortuna suja
Pra recolher o imundo que nos inunda.
Vai, caminhão de lixo terceirizado,
Leva todos os meus restos putrefatos
E deixa a merda limpa e deixa o que sobrou de mim...
Enquanto partes, caminhão coletor superfaturado,
Levo pra casa meus trôpegos pedaços
Preparados para mais um dia de exaustivo trabalho.
Sim, eu ganho e te pago
Cada centavo a mais
De teu caro contrato.
Sim, eu reclamo e depois me calo.
Sou teu contribuinte mais passivo e mais otário,
O resíduo que não foi levado,
Sou aquele barril sujo e esvaziado,
O berda-merda que paga o teu salário,
Sim, eu sou o teu lixo mais extraordinário!
(Daqui a dois dias, caminhão de lixo de ouro,
Tu vens de novo e me recolhes outro pedaço...)
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