Chegamos a mais um período de carnaval e, diferente do ano anterior, em que o blog se dedicou a essa grande festa nacional, em 2013 o blog não vai sambar conforme a música. Aproveitando o tema do próximo Sarau Solidões Coletivas In Bar, em homenagem ao rock e aos demais movimentos contraculturais da década de 1970, que acontecerá no sábado após o carnaval (dia 16/02), às 19 h, no Mineiru's Restaurante, no Centro de Valença/RJ, e inspirado na poética anticarnaval de Paulo Ras (ano passado, ele compartilhou um poema anticarnaval aqui no blog e, neste ano, ele já produziu outra obra-prima contra a carnavalização brasileira - veja no link: http://impressoesedigitais.blogspot.com.br/2013/02/impressao-de-des-carnavalizar.html ), hoje apresento-lhes um poema que inventa um novo ritmo, muito popular entre aqueles que nadam contra a corrente: o "não sambo"!
O poema traz várias referências a nomes de bandas, álbuns e músicos brasileiros da década de 1970 (entre eles, Som imaginário; "Um passo a frente", da banda A Bolha ; "Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas", de Rita Lee; "Revolver", de Walter Franco, "Miragem", de Os Lobos; "Jardim elétrico", dos Mutantes; "A divina Comédia ou Ando meio desligado", dos Mutantes, "Loki?", de Arnaldo Baptista, entre outros; além de citações de músicas de Raul Seixas e Roberto Carlos) e cria um antigo ritmo novo, um possível hit para os amigos leitores que fogem do carnaval: o "não sambo"!
Bem-vindos ao não samba desse Carnaval 2013, amigos leitores!
Não sambo
(ou Eu prefiro ser mutante
a sambar cambaleante)
Um som imaginário retoca meus sentidos contra os velhos
micos e mitos,
Me tira da bolha, um passo a frente pra fugir do povo
espremido,
Sambo rock louco, sambo soul concreto, sambo o que sou,
Sambo o que somos, sambo o “não sambo”,
Sambo e não sambo, sambo sem ou, ou, ou!
Os repiques populares são miragens no som nosso de cada dia,
Pois atrás da folia o que se vê são ruínas
De um samba que ninguém sambou, de uma identidade que se
inventou;
O meu carnaval é Loki zombando das marteladas suingadas que
o povo criou,
O meu carnaval é o bloco que ficou em casa e não desfilou.
Eu sambo o inexistente, eu sambo contra o panis et circenses
que se formou,
Eu sambo porque não sambo non sense,
Porque não quero ficar aí parado esperando um disco voador
surgir
Num carro escarrado da Marquês de Sapucaí.
Eu já caí nesse engano e, pra evitar novo tombo, eu sambo o
“não sambo”,
Pois sou do bando de Flicts, sou o que não está exposto no carnaval,
Um rosto perdido na fogueira de vaidades da invenção da
identidade nacional.
Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas
E tu queres desfiles, plumas, fantasias,
Enquanto os revólveres dos francos atiradores da falta de
comida
Apontam seus canos endividados, ameaçando nossos últimos
dias?
Ah, eu que não me perco nesse universo irreal
De maravilhosas cidades, de portos seguros, de diversão
banal,
Pra me entreter na falsidade, no fosso exposto, na
ignorância fatal;
Eu sambo o que não se samba na farsa da avenida,
Minha folia é depois da quarta-feira de cinzas, a alegoria
destruída,
A percepção tortuosa da vida mascarada de mundo real.
Há um jardim elétrico de pessoas amontoadas em torno da bateria
do capital:
Por isso que eu ando meio desligado, por isso eu não sambo
nesse gingado,
Por isso que eu sou mutante, por isso que não estou assim
assado de sambar assim,
Por isso que eu não sambo nesse baile de mascarados;
Não quero me fazer outrem, não quero me iludir!
Eu batuco o difuso, posso parecer confuso, mas se chorei ou
se sorri,
O importante é que não sambei sem saber – o certo é que sou
rei de mim;
O “não sambo” é o não samba que eu fiz
Pra sobreviver na corda bamba desse sambado país.
Maravilhoso!
ResponderExcluirEu não sou muito chegado ao carnaval exatamente por isso...são tantas questões a serem resolvidas,tantas dividas ainda não pagas!!!tantos impostos para se divertir tanto!!!Gosto de samba,mas não do carnaval!!!belo poema...
ResponderExcluirabraço Carlos!!
Muito bem colocadas as referências!
ResponderExcluirCurti a sonoridade do poema sem batucada!