Papa Bento XVI dando tchaul pra galera |
Um dos fatos mais polêmicos deste mês foi a declaração de
renúncia do Papa Bento XVI ao trono do Vaticano, fato que se oficializará
amanhã. Tal acontecimento, inédito no universo católico, gerou discussões
calorosas e, como não podia deixar de ser num país bem humorado como o nosso,
muitas piadas sobre o assunto.
Pensando na música “O papa é pop”, dos Engenheiros do
Hawaii, podemos dizer que Bento XVI não cumpriu corretamente sua missão: além
de trazer um histórico suspeito na época da Alemanha Nazista, a santidade
eleita e futuramente deposta nunca foi muito popular, nem simpática com os
fiéis católicos. Outro fato que não se pode ignorar é o crescimento das igrejas
evangélicas, em detrimento a Igreja Católica, claramente em declínio em
diversos países.
Feministas comemorando a renúncia do Papa Bento X|VI, em Paris (foto retirada do site G1, portal de notícias da Globo) |
Quanto ao fato de tal acontecimento provocar humor,
lembremos que todos os fatos polêmicos e em destaque costumam gerar excelentes
ou péssimas piadas (o humorista Danilo Gentili já afirmara que o trabalho de
fazer o seu próximo rir consiste no arriscar-se; fazer humor é um jogo de erros
e acertos – o que não se pode fazer é não tentar). Há também aqueles que não
entendem a piada; presos em dogmas, querem encarcerar seus próximos na jaula da
cega seriedade sem reflexão. Logo que o fato foi divulgado, Juliana e eu
brincamos com o assunto no facebook, elegendo como candidato à sucessão do Papa
Bento XVI o fodástico poeta valenciano Gilson Gabriel, comunista convicto e
avesso aos dogmas católicos. Tal fato provocou risos pra muitos, censuras de
alguns e mais de 30 comentários que oscilavam entre o bom humor e a heresia (se
bem que, caso você seja agnóstico, não há heresia em tal brincadeira).
Seja como for, o comentário se espalhou, o que inspirou o
poeta Gilson Gabriel a escrever um poema sobre o assunto. Segundo o próprio
poeta, há tempos ele trazia em sua cabeça o verso “Prefiro as papoulas aos
papas”, uma oração extremamente sonora e crítica, enriquecida pelo uso da
figura de linguagem chamada aliteração (que consiste no uso da repetição de
sons em diferentes palavras do mesmo verso – no caso, há a repetição constante
do som do p, principalmente).
Cíbila Farani, Gilson Gabriel e Raquel Leal declamam o poema "Exomungue-me", escrito durante o Sarau Solidões Coletivas In bar 11 |
Durante o Sarau Solidões Coletivas In Bar 11: "Depois
das cinzas, a fênix mutante ressuscita" - Homenagem ao rock e à
contracultura de 1970, realizado no Mineiru's Restaurante, no Jardim de Cima,
em 16/02/13, Gilson Gabriel comentou sobre o fato com as também fodásticas
poetas Raquel Leal e Cíbila Farani. Resultado: durante a realização do próprio
sarau, os três poetas se uniram e fizeram “Excomungue-me”, uma poética declaração poética de apoio à
heresia diante dos dogmas católicos.
Como o blog "Diários de Solidões Coletivas" é um espaço aberto (já publiquei aqui poemas gospels, satanistas, afro-religiosos, ateus e agnósticos), preso apenas ao dogma da liberdade anárquica, hoje deixo para vocês o fodástico poema escrito a seis talentosas mãos, de Gilson Gabriel, Cíbila Farani e Raquel Leal.
Excomunguemo-nos, amigos leitores!
EXCOMUNGUE-ME
Prefiro as papoulas aos papas
Empapuçando as pupilas de cor
Prefiro a dor mortal à frieza congregacional
Prefiro o meu blues ao seu pretenso céu azul
Prefiro a excomunhão consciente
Do que a aceitação incoerente
Prefiro o calor da fogueira
A me tornar uma vazia obreira
Sem sonhos, sem delírios, sem paixão
Sem nuvens prá pisar feito chão.
Prefiro uma tonelada de terra esquecida
A sepultar de vez meu coração.
Prefiro a vida que se apalpe
A boca que me aceite
O corpo que me procrie.
Prefiro a alma que seja gêmea
O amor que seja fato.
Prefiro o talo da flor vivente
Que vibra coloridamente no jardim do meu quintal
À sisudez papal enclausurada,
No palácio do Vaticano, tão rico, tão belo e tão morto.
Prefiro, enfim, o caminho torto
Que me excomunga e me liberta
Prefiro manter a porta sempre aberta
Do que a hipocrisia do ouvido mouco
Sem bíblia, sem doutrina, sem crença
Morrendo pro comum, voltando em paz
Pra minha própria renascença.